O debate começou com algumas perguntas do moderador Hugo Gilberto sobre as suspeitas relacionadas com a aquisição de um imóvel em Lisboa e outro em Montemor-o-Novo por Pedro Nuno Santos, tornado público ontem pelo jornal Observador.

André Ventura aproveitou a oportunidade para sublinhar: "Podemos ter políticos ricos, não podemos ter políticos que compram imóveis como se fossem rebuçados". Já Rui Rocha foi mais rápido a responder e afastou rapidamente o tema: "É preciso focar nos problemas do país, porque independente desse escrutínio, os problemas do país estão aí e são os mesmos independentemente desses casos".

O debate seguiu para o tema da saúde, onde foram expostas grandes diferenças entre os dois partidos de direita. Por um lado, Ventura refere que "quem tem desistido do SNS é Luís Montenegro" e que para salvar a saúde é necessária a "articulação entre privado e público".

“[Governo] não conseguiu controlar um problema da entrada massiva de imigrantes, [Chega alertou] que ia trazer uma pressão adicional para o SNS”, sublinhou. “Luís Montenegro não fez muito diferente do que fez António Costa”, disse também.

O essencial do debate em 5 pontos

Quem ganhou em termos de presença / clareza?

Definitivamente Rui Rocha. Foi mais claro, soube mostrar mais as suas propostas e não se irritou com o adversário, ao contrário de André Ventura. Além disso, foi capaz de clarificar que nunca seria capaz de entrar num governo com o Chega.

Houve frases/momentos que se vão tornar virais? Quais?

Não houve frases que fiquem para a história, mas a selecionar uma de cada protagonista poderiam ser estas:

André Ventura: “O Rui Rocha só se preocupa com o Príncipe Real, não com o país real”;

Rui Rocha: [Custo das medidas do Chega] "seria uma bancarrota".

Que temas dominaram (e quais ficaram de fora)?

Sobretudo a imigração e saúde. Ficou de fora a educação, a política fiscal e a defesa, que são importantes para o eleitorado de direita.

Quem esteve mais à vontade e quem esteve mais pressionado?

Estiveram ambos bastante à vontade e confortáveis com as suas propostas.

Que impacto pode ter nas sondagens?

Talvez Rui Rocha tenha conseguido clarificar que está distante de André Ventura nas ideias e assim obter mais votos junto do eleitorado que vota à direita e está indeciso entre a Iniciativa Liberal e outras opções que excluem o Chega de uma solução de governo.

Já o liberal defende um “modelo mínimo de seguro privado” que é “bismarckiano” e adaptado à realidade portuguesa.

Sobre imigração, Rui Rocha sublinhou que seja “com regras e dignidade”. Para o líder da IL, “quem tem trabalho entra, quem cumpre a lei fica.” Sublinha ainda que deve haver uma “adequação direta entre necessidades da economia e a entrada das pessoas”.

Sobre a nacionalidade, Rui Rocha quer “que as pessoas entrem, mas queremos alinhar com a Europa no sentido de alargar o tempo para adquirir a nacionalidade”, e recorda que em Itália são dez anos (em Portugal são cinco).

IL "ao lado do PS"

O tema continua na imigração, com André Ventura a sublinhar que “a IL foi contra as quotas na imigração”.

“Há necessidade [de imigração], mas com quotas”, refere. Acusa depois Rui Rocha de ter uma proposta "que mais nenhum partido tem: que o Presidente da República possa ter dupla-nacionalidade".

Rui Rocha salienta que é “condenável que alguém que não trabalha no país, se venha aproveitar no SNS em turismo de saúde”, mas que outra questão “são as pessoas que estão cá a trabalhar e que só não estão legalizados porque o Estado falhou a essas pessoas”.

Sobre as quotas para a imigração, Rocha fala em “dirigismo de André Ventura, com o Estado a meter-se no que é simples”.

Ventura responde que líder da IL diz que defende necessidade de contrato de trabalho: “Qualquer máfia do Bangladesh faz um contrato de trabalho”.

Questionado sobre as “forças vivas do PSD”, referidas na última campanha eleitoral, André Ventura explica a sua visão sobre o day after: “Há três partidos acima dos 20% e as pessoas ou voltam a dar maioria histórica à direita ou à esquerda. E com a direita nem estou a incluir muito o PSD, porque deixou de ser um partido de direita, e estou a incluir a IL… se existir, acho que só não governamos se não quisermos”.

“Podemos ganhar, quero ganhar à direita”, reitera. E desafia: “Conto com Rui Rocha e com a IL”.

"Chega derrubou Governo de centro-direita"

Rui Rocha responde que “nunca, jamais, em tempo algum a IL viabilizará qualquer Governo do PS”. Mas diz que é preciso “fazer a avaliação do que foi a ação do Chega nesta legislatura, que teve uma deriva socialista: votou contra a privatização da TAP”.

Diz ainda que o Chega foi o que votou mais vezes a favor de propostas do Livre e do BE. E critica André Ventura por ter chumbado a moção de confiança: “Derrubou um Governo de centro-direita”. Assim, não “não há entendimento possível com o Chega”, sendo que as promessas de Ventura custam mais de 18 mil milhões. "Seria uma bancarrota".

O debate segue depois para uma discussão com várias acusações do Chega a Rocha sobre as propostas que os dividem na economia, e finalmente Ventura diz: "Rui Rocha só se preocupa com o Príncipe Real, não com o país real", e acrescenta que este não sabe o preço dos ovos e da carne.

Rocha responde imediatamente com: "Dois euros!", mesmo antes de Ventura obter esta informação através de um papel.

O debate termina a falar sobre tarifas e André Ventura traz novamente o tema da proximidade da Iniciativa Liberal à doutrina de Javier Milei. Já Rui Rocha defende-se com a proximidade do Chega a Trump: “As tarifas são impostos, que é o que André Ventura defende”.

Síntese do debate:

Ética e Corrupção

Não foi tema do debate, a não ser na breve referência inicial ao caso de Pedro Nuno Santos conhecido ontem. André Ventura ainda falou brevemente sobre o tema, mas Rui Rocha afastou a questão.

Gestão da Saúde

Ao contrário de outros debates, foi uma questão bastante abordada por ambos os líderes partidários, com divergências claras na forma como gostariam de gerir a saúde nacional. Se por um lado Rui Rocha defende um “modelo mínimo de seguro privado”, André Ventura quer “articulação entre privado e público”.

Rui Rocha salientou também que é “condenável que alguém que não trabalha no país se venha aproveitar no SNS em turismo de saúde”.

Política Fiscal

Num debate entre duas ideologias que tanto falam de reformular a economia e a fiscalidade, foi um tema totalmente afastado do confronto.

Segurança e Defesa

Outro tema que também nunca esteve dentro do debate, nem mesmo quando se falou de imigração.

Imigração

Sem dúvida um dos temas mais discutidos e com versões bastante diferentes entre os dois partidos. Foi aqui que foi notada a maior divergência entre ambos. André Ventura diz que a IL defende a necessidade de contrato de trabalho, contrapondo com: “Qualquer máfia do Bangladesh faz um contrato de trabalho”.

Rui Rocha sublinha que existem "pessoas que estão cá a trabalhar e que só não estão legalizadas porque o Estado falhou a essas pessoas".

Habitação

Não foi tema deste debate.

Tarifas

É o tema com que acaba o debate, claramente em oposição de doutrinas, mas sem grandes novidades ou com medidas apresentadas.