Em declarações à agência Lusa, Porfírio Silva, membro da Comissão Permanente do PS e vice-presidente da bancada socialista, colocou-se também contra qualquer solução governativa que envolva os dois maiores partidos portugueses, considerando que retira alternativas políticas ao país e que deve antes ser encarada como um recurso apenas em casos de emergência nacional.
“Obviamente, nós não podemos dizer não nunca, porque pode chegar o momento em que seja preciso uma grande junção, mas defendo que não é bom para o país que as alternativas esquerda e direita se coloquem no mesmo barco. Neste momento, acho que isso não está sequer em discussão”, sustentou, depois de confrontado pela agência Lusa com um cenário de maioria relativa do PS após as eleições legislativas de 30 de janeiro e sobre um eventual acordo de legislatura com o PSD.
Porfírio Silva considerou mesmo desadequado esse debate, apontando que “o PSD ainda nem sequer decidiu o que quer para o país e como se vai apresentar às eleições”.
“Mesmo para quem pudesse pretender qualquer tipo de entendimento com o PSD, não é certamente o momento para o PS aparecer ao PSD como se estivesse a pedir uma coisa que o PSD ainda não disse que queria ou que não queria. De todo em todo, este não é o momento para se estar a falar num pedido a alguém que ainda não decidiu o que quer fazer e que está a discutir internamente se quer isso ou se não quer”, alegou.
Em contrapartida, Porfírio Silva afirmou que acredita que “o caminho da solução governativa à esquerda pode continuar” na próxima legislatura, já que “deu bons frutos, embora precise de outras condições, designadamente de um horizonte de legislatura e de compromissos claros e firmes”.
“Portanto, não parto do princípio de que não sejam possíveis novos entendimentos e novos formatos de entendimentos à esquerda”, frisou, antes deixar críticas duras ao atual comportamento das direções do PCP e do Bloco de Esquerda.
“O que aconteceu agora foi uma surpresa para todo o país. Partidos em que os eleitores votaram nas últimas eleições para que se entendessem e dessem uma resposta ao país deram uma surpresa, dizendo que, afinal, é para acabar com isto”, referiu, numa alusão ao chumbo pelo Bloco de Esquerda, PCP e PEV do Orçamento do Estado para 2022.
Em relação à ideia da coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, de que será possível um acordo à esquerda se o PS possuir um novo líder, Porfírio Silva considerou estar “perante o máximo da falta de respeito”.
“O máximo da falta de respeito entre partidos é haver um partido que tem opiniões sobre quem deve liderar o outro partido. Francamente, nós não somos uma colónia de outro partido, o PS construiu a sua autonomia estratégica na luta pela democracia, na luta pela democracia representativa e na luta por um regime aberto. Não é agora, depois destes anos todos, que alguém coloca em causa a nossa autonomia estratégica”, advertiu o dirigente socialista.
O vice-presidente da bancada socialista disse entender mesmo como “aberrante alguém em outro partido ter ideias sobre quem deve ser o líder do PS”.
Já no que respeita à posição do PCP de que não deseja repetir a “Gerigonça”, nos mesmos termos, na próxima legislatura, Porfírio Silva defendeu que os comunistas, nesta legislatura que agora termina, “tiveram um papel determinante, desta vez negativo”.
“Um papel negativo quando disseram que não volta a haver papel assinado” em termos de solução de Governo, apontou Porfírio Silva, que também criticou o discurso político feito pelos comunistas no presente.
“Hoje ouvi um alto dirigente do PCP a dizer que é preciso avançar mais nas creches gratuitas e nas pensões, mas não faz sentido, porque esse partido inviabilizou que se tivesse concretizado isso desde já – e com calendários bem definidos. É preciso que os portugueses, designadamente os eleitores dos partidos de esquerda, não voltem a ser surpreendidos com coelhos que se tiram da cartola para estragar aquilo que se estava a fazer”, acrescentou.
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