O presidente eleito dos Estados Unidos considerou antes do Natal que controlar a Gronelândia era "necessidade absoluta" para a "segurança nacional e a liberdade no mundo", e não descartou o uso da força para a conquistar.
As declarações provocaram medo tanto neste território, quanto na Dinamarca, assim como noutros países da União Europeia.
De imperialismo a invasão, o discurso expansionista de Trump já foi apelidado de tudo, e o chanceler alemão chegou a ressaltar que "as fronteiras não podem ser deslocadas pela força".
Segundo o historiador e professor em Yale, Timothy Snyder, "mesmo que não possamos ter a certeza sobre o que Trump tem em mente, temos de levar a sério as consequências das suas declarações".
Num artigo recente publicado no seu substack, o historiador alerta para a banalização da ideia de que nem os Estados são soberanos, nem as fronteiras invioláveis. E, por isso, acredita que estas afirmações tornam "as actuais guerras russas mais fáceis e futuras guerras chinesas mais prováveis". Isto porque Trump repete "argumentos que Putin tem defendido há mais de uma década: as fronteiras não são reais; as pessoas do outro lado das fronteiras querem ser governadas por nós; a lei não se aplica às grandes potência".
Mas se por um lado acredita que isto facilita o imperialismo russo e chinês, por outro não sabe se "Trump está, consciente ou inconscientemente, a fazer trabalho de comunicação para Putin e Xi." Arrisca que o Presidente "sabe exatamente o que está fazendo. Ele está adotando uma política de lutar com amigos e capacitar inimigos."
Embora Trump não tenha mencionado a Gronelândia no seu discurso de posse na segunda-feira, foi questionado sobre o assunto por repórteres na Sala Oval mais tarde.
"A Gronelândia é um lugar maravilhoso, precisamos dela por motivos de segurança internacional", respondeu o republicano.
"Tenho certeza de que a Dinamarca está de acordo: Está a custar-lhes muito dinheiro mantê-la", adicionou.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen, respondeu que nenhum país deveria ser capaz de simplesmente apropriar-se de outro.
"Não é possível que certos países, se forem grandes o suficiente e não importa como se chamem, possam simplesmente tomar o que quiserem", afirmou Lokke à imprensa.
Mas afinal porque é que a Gronelândia está a ser tão cobiçada?
Mais perto de Nova Iorque
A Gronelândia é um território autónomo, mas as questões de justiça, política monetária, política externa, defesa e segurança dependem da Dinamarca.
A capital da ilha está mais perto de Nova Iorque do que de Copenhaga, e o território faz parte da zona de interesse dos Estados Unidos, afirmou à AFP Astrid Andersen, historiadora do Instituto Dinamarquês de Estudos Internacionais.
"Durante a guerra, quando a Dinamarca foi ocupada pela Alemanha, os Estados Unidos apoderaram-se da Gronelândia. De certa forma, nunca saíram", explicou.
Os Estados Unidos possuem uma base ativa no noroeste da ilha, em Pituffik. O território é, assim, a trajetória mais curta para disparar mísseis em direção à Rússia.
Washington queixa-se "legitimamente da falta de vigilância do espaço aéreo e das zonas submarinas a leste da Gronelândia", afirmou o cientista político Ulrik Pram Gad, do mesmo instituto de Andersen.
Num momento em que o degelo permite novas rotas marítimas, "o problema é legítimo, mas Trump está a usar termos exagerados", opinou.
O republicano já tinha dito que queria comprar o território durante o seu primeiro mandato, em 2019. As declarações foram rejeitadas pela Dinamarca e pelas autoridades locais.
Recursos minerais
Desde 2009, são os próprios gronelandeses que decidem que uso dar às suas matérias-primas. Mas o acesso aos recursos minerais da ilha é considerado vital para os Estados Unidos, que assinaram um memorando de cooperação neste setor em 2019.
Os europeus seguiram o exemplo quatro anos depois com seu próprio acordo de colaboração. A União Europeia identificou 25 dos 34 minerais da lista oficial de matérias-primas fundamentais na região, incluindo as terras raras.
O setor de mineração, no entanto, é inexistente. Há apenas duas minas ativas na Gronelândia, uma de rubis, que procura novos investimentos, e outra de anortosito, um metal que contém titânio.
"Os atores [internacionais] estão cada vez mais conscientes da necessidade de diversificar as suas fontes de fornecimento, sobretudo no que se refere à dependência da China de terras raras", destacou Ditte Brasso Sørensen, especialista em geopolítica e diretora adjunta do grupo de reflexão Europa.
