O estudo do Iscte indica que a deterioração das condições económicas foi “um dos maiores fatores de insegurança” entre os imigrantes, “aumentando a exposição ao risco de contaminação e o medo constante de adoecer sem poder arcar com despesas ou proteger as respetivas famílias”. O medo e a incerteza foram acompanhados de “um sentimento de desamparo, especialmente entre aqueles que enfrentavam dificuldades para ter acesso a recursos de proteção social e de saúde mental”.

Associações que disponibilizam apoio a migrantes:

JRS Portugal — O gabinete jurídico "tem como objetivo assessorar juridicamente os utentes no seu processo de regularização, bem como emitir pareceres e orientações técnicas internas em matérias de Lei de Estrangeiros, Lei de Asilo e legislação acessória". Saiba mais aqui.

Renovar a Mouraria — Centrada na freguesia de Santa Maria Maior, em Lisboa, esta associação ajuda com os processos de regularização de quem "vive, trabalha, estuda ou tem filhos que estudam" naquela zona. Conheça o projeto aqui.

Lisbon Project — Este projeto tem como objetivo "construir uma comunidade que integra e capacita migrantes e refugiados". Nesse sentido, tem também disponível um gabinete de apoio jurídico. Fique a par de tudo aqui.

Mundo Feliz — Esta associação ajuda os imigrantes no processo de regularização em Portugal e também na procura de emprego, entre outros serviços. Saiba mais aqui.

Linha de Apoio ao Migrante — Esta linha "tem como principal objetivo responder de forma imediata às questões mais frequentes dos migrantes, disponibilizando telefonicamente toda a informação disponível na área das migrações e encaminhando as chamadas para os serviços competentes". Contactos: 808 257 257 / 218 106 191. Mais informações aqui.

"Enquanto muitos cidadãos conseguiram proteger-se em casa, outros – principalmente os imigrantes em empregos essenciais – continuaram expostos por não terem escolha, uma vez que dependiam do trabalho para sobreviver", afirma Violeta Alarcão, socióloga, investigadora do Iscte e coordenadora do estudo, alertando para a responsabilidade do Estado em proteger todos os cidadãos. "É uma desigualdade que precisa de respostas adequadas".

No estudo foram entrevistados alguns imigrantes e um cidadão brasileiro relatou como a pandemia expôs desigualdades em diversos contextos de trabalho. “O confinamento foi para alguns, mas não para todos”, afirma. “Mesmo com os riscos, muitos imigrantes não puderam parar, uma vez que dependiam do trabalho para sobreviver – e muitos acabaram infetados”. Este imigrante destaca também as adversidades diárias associadas às suas próprias múltiplas identidades: “É difícil lidar com os desafios de ser imigrante, brasileiro, negro, LGBTIA+”, afirma. “Cada uma destas identidades traz obstáculos acrescidos”.

Os resultados do estudo Equals4COVID19 serão apresentados a 19 de novembro, em Lisboa, às 14:30, na mesa-redonda “Equidade em saúde: desafios e soluções para a saúde mental pós-COVID-19 em comunidades imigrantes” da 3.ª Conferência SocioDigital Lab for Public Policy, este ano dedicada ao tema “Novas Fronteiras na Saúde: contributos para as políticas públicas”.

Mulheres foram as mais impactadas

O estudo indica que as mulheres imigrantes estiveram particularmente vulneráveis, apresentando sintomas elevados de depressão e sofrimento psicológico. “A dupla condição de ser mulher e imigrante ampliou o impacto emocional da pandemia, tendo a perceção direta da discriminação agravado as vivências neste contexto”, afirma Violeta Alarcão.

Os resultados indicam que muitas imigrantes relataram que os episódios de discriminação aumentaram ao longo da pandemia, com impactos severos no bem-estar emocional. “A perceção de discriminação foi associada a sintomas mais graves de ansiedade e stress, gerando uma espiral de vulnerabilidade”, afirma a docente do Iscte. “Estas experiências mostram que, para construir uma sociedade verdadeiramente inclusiva, precisamos de um sistema de proteção social mais robusto e com políticas de saúde mental que não deixem ninguém para trás”, conclui.