Contactar fornecedores, improvisar ementas e aumentar espaços de esplanadas têm sido algumas das tarefas a que se têm dedicado nos últimos dias os comerciantes do Bairro Azul, situado a poucos metros do Parque Eduardo VII, um dos palcos da JMJ.
É o caso de Rita Glória, proprietária de um restaurante, que, ouvida pela agência Lusa, disse estar a fazer alterações no estabelecimento e na ementa para ir ao encontro das necessidades e do gosto dos peregrinos que veem a Lisboa participar no evento católico.
“Estamos a preparar mais lugares de esplanada, a preparar os ‘brunches’ mais internacionais. Mesmo a comida, a vertente mais vegetariana, por exemplo, pois sabemos que há muitos grupos que veem que são vegetarianos. Estamos também a tentar incorporar alguns pratos mais fáceis e mais rápidos”, contou.
Mostrando-se entusiasmada, a comerciante assegurou não temer a “invasão” de jovens, que se verificará naquela zona sobretudo nos dias 01, 03 e 04 de agosto, uma vez que “já está acostumada à confusão”.
“Nós não nos assustamos com gente. Nós assustámo-nos é com a falta de gente. Portanto, espero que andem muito a pé, que passeiem e que, ao passar, venham almoçar ou, ao final do dia, beber um copo”, desejou.
Uns metros à frente, Maria Antónia Moura, proprietária de um salão de chá, disse à Lusa que não irá fazer qualquer alteração ao menu que dispõe, tencionando apenas reforçar o ‘stock’ de águas.
“Eu vou ter o normal. Vou é abastecer-me de águas, porque já sei que será água, água, água, mas não vou alterar em nada aquilo que eu tenho, na minha dimensão e na minha oferta. Não há paciência, acabou”, atestou.
No entanto, apesar de mostrar otimismo e entusiasmo pela realização do evento naquela zona, a comerciante, que também integra a direção da comissão de moradores do Bairro Azul, confessou que vários vizinhos pretendem sair de Lisboa durante a JMJ, “para fugir à confusão”.
“Alguns já disseram que, até aproveitando o mês de agosto, antecipam as férias e vão-se embora. Amigos que até vivem ali no Alto do Parque também já disseram que nessa altura não vão cá estar. Que vão embora. Isto tem a ver com experiências passadas”, justificou.
Do outro lado do Parque Eduardo VII, já perto da Avenida da Liberdade, encontram-se sobretudo lojas de roupa e de acessórios de moda e aqui, alguns dos comerciantes que aceitaram falar com a Lusa disseram estar com um misto de otimismo e de preocupação, sobretudo devido aos condicionamentos rodoviários previstos.
“A minha expectativa é ter muitos clientes. O problema é o que nós ouvimos dizer, que não é concreto. Há pouco tempo ouvimos que não haveria metro no Marquês, no Saldanha e na Fontes Pereira de Melo. Depois, os constrangimentos dos automóveis. Aí é que nos assustámos um bocado”, confessou Paula Serrador, proprietária de uma loja de acessórios na Rua Alexandre Herculano.
Apesar das dúvidas e dos receios, a comerciante assegurou estar “entusiasmada”, estando já a preparar alguns acessórios que poderão “ser muito úteis” a quem participar na JMJ.
“O que nós pensámos mais foi nos sapatos confortáveis que nós temos, mochilas, chapéus para o sol. São coisas que até na altura, quando soubemos, comprámos. Nós, por acaso, temos um sapato que chamámos mesmo de Jornada”, brincou.
Menos otimista está Sofia Duarte, proprietária de uma loja de roupa também localizada na Rua Alexandre Herculano, que disse ter ainda dúvidas se terá ou não o estabelecimento aberto durante a Jornada Mundial da Juventude.
“Eu penso que não vamos ter assim grande movimento porque a Avenida da Liberdade vai estar cortada ao trânsito. Portanto, estamos à espera de ver o que se vai passar com o resto das lojas para depois sabermos se havemos de fechar, se podemos estar abertos”, explicou.
As dúvidas dos comerciantes a duas semanas do evento são compreendidas pela presidente da União de Associações do Comércio e Serviços (UACS) de Lisboa, Carla Salsinha, que disse à Lusa estar a tentar prestar todos os esclarecimentos aos seus associados.
“Essas são as dúvidas dos empresários. Se têm de fechar as portas, se não podem estar abertos, como são as cargas e descargas. Isso é uma preocupação e essas têm sido as grandes dúvidas”, explicou, sublinhando a necessidade de se passar uma mensagem de “tranquilidade e de mobilização”.
Lisboa foi a cidade escolhida pelo Papa Francisco para a próxima edição da Jornada Mundial da Juventude, que vai decorrer entre os dias 01 e 06 de agosto deste ano, com as principais cerimónias a terem lugar no Parque Eduardo VII e no Parque Tejo, a norte do Parque das Nações, na margem ribeirinha do Tejo, em terrenos dos concelhos de Lisboa e Loures.
As principais artérias do centro de Lisboa vão estar fechadas ao trânsito nos dias 01, 03 e 04 de agosto devido à Jornada Mundial da Juventude, segundo o Plano de Mobilidade e Segurança desenhado para o evento.
Os constrangimentos vão verificar-se sobretudo entre o Parque Eduardo VII e o Terreiro do Paço, abrangendo vias como a Avenida da Liberdade, Avenida Infante D. Henrique, Avenida Fontes Pereira de Melo, Rua do Carmo, Rua Castilho, Rua da Prata e as praças dos Restauradores e do Rossio.
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