A isso soma-se o receio de que Pequim se aproprie dos recursos minerais, acrescentou.
Dependência financeira
A Gronelândia procura emancipar-se da Dinamarca, embora dependa de uma subvenção de Copenhaga que representa um quinto do seu PIB, além da pesca.
Muitas esperanças estão depositadas na abertura, em novembro, de um aeroporto internacional em Nuuk, a capital, que deve contribuir para o desenvolvimento do turismo.
O tema das infraestruturas é fundamental tanto para o turismo quanto para a mineração.
Mas Sørensen destaca as dificuldades locais dessa atividade: "condições climáticas muito rigorosas, um ambiente protegido e muitos custos devido à necessidade de desenvolver infraestruturas físicas e digitais".
A oposição da população à extração de urânio no sul da Gronelândia levou à criação de uma legislação que proíbe a exploração de produtos radioativos.
Outro recurso potencial a ser explorado é o petróleo, mas o projeto se encontra paralisado.
Mostrar mais poder que Musk
Há um outro motivo avançado pelo já referido historiador americano, a luta silenciosa de poder entre Trump e Musk. E Timothy Snyder sugere que se Trump quer mostrar que é quem está ao leme, tem que "parecer mais estranho do que Elon Musk". E, por isso, depois de Musk dizer que a Alemanha só podia ser salva pela extrema direita, e de pedir a dissolução do governo britânico, Trump não só concorda, como vai mais longe. "Apoia pessoas na Europa com quem se pode contar para se oporem às alianças com os Estados Unidos, para destruírem a União Europeia e para tornarem a vida muito mais fácil a Pequim e Moscovo".
O historiador acredita que se Musk tem de facto o desejo de intervir no destino da política internacional, "o imperialismo retórico de Trump pode existir para desviar a atenção do imperialismo real de Musk". E que as afirmações de Trump podem estar a ser orquestradas pelo magnata da tecnologia.
Como reagiu a Dinamarca? E a Gronelândia?
A primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, reuniu os líderes partidários do seu país para os informar das "medidas adotadas" após as declarações de Donald Trump, sobre anexar a Gronelândia, que causaram surpresa e ceticismo entre dirigentes europeus.
Desde o fim de 2024 que o republicano tem reiterado as suas intenções expansionistas, assegurando que o controlo da Gronelândia é "uma necessidade absoluta" para "a segurança nacional" dos Estados Unidos e "a liberdade em todo o mundo".
Neste contexto, a primeira-ministra dinamarquesa decidiu reunir os líderes dos partidos representados no Parlamento do país.
"Propusemos uma conversa entre nós. Não acredito que algo concreto aconteça até que o presidente eleito tome posse", disse Frederiksen no fim desta reunião de duas horas, da qual poucos detalhes foram divulgados.
"Reunirmos-nos com os líderes partidários permite partilhar as medidas que o governo adotou nos últimos dias", disse a jornalistas o ministro dos Negócios Estrangeiros, Lars Løkke Rasmussen.
A primeira-ministra reiterou que não acredita que Trump tentará anexar o território pela força. "Não temos motivos para acreditar que isso vai acontecer", disse.
"Acredito que é preciso levar Trump muito a sério, mas não necessariamente à letra", disse antes da reunião o ministro dos Negócios Estrangeiros, Lars Løkke Rasmussen.
O governo do território autónomo reafirmou, portanto, a vontade de controlar o próprio destino, ao mesmo tempo em que permanece próximo do seu aliado americano.
"A Gronelândia pertence ao povo da Gronelândia e só o seu povo decide o desenvolvimento e o futuro da Gronelândia", insistiu o governo.
O primeiro-ministro gronelandês, Mute Egede, disse que o território estava a "entrar numa nova era, num novo ano, onde a Gronelândia está no centro do mundo".
A primeira-ministra dinamarquesa disse ainda que se ia com os representantes da Gronelândia e das Ilhas Faroé, outro território autónomo dinamarquês, numa reunião bianual do reino da Dinamarca.
Donald Trump já tinha colocado a Gronelândia na mira em 2019, durante seu primeiro mandato (2017-2021), ao ter afirmado que queria comprar o território, uma proposta que a primeira-ministra dinamarquesa qualificou como "absurda".
Contudo, Dinamarca está "aberta ao diálogo" com os Estados Unidos para salvaguardar seus interesses no Ártico, assegurou o chanceler do país nórdico.
