A investida da polícia federal terá sido motivada pelos documentos que Donald Trump levou consigo quando deixou a Casa Branca, em janeiro de 2021? Ou terá acontecido no âmbito de uma investigação sobre a sua alegada responsabilidade na invasão ao Capitólio? Ou será que versam as suspeitas de fraude que pesam sobre ao Organização Trump em Nova Iorque?
Nunca um ex-inquilino da Casa Branca teve tantos problemas com a Justiça.
A AFP entrou em contato com o FBI, que não se quis se pronunciar.
Donald Trump declara-se inocente de cada uma destas acusações e diz-se alvo de uma caça às bruxas.
Através de uma nota, denunciou a incursão do FBI na sua mansão na Flórida, onde não se encontrava no momento. “Estes são dias sombrios para a nossa nação, a minha bela casa, Mar-a-Lago em Palm Beach, Florida, está sitiada e foi invadida e ocupada por numerosos agentes do FBI”, disse Trump, afirmando ser vítima de “perseguição política”.
"Ninguém está acima da lei", "nem mesmo um ex-presidente dos Estados Unidos", disse esta terça-feira a presidente democrata da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, à NBC. Como a maioria dos democratas, Pelosi está há anos a pedir que o magnata preste contas.
Mas a escalada judicial parece ter unido ainda mais o Partido Republicano em torno de Trump, a ponto de elevá-lo à condição de mártir.
Apoiantes do ex-presidente reuniram-se em frente à luxuosa casa em Mar-a-Lago para manifestar a sua indignação. Nas redes sociais, simpatizantes defendiam um "divórcio" num país que já tem divisões tão profundas.
"Esse é o tipo de coisa que acontece em países em guerra civil", escreveu Marjorie Taylor Greene, congressista da Geórgia que pediu o desmantelamento do FBI. "A perseguição política DEVE PARAR!!!"
Existe a possibilidade de os republicanos poderem recuperar o controlo do Congresso nas eleições legislativas de meio de mandato em novembro.
Trampolim para 2024?
O líder dos conservadores na Câmara, Kevin McCarthy, denunciou uma "instrumentalização intolerável com fins políticos" do Departamento de Justiça e prometeu uma investigação sobre o seu funcionamento quando os republicanos regressarem ao poder.
Pence, cuja reação foi das mais tardias, considerou que os “atos de ontem [segunda-feira] minam a confiança do público no sistema judicial”.
Recorde-se que Pence e Trump distanciaram-se depois do vice-presente ter recusado opor-se à certificação da vitória de Joe Biden na eleição presidencial de 2020, apesar dos pedidos de Trump. A dupla pode, no entanto, disputar a nomeação republicana para a candidatura às presidenciais em 2024.
Por sua vez, a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, negou categoricamente que o presidente Joe Biden tenha sido informado com antecedência sobre a entrada na mansão de Trump.
"O presidente Biden foi muito claro, antes de ser eleito e desde o início de seu mandato, sobre o facto de o Departamento de Justiça conduzir as suas investigações de forma independente. Biden acredita no Estado de Direito", declarou.
Trump, que pode anunciar a sua candidatura a um novo mandato a qualquer momento, aproveitou a oportunidade para pedir mais doações aos seus apoiantes.
"Não foi apenas uma casa que foi atacada, é a casa de cada um dos americanos pelos quais lutei", lamentou o ex-presidente num e-mail para apoiantes, sugerindo doações dos 5 aos 50 mi dólares para enfrentar esta "caça às bruxas".
Esta terça-feira, no dia seguinte às buscas em Mar-a-Lago, um tribunal autorizou uma comissão da Câmara dos Representantes a aceder às declarações fiscais de Trump.
Esta decisão chega um ano depois de o Supremo Tribunal de Justiça dos EUA ter ordenado a Trump que entregasse as suas declarações de impostos a um procurador que investigava as suas finanças em Nova Iorque.
Trump foi o primeiro presidente dos EUA desde Gerald Ford (1974-1977) a não divulgar anualmente a sua declaração de impostos, uma tradição que os seus antecessores consideravam parte do seu dever de transparência e prestação de contas à população.
Com 76 anos, Donald Trump poderá candidatar-se à Casa Branca pelo Partido Republicano em 2024, depois de ter perdido a reeleição para um segundo mandato para Joe Biden, em 2020, resultado que nunca aceitou.
Trump tem sido alvo de várias suspeitas desde que deixou a Casa Branca e uma comissão parlamentar está a tentar esclarecer o papel que desempenhou no assalto ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021.
Nesse dia, centenas dos seus apoiantes causaram violência e caos no interior do edifício do Congresso, em Washington, atrasando a certificação da vitória presidencial de Joe Biden.
O Departamento de Justiça está a investigar o ataque, mas não apresentou queixa contra o ex-presidente.
* Por Camille CAMDESSUS et Chris LEFKOW / AFP; Com Lusa
Comentários