
Sines e Covilhã. São estes os dois nomes que colocam Portugal no mapa europeu dos data centers. Distantes geograficamente, os projetos partilham o propósito: pôr o país na linha da frente da transformação tecnológica.
O Sines Data Center Campus acaba de inaugurar o seu primeiro edifício. Com 26 megawatts (MW) de capacidade, ultrapassou de imediato o centro da Covilhã como o maior de Portugal. A ambição não fica por aqui: quer tornar-se o maior da Europa.
A Start Campus, dona do projeto, não tem medo de números grandes. O investimento inicial é de 8,5 mil milhões de euros, totalmente privados. Os donos são a norte-americana Davidson Kempner Capital Management e a britânica Pioneer Point Partners.
“Portugal continua a atrair investimento estrangeiro. O país é muito atrativo para clientes de IA e de cloud”, afirmou o CEO da Start Campus, Robert Dunn, citado pelo Jornal Económico na cerimónia de inauguração.
Os números astronómicos de Sines
Quando estiver concluído, em 2030, o campus de Sines terá seis edifícios e uma capacidade de 1,2 gigawatts. Mas há outro número que impressiona ainda mais: 30 mil milhões de euros. É este o valor adicional que a Start Campus espera atrair com a chegada de clientes, segundo Douglas A. Koneff, da Embaixada dos EUA em Portugal, durante a inauguração.
“Estamos a falar de um investimento extraordinário de 30 mil milhões de euros até 2030”, afirmou Koneff, citado pelo Jornal de Negócios. “Os hyperscalers [centros de dados com grande escala] trazem as melhores tecnologias para Portugal, gerando milhares de empregos qualificados.”
Ainda de acordo com o jornal, Robert Dunn confirmou a estimativa: é ”uma referência ao investimento adicional que os clientes possam trazer quando instalarem os seus servidores, GPUs e o seu equipamento. Aí pode atingir os 30 mil milhões até 2030. É fazível.”
Os centros de dados de grande escala, conhecidos como hyperscalers, são grandes infraestruturas tecnológicas que suportam as operações dos gigantes digitais globais.
Empresas como Microsoft, Google, Amazon Web Services, Meta e Oracle, por exemplo, precisam destas instalações para processar os volumes enormes de dados exigidos pelos seus serviços de cloud computing, streaming, inteligência artificial e análise de big data. Estas infraestruturas tornaram-se ainda mais críticas com a explosão das aplicações de IA generativa, que requerem uma grande capacidade computacional.
Se tudo correr como previsto, em 2030, já com os outros cinco edifícios a operar, o data center de Sines será o maior do setor na Europa.
O pioneiro da Covilhã
Antes de Sines, houve a Covilhã. O data center da Altice foi inaugurado em 2013 como um dos maiores do mundo. Zeinal Bava, então CEO da Portugal Telecom, apostou forte no projeto: 100 milhões de euros.
A escolha da Covilhã não foi ao acaso. A McKinsey analisou 26 localizações e recomendou a cidade serrana pelo clima frio e baixo risco sísmico. Sines nem estava na lista — a central a carvão, agora desativada, pesou contra, diz o Expresso.
O projeto foi pensado para ser em grande. A Portugal Telecom planeou quatro blocos com mais de 12 mil metros quadrados disponíveis para albergar dados de grandes empresas portuguesas e multinacionais como a Microsoft, bem como do Estado português. Ainda assim, até à data, apenas um dos quatro blocos foi construído.
No entanto, o centro de processamento de dados conta com 20 megawatts de capacidade, conta com 671 servidores e é alimentado a 100% por fontes de energia renovável, de acordo com a Altice.
Para arrefecer os supercomputadores, foi construído um espelho de água, estratégia que também ajuda a reduzir os custos energéticos. O projeto contou com 17,5 milhões de euros de fundos comunitários, ao contrário do de Sines, totalmente financiado por capital privado.
“Este data center vem reforçar a capacidade do país enquanto polo de exportação de capacidade de armazenamento de dados de empresas e de serviços tecnológicos”, refere o site da empresa.
Atualmente, escreve o Jornal Económico, o data center da Covilhã está à venda. O jornal indica que o valor base supera os 100 milhões e aproxima-se dos 200 milhões de euros.
Quantos data centers há em Portugal?
Atualmente, o país tem mais de 30 centros de dados, a maioria em Lisboa e no Porto, que representam 67% do mercado nacional. Segundo dados da JLL, os operadores dominantes em Portugal são a Altice e a Claranet, cada um com 15% de quota de mercado, seguidos pela NOS e a REN Telecom, ambas com 12% cada.
E há mais a caminho: A Atlas Edge está a construir um data center em Carnaxide, Lisboa, com uma capacidade inicial de 20 MW, alimentado exclusivamente por energia renovável e desenhado para não desperdiçar água. Já a Merlin Properties obteve licença para um complexo em Vila Franca de Xira, perto de Lisboa, com 24 MW de potência inicial e possibilidade de expansão até aos 100 MW, indica a consultora.
De acordo com dados da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) recolhidos pelo Expresso, Portugal poderá captar 10 mil milhões de euros de investimento em centros de dados, dos quais 5,8 mil milhões estão já em execução ou planeados.
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