O reino da Dinamarca, que inclui a Dinamarca continental, a Gronelândia e as Ilhas Faroé, está "aberto a um diálogo com os americanos sobre como podemos cooperar, talvez até mais de perto do que já fazemos", afirmou Lars Løkke Rasmussen.
O ministro dos Negócios Estrangeiros dinamarquês afirmou que o degelo e a abertura de novas rotas marítimas no Ártico estão provocar uma "rivalidade crescente entre as grandes potências" na região, com a presença tanto da China quanto da Rússia.
É "legítimo que os Estados Unidos e a NATO, e portanto também o Reino da Dinamarca, estejam cientes disso", acrescentou.
No entanto, Løkke Rasmussen pediu calma. "Não é necessário dizer em voz alta tudo o que se pensa", disse o ministro.
"Eu tento trabalhar com base nas realidades e acredito que todos deveríamos fazer-nos um favor, e diminuir um pouco nosso ritmo cardíaco", acrescentou.
Depois da tomada de posse de Trump, o primeiro-ministro da Gronelândia voltou a declarar que o território quer traçar o seu próprio futuro e não se tornar um território americano, após novos comentários do presidente eleito Donald Trump sobre assumir o controlo da ilha.
"Nós somos gronelandeses. Não queremos ser americanos. Também não queremos ser dinamarqueses. O futuro da Gronelândia será decidido pela Gronelândia", enfatizou o primeiro-ministro Mute Egede numa conferência de imprensa, destacando que a ilha enfrentava uma "situação difícil".
A visita de Donald Trump Jr. à Groenlândia
O filho mais velho de Donald Trump chegou à Gronelândia para uma visita privada, duas semanas após o presidente eleito dos Estados Unidos fazer a referência à soberania do território.
O avião com a marca "Trump" que levava Donald Trump Jr., aterrou pouco antes das 13h00 no aeroporto de Nuuk.
Questionado pela televisão e pela rádio pública KNR da Gronelândia, ao sair do avião, o filho do presidente eleito disse que estava lá como "turista" e que não tinha nenhuma entrevista oficial planeada.
A imprensa local afirmou que o filho de Trump só ficaria na ilha por algumas horas.
Trump já tinha anunciado na sua rede social Truth Social que o seu filho "Don Jr. e vários representantes viajarão para lá [Gronelândia] para visitar algumas das áreas e paisagens mais magníficas".
A visita de Donald Trump Jr. foi de caráter privado e nenhum detalhe sobre a viagem foi divulgado, informou o diplomata da Gronelândia Mininnguaq Kleist à emissora pública dinamarquesa DR.
Segundo Kleist, o filho mais velho de Trump não planeou reunir-se com autoridades da ilha durante a sua estadia.
Egede deveria reunir-se em Copenhaga com o rei da Dinamarca, Frederik X, mas o encontro foi adiado por questões de agenda, conforme noticiado pela imprensa local.
No seu discurso de Natal, Egede afirmou que o país precisa de "dar um passo à frente" e definir o futuro "especialmente no que diz respeito aos nossos parceiros comerciais e às pessoas com quem devemos trabalhar mais de perto".
"A nossa cooperação com outros países e as nossas relações comerciais não podem continuar a ser realizadas apenas por meio da Dinamarca", insistiu.
A Gronelândia é um território autónomo, mas faz parte do Reino da Dinamarca.
Com 57.000 habitantes distribuídos no território de 2,2 milhões de quilómetros quadrados, a menor densidade populacional do mundo, esta gigantesca ilha está geograficamente mais próxima da América do que da Europa.
"No centro do mundo"
Também os líderes europeus apoiaram rapidamente a soberania da ilha do Ártico.
Itália
A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, descartou a possibilidade dos Estados Unidos invadirem a Gronelândia e disse que as palavras de Trump representavam "mais uma mensagem [dirigida] a (...) outros grandes atores mundiais".
A líder da direita radical, que visitou o presidente eleito dos EUA na sua casa na Flórida, também disse que não espera que Trump “abandone” a Ucrânia.
“Sinto que posso descartar que os Estados Unidos tentarão, nos próximos anos, anexar à força territórios que são do seu interesse”, disse Meloni a repórteres durante a sua conferência de imprensa anual.
Acredita que as declarações de Trump constituíram “mais uma mensagem [direcionada] a (...) outros grandes atores mundiais”.
