“Que essa notícia corra o mundo. Não sei se vai correr, mas seria muito importante, porque a questão da mineração do mar profundo é a última irresponsabilidade da espécie humana”, disse Tiago Pitta e Cunha, em declarações à agência Lusa.

O parlamento aprovou hoje um texto final relativo a projetos de lei do PAN, PSD, Livre e PS que estabelece uma moratória sobre a mineração em mar profundo até 2050, que teve votos contra do Chega e da Iniciativa Liberal.

A introdução de uma moratória corresponde aos apelos de várias organizações de defesa do ambiente, devido aos riscos que a extração de minério dos fundos marinhos com maquinaria pesada comporta para os ecossistemas e a pesca.

“Há 32 países que hoje em dia fazem parte de uma coligação que defende uma moratória contra a mineração submarina. Mas Portugal vai consagrar essa moratória em lei do parlamento e, com isso, vai ganhar créditos, obviamente, na sua posição de liderança internacional na agenda do oceano”, disse à Lusa o presidente executivo da Fundação Oceano Azul.

O jurista, especializado em assuntos do mar, explicou que o oceano “é como o motor de uma máquina que gera oxigénio, que absorve carbono, que gera proteína, biomassa, que gera biodiversidade, e, portanto, é um dos principais sistemas de suporte de vida do planeta”.

“Se nós formos revolver os fundos marinhos, nós vamos afetar aquilo que se chama a bomba oceânica, que gera a produção do oxigénio, que gera a produção da proteína, desde logo, e que gera a absorção do carbono”, alertou.

Tiago Pitta e Cunha lembrou que o oceano absorve 25% do carbono que é produzido todos os anos no planeta e sublinhou que mais de 90% do carbono absorvido pelo oceano ao longo dos anos está acumulado no fundo do oceano.

“Agora, imagine o que é ir perturbar esse fundo do oceano, libertar esse carbono, libertar os sedimentos do fundo do oceano, matar a vida fundamental que existe no fundo do oceano, e criar uma pluma de sedimentos que vai envenenar toda a coluna da água, que é onde vivem os ‘stocks’ de pescado que fazem parte da nossa segurança alimentar”, alertou.

Condenou por isso que alguns queiram “fazer de aprendizes de feiticeiros” e “enveredar pela exploração linear, numa economia extrativa, à moda do século XX, já no século XXI”, avisando que isso irá pôr em causa o funcionamento do sistema planetário e, por consequência, a sobrevivência humana.

“É por isso que é tão importante que Portugal seja um dos primeiros países que vai adotar uma lei parlamentar. Vamos dar parabéns ao parlamento português por poder, dessa maneira, contribuir para melhorar um bocadinho” as más notícias em torno da saúde dos oceanos.