Em comunicado enviado hoje à Lusa, em Luanda, a empresária, que cessou funções como presidente do conselho de administração da petrolífera, após a exoneração decidida pelo chefe de Estado, João Lourenço, na quarta-feira, recorda que a dívida financeira do grupo estatal, quando iniciou funções em junho de 2016, era de 13.000 milhões de dólares (11.000 milhões de euros), cifrando-se atualmente em 7.000 milhões de dólares (5.950 milhões de euros).
"Deixamos ainda à nova administração, como instrumento essencial para a sua gestão, um financiamento no valor de 2b$ [2.000 milhões de dólares], com assinatura prevista para os próximos dias, que garantirá o pagamento de todos os 'cash calls' relativos a 2017, permitindo, assim, chegar ao final do ano sem dívidas aos nossos parceiros", lê-se no comunicado.
A administração cessante, afirma, "garante ao Executivo, as condições financeiras necessárias para a manutenção patrimonial da Sonangol, abrindo garantias de continuidade e de crescimento para o futuro".
Os 'cash calls' são pedidos de fundos que as petrolíferas fazem, para realizar os investimentos, e Isabel dos Santos recorda, no mesmo comunicado, que, em dezembro de 2015, a Sonangol, "pela primeira vez na sua história não tinha conseguido cumprir com as suas obrigações junto da Banca", além de ter "dívidas com os fornecedores e pesadas 'cash calls'".
"Em junho de 2016 a petrolífera encontrava-se num estado de emergência e conforme referia o Dr. Francisco Lemos, então presidente do conselho de administração, esta empresa nacional encontrava-se numa situação de pré-falência", recorda, para a seguir garantir que, já na sua administração os 'cash calls' de 2016 foram pagos "na totalidade".
Na hora da saída, a empresária, nomeada para o cargo, em junho de 2016 pelo pai e então chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos, ressalva outros indicadores que afirma resultarem do "compromisso e do esforço colectivo assumido nesta situação crítica", no período em que liderou a Sonangol.
Como as receitas, que subiram de 14,8 mil milhões de dólares (12,5 mil milhões de euros) em 2016 para 15,6 mil milhões de dólares (13,2 mil milhões de euros) em 2017, o aumento da produção na refinaria de Luanda de 50.000 para 60.000 barris de produtos refinados por dia, ou ainda, refere, o facto de a petrolífera produzir todo o jet fuel, combustível para aviões, "necessário para Angola" e que também já é exportado.
Além disso, refere que foram identificadas 400 iniciativas de redução de custos, no valor de 1.400 milhões de dólares (1,1 mil milhões de euros), dos quais 380 milhões de dólares (323 milhões de euros) "já foram efetivadas", estando em curso iniciativas que "irão permitir uma poupança de 784 milhões de dólares [666 milhões de euros]".
Isabel dos Santos acrescenta que foi possível reduzir o custo da produção de petróleo no país de 14 para sete dólares por barril e que a produção de gás aumentou em 238%, pelo que hoje "Angola produz todo o gás butano que precisa" e exporta.
Apesar das dificuldades financeiras, a empresária enfatiza: "não despedimos pessoas" e que "foram promovidos 400 quadros angolanos" da Sonangol.
Na componente da Pesquisa e Produção - a subsidiária Sonangol Pesquisa e Produção, foi liderada até dezembro de 2016 por Carlos Saturnino, hoje empossado como presidente do grupo, substituindo Isabel dos Santos - a empresária refere que havia um resultado operacional negativo de 859 milhões de dólares (730 milhões de euros).
"Em 2017 haverá um resultado operacional positivo de 100 milhões USD [85 milhões de euros]", refere o comunicado de Isabel dos Santos, que recorda que em junho de 2017 o grupo tinha a receber, de empresas estatais, 3.000 milhões de dólares (2.550 milhões de euros).
"A Sonangol não é uma empresa como as outras; é a coluna vertebral da economia nacional e o garante do futuro dos nossos filhos. Sinto-me privilegiada por ter contribuído para a reforma e melhorias desta grande empresa", assume.
Recorda ainda que muitos dos administradores que a acompanharam "aceitaram suspender carreiras de sucesso profissional nas mais prestigiadas empresas petrolíferas internacionais para trabalharem na recuperação da Sonangol", numa "situação reconhecida como de extrema fragilidade".
"Congratulo o novo executivo pelo desejo de progresso, transparência e eficácia na gestão do bem público. Os mesmos valores mantêm-se no centro da cultura empresarial que a administração cessante implementou na Sonangol, garantindo, assim, o futuro da nossa empresa", concluiu a empresária.
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