Meloni destacou que o Canal do Panamá é uma rota crucial para os negócios internacionais e que a Gronelândia também é um território rico em matérias-primas estratégicas.
“Em ambos os territórios, temos testemunhado um crescente papel chinês nos últimos anos”, disse.
Trump recusou-se ainda a descartar uma intervenção militar no Canal do Panamá e na Gronelândia, dois territórios que disse querer que os EUA controlem.
Bélgica
O primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, pediu para se "manter o sangue frio" perante a multiplicação das declarações polémicas do republicano.
"Uma das lições do primeiro mandato do presidente Trump é que não se deve reagir a tudo", afirmou.
União Europeia
A chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, defendeu a "integridade territorial e a soberania" da Gronelândia.
“A Gronelândia faz parte da Dinamarca (...) Temos que respeitar a integridade territorial e a soberania da Gronelândia”, disse Kallas. A ilha da Gronelândia é um território autónomo cujo sistema judiciário, política monetária, relações internacionais e defesa dependem da Dinamarca.
A União Europeia afirmou, ainda, que as alegações de Donald Trump sobre uma possível ação militar para tomar a Gronelândia, um território que pertence à Dinamarca, são "altamente hipotéticas".
"Esta é uma questão altamente hipotética", disse Paula Pinho, porta-voz da Comissão Europeia, o braço Executivo da UE.
Trump, que também ameaça a Dinamarca com tarifas elevadas caso esta se recuse a ceder-lhe aquele território, sugeriu a possibilidade de usar pressão económica ou mesmo militar para assumir o controle da ilha.
"É algo altamente hipotético e por isso não queremos insistir", disse Paula Pinho.
Outra porta-voz da Comissão, Anitta Hipper, lembrou que o artigo 42.7 do Tratado de Lisboa sobre a defesa mútua dos países da UE também se aplica ao território da Gronelândia.
"Em geral, para nós, a soberania dos Estados deve ser respeitada", disse Anitta Hipper.
A Gronelândia é um território autónomo da Dinamarca, país membro da UE e, portanto, associado ao bloco.
Trump fez os seus comentários numa conferência de imprensa, na qual também deu a entender que os militares dos EUA poderiam pressionar para tomar o controle do Canal do Panamá.
Rússia
O Kremlin disse, por sua vez, que acompanha "de perto" a retórica "dramática" de Trump e lembrou que o Ártico é uma zona de "interesse nacional", onde a Rússia deseja "manter a paz e a estabilidade".
Reino Unido
O Reino Unido evitou condenar as declarações do presidente eleito americano.
"Não estou aqui para condenar nosso aliado mais próximo", disse o chefe da diplomacia britânica, David Lammy, à Sky News, acrescentando que sua tarefa "é interpretar o que há por trás disto".
Alemanha
As declarações de Donald Trump geraram "incompreensão" na União Europeia, afirmou o chefe do governo alemão.
"Nas minhas conversas com os nossos parceiros europeus, houve uma notável incompreensão no que diz respeito às atuais declarações dos Estados Unidos sobre o princípio da inviolabilidade das fronteiras", declarou o social-democrata Olaf Scholz, sem mencionar diretamente Trump.
Esse princípio "aplica-se a qualquer país, seja pequeno ou um Estado muito poderoso, é um princípio fundamental do direito internacional", disse numa conferência de imprensa em Berlim.
A suas declarações são uma reação às de Trump. "Qualquer Estado deve aderir" ao princípio da inviolabilidade das fronteiras, independentemente de estarem "a leste ou a oeste", insistiu o chefe do governo alemão, em alusão tanto à Rússia quanto aos Estados Unidos.
O presidente russo, Vladimir Putin, "violou esse princípio" ao invadir a Ucrânia, o que trouxe "a guerra" para a Europa, acrescentou.
França
França denunciou uma "forma de imperialismo", após os comentários do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a Gronelândia e o Canal do Panamá.
"Hoje vemos a ascensão de blocos, podemos ver isso como uma forma de imperialismo que se materializa nas declarações que vimos do Sr. Trump sobre a anexação de um território inteiro", disse a porta-voz do governo francês, Sophie Primas.
A Gronelândia, um território autónomo da Dinamarca, é “um território [ultramarino] da União Europeia. Está fora de questão a UE permitir que outras nações do mundo, sejam elas quais forem, ataquem as suas fronteiras soberanas”, disse o chanceler francês, Jean-Noël Barrot.
