No parque de campismo da vila (distrito de Coimbra), a ocupação está muito abaixo da lotação de 400, mas nota-se movimento nas três pequenas praias fluviais.
“Perspetiva-se um verão menos bom que os demais, para já”, admite Hélio Machado, funcionário do parque de campismo, procurando afastar a sombra do incêndio, que ficou a cerca de 15 quilómetros do centro da vila, de onde só se avistam encostas verdejantes.
O impacto do incêndio que deflagrou a 17 de junho no centro do país “fez-se sentir mais notoriamente nas primeiras duas semanas a seguir”.
“Tínhamos reservas marcadas para grupos, principalmente escolas e escoteiros e que simplesmente cancelaram as reservas por tudo o que se foi ouvindo falar sobre Góis”, afirma.
Os operadores turísticos da região esperam que “não se mantenha essa ideia errada de que isto está negro – não está, está bonito”, declara Hélio Machado, afirmando que quem quiser ser solidário com a região pode ir para lá de férias e utilizar os seus recursos, o seu “património verde” e as suas praias fluviais.
Paulo Silva, dono de uma empresa que organiza atividades de turismo de natureza e aventura, estima em “mais de dez mil euros” o prejuízo causado pelos cancelamentos, que se refletem não só na Transerrano, mas em toda a hotelaria e restauração da região.
O empresário pediu já à Câmara de Góis que tenha atenção às perdas do setor turístico, esperando que haja maneira de canalizar para lá alguma da ajuda financeira que venha para o concelho e admitindo que a prioridade será reconstruir infraestruturas ardidas.
“Estávamos a contar com que fosse um dos nossos melhores anos”, comenta, esperando que haja uma recuperação da procura, que é por enquanto imprevisível e depende também de as pessoas deixarem de associar Góis ao fogo.
Habituado a passar férias na zona de Góis nos últimos cinco anos, Daniel Issufuali, de saída de um ‘bungalow’ do parque de campismo, diz à agência Lusa que até se admirou por não ter visto nada queimado no caminho do Porto para a vila do distrito de Coimbra.
“É uma zona com muito verde, praias fluviais, nós planeamos vir cá uma vez por ano, pelo menos”, disse.
David Heitor, que organiza várias atividades da empresa, afirma que “com tudo o que ouviram, as pessoas associam Góis a um monte de cinzas, com montes queimados”, mas admite que as imagens que passaram foram “reais, desastrosas”.
Para o turismo de aventura na serra, perde-se o atrativo da paisagem verde, mas o leito do rio Ceira, onde se praticam algumas das atividades, “está impecável porque estava protegido por espécies de árvores autóctones”.
“O fogo arrasou montes inteiros de eucalipto e chegou a zonas de carvalhos, castanheiros, nos amieiros junto ao rio, e está intacto, não ardeu nada”, garante.
À vista de várias plantações de novos eucaliptos que ladeiam Góis, David Heitor lamenta que não haja limites mais fortes para conter a expansão de espécies que ardem facilmente, sem “zonas de baixa combustão”.
Hélio Machado assinala que foi isso que se viu nas aldeias serranas, onde “foi mais notória a presença do incêndio”.
Por agora, enquanto espera que o parque encha e que a concentração de motos que se realiza em agosto seja a enchente do costume, garante que “não faz sentido ter medo, de todo”, de vir ao concelho onde as chamas demoraram uma semana a serem apagadas.
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