A Dinamarca faz parte da UE, mas a Gronelândia é considerada um “território ultramarino” do bloco europeu depois dos cidadãos da ilha terem decidido, num referendo de 1982, deixar a então Comunidade Económica Europeia.
Barrot descartou uma invasão dos EUA ao território rico em recursos, mas fez um alerta: “Temos que acordar, temos que nos fortalecer, em um mundo governado pela lei do mais forte”.
EUA
O secretário de Estado em fim de mandato dos Estados Unidos, Antony Blinken, rejeitou as ameaças do presidente eleito e afirmou que esta ideia não se iria concretizar.
"A ideia expressa sobre a Gronelândia obviamente não é boa, mas talvez o mais importante seja que isso obviamente não vai acontecer", disse numa conferência de imprensa em Paris.
Mas a Gronelândia não é o único território na mira
Para o Timothy Snyder o interesse do presidente americano pela Gronelândia, Canadá, Panamá, ou México, varia tanto na intensidade, quanto na forma. "As declarações são obviamente diferentes em cada caso, variando desde ameaças de invasão para controlar a política interna (México e Panamá), pressão económica ou possível invasão ao território anexado (Dinamarca sobre a Gronelândia) e pressão económica para alcançar o controlo político (Canadá, embora com muitos comentários paralelos de aliados sobre a absorção de todo o país)."
Canadá
"Desde que vencemos as eleições, a percepção do mundo é diferente. Pessoas de outros países telefonaram-me e disseram: 'Obrigado, obrigado'", afirmou Trump, ao apresentar a agenda para os próximos quatro anos.
Eliminar a fronteira "artificialmente traçada" entre os Estados Unidos e o Canadá seria uma grande ajuda para a segurança nacional, ressaltou o republicano.
Após o anúncio da renúncia do primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, Trump avaliou que o Canadá deveria fundir-se com os Estados Unidos, um comentário que irritou o país vizinho.
"Os comentários de Trump mostram uma falta de compreensão total do que torna o Canadá um país forte. Jamais recuaremos perante as ameaças", publicou no X a chanceler canadiana, Melanie Joly. Trudeau acrescentou: "O Canadá jamais fará parte dos Estados Unidos.
Canal do Panamá
Trump também não descartou ações militares para retomar o controlo da via estratégica que é o Canal do Panamá. Horas depois da declaração, o Panamá declarou que a soberania do canal interoceânico "não é negociável".
"O presidente [do Panamá] José Raúl Mulino disse: a soberania do nosso canal não é negociável e é parte da nossa história de luta e uma conquista irreversível", repetiu o chanceler panamenho Javier Martínez-Acha ao ler uma declaração.
O diplomata acrescentou que "as únicas mãos que controlam o canal são panamenhas e continuará a ser assim", ao desvirtuar as afirmações de Trump de que há soldados chineses a operar a via que liga os oceanos Pacífico e Atlântico e por onde passa 5% do comércio marítimo mundial.
O canal de 80 quilómetros construído pelos Estados Unidos foi inaugurado em 1914. Para protegê-lo, Washington estabeleceu um enclave onde hasteou a bandeira americana e erigiu bases militares, polícia e justiça próprias.
Em 1977, o ex-presidente americano Jimmy Carter, que morreu no fim de 2024, e o líder nacionalista panamenho Omar Torrijos assinaram tratados mediante os quais os Estados Unidos entregariam a via interoceânica ao Panamá, o que aconteceu a 31 de dezembro de 1999.
Contudo, uma emenda nesses tratados permitiria aos Estados Unidos, segundo algumas interpretações, recuperar de forma unilateral o canal se Washington considerar que a via está sob ameaça.
Numa conferência de imprensa na Flórida, Trump negou-se a descartar ações militares que permitam aos Estados Unidos retomar o controle do canal ou anexar a Gronelândia.
Perante a pergunta se poderia garantir que não utilizaria as Forças Armadas para anexar o Canal do Panamá e a Gronelândia, Trump disse: "Não posso garantir isso, para nenhum dos dois."
"Posso dizer o seguinte: precisamos deles por razões de segurança económica. Não me vou comprometer a isso [descartar uma ação militar]. Pode ocorrer que tenhamos que fazer algo", disse Trump.
"O nosso canal tem a missão de servir a humanidade e o seu comércio. Esse é um dos grandes valores que nós panamenhos oferecemos ao mundo, dando uma garantia à comunidade internacional de não participar ou ser parte ativa em qualquer conflito", assinalou o chanceler panamenho Martínez-Acha após as declarações de Trump.
Curvar-se à exigência do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de que os barcos americanos que passam pelo Canal do Panamá tenham tratamento preferencial "levaria ao caos", disse o administrador da via interoceânica.
"Regras são regras e não há exceções", disse o líder da Autoridade do Canal do Panamá, Ricuarte Vásquez Morales, ao Wall Street Journal.
"Não podemos discriminar os chineses, nem os americanos, nem ninguém", afirmou em entrevista ao jornal americano.
"Isto violaria o tratado de neutralidade, o direito internacional e levaria ao caos", acrescentou.
Os Estados Unidos construíram, inauguraram e operaram o canal até que o ex-presidente americano Jimmy Carter chegou a um acordo na década de 1970 para ceder gradualmente o controlo da via marítima às autoridades panamenhas.
Trump afirma que a China controla o Canal do Panamá. Por sua vez, Vásquez Morales contesta e assegura que é uma afirmação "infundada". "A China não está envolvida de nenhuma maneira nas nossas operações", disse ao Wall Street Journal.
Uma empresa chinesa opera dois portos em cada extremo da via, mas o canal em si é gerido pela Autoridade do Canal do Panamá.
Vásquez Morales insistiu em que a Autoridade do Canal do Panamá não cobra aos navios americanos tarifas mais altas que aos restantes.
A única exceção às suas normas, acrescentou, é que os navios da Marinha americana recebem tratamento prioritário em virtude do acordo alcançado na década de 1970, o que lhes permite viajar rapidamente entre os oceanos Atlântico e Pacífico.
O chanceler panamenho, Javier Martínez-Acha, afirmou que "a soberania" do canal "não é negociável". "É parte de nossa história de luta e uma conquista irreversível".
"As únicas mãos que controlam o canal são panamenhas e continuará sendo assim", frisou.
Trump não esqueceu o tema e levou-o no seu discurso de tomada de posse. Deixou claro que estava a levar a sério a reimposição do controlo americano sobre o Canal do Panamá, acusando o país centro-americano de gerir mal a rota comercial vital e prometendo: “Vamos recuperá-la”.
O presidente dos EUA começou por prometer mudar o nome da montanha Denali, no Alasca, de volta para Monte McKinley, em homenagem ao ex-presidente dos EUA William McKinley.
"O Presidente McKinley tornou o nosso país muito rico através de tarifas e de talentos. Ele era um homem de negócios nato e deu a Teddy Roosevelt o dinheiro para muitas das grandes coisas que fez, incluindo o Canal do Panamá, que foi tolamente dado ao país do Panamá depois dos Estados Unidos, os Estados Unidos, quero dizer, pensem em isto, gastou mais dinheiro do que nunca gasto num projecto anterior e perdeu 38.000 vidas na construção do Canal do Panamá."
Mas não é assim, o número oficial de mortos no esforço americano de construção do Canal do Panamá é de cerca de 5.600 pessoas. Embora o número real possa ser mais elevado, a maioria das mortes teria vindo de trabalhadores de ilhas das Caraíbas, como Antígua, Barbados e Jamaica.
"Fomos muito maltratados por causa deste presente tolo que nunca deveria ter sido feito, e a promessa que o Panamá nos fez foi quebrada. O propósito do nosso acordo e o espírito do nosso tratado foram totalmente violados. Os navios americanos estão a ser severamente sobrecarregados e não são tratados de forma justa, de qualquer forma ou forma, e isso inclui a Marinha dos Estados Unidos e, acima de tudo, a China está a operar o Canal do Panamá, e não o demos à China. Demos ao Panamá e vamos retirá-lo."
Imediatamente após o discurso inaugural, o presidente do Panamá, José Raúl Mulino, afirmou que o Canal "é e continuará a ser do Panamá", e negou uma qualquer presença estrangeira na administração da via, ao criticar a promessa de Donald Trump de o “recuperar” porque a China o estaria “a gerir”.
“Devo rejeitar de maneira integral as palavras do presidente Donald Trump", publicou Mulino em sua conta no X.
Golfo do México
Noutro anúncio impactante, porém sem grandes consequências, Trump sugeriu que os Estados Unidos vão trocar o nome do Golfo do México por Golfo da América. "Que nome bonito!", exclamou, antes de atirar contra o México, afirmando que o país "tem que deixar de permitir que milhões de pessoas entrem", referindo-se aos milhares de imigrantes que entram pela fronteira sul dos Estados Unidos de forma clandestina.
*Com agências
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