
Em declarações hoje à agência Lusa, a propósito do quinto aniversário do parque Windfloat Atlantic, numa parceria entre a EDP Renováveis e a Engie, o diretor do projeto eólico, José Pinheiro, referiu que “há sinais positivos deste Governo de que o modelo concursal está mais ou menos consensualizado e com ‘timings’ que já vão apontando para que o leilão se venha a fazer este ano ou em 2026”.
José Pinheiro apontou a publicação no Diário da República, em abril, do despacho que determina o modelo do procedimento concorrencial e operacionaliza a sua preparação, sublinhado que “as perspetivas de expansão desta tecnologia estão muito dependentes do lançamento dos leilões”.
“Há um contexto macroeconómico e geopolítico complicado que todos vivemos e que afeta muitas áreas de negócio. É natural. Cabe-nos esperar. É óbvio que somos uma empresa global e podemos alocar o investimento noutras regiões”, adiantou.
O despacho de abril determina que, no prazo de 180 dias após a sua publicação (setembro) se proceda "à elaboração das peças do procedimento concursal".
O Plano de Afetação para as Energias Renováveis Offshore (PAER) foi aprovado em Conselho de Ministros no dia 09 de janeiro e define as áreas e os volumes do espaço marítimo nacional para a exploração comercial de energias eólicas ‘offshore’.
Assim, prevê-se uma área de 229 quilómetros quadrados (km2) em Viana do Castelo, para uma potência de 0,8 (gigawatts) GW, 722 km2 em Leixões (2,5 GW), 1.325 km2 na Figueira da Foz (4,6 GW), 430 km2 em Sines (1,5 GW) e 5,6 km2 em Aguçadoura.
“A área final do PAER permite atingir uma potência instalada para projetos comerciais de cerca de 9,4 GW e acomodar medidas de mitigação de impactes ambientais que se considerem necessárias em sede de avaliação de impacte ambiental dos projetos de energias renováveis ‘offshore’, bem como os espaços necessários à salvaguarda dos corredores de navegação e à minimização do efeito de esteira entre parques eólicos”, lê-se no documento.
Para José Pinheiro os cinco anos de funcionamento do Windfloat permitiram à Ocean Winds “amadurecer” o conhecimento na tecnologia eólica flutuante.
Para a empresa esta tecnologia “está pronta para ser escalada — evidenciando todo o potencial da energia eólica ‘offshore’ flutuante e colocando Portugal no mapa como líder nesta transição global para a energia limpa”.
“São cinco anos de muitos ensinamentos, não só de questões eminentemente técnicas, como é que as plataformas interagem com as turbinas eólicas e como é que este binómio consegue ser otimizado para alcançar melhores ‘performances’, mas também tem muito a ver como é que o projeto interage com o meio ambiente, com a biodiversidade”, sustentou José Pinheiro.
Estudos ambientais realizados pela Ocean Winds concluíram que, em cinco anos de funcionamento, o parque eólico ‘offshore’ flutuante instalado ao largo de Viana do Castelo está a ter “um efeito reserva” de biodiversidade, tendo sido identificadas 270 espécies.
De acordo com um relatório hoje divulgado pela acionista maioritária do Windfloat Atlantic, “as descargas de pesca em Viana do Castelo não diminuíram desde que o parque eólico ‘offshore’ iniciou as suas operações”.
Segundo os estudos realizados “aproximadamente 270 espécies estão a coexistir com o projeto de forma bem-sucedida”, tendo sido “registadas sete espécies exóticas, quatro de flora e três de fauna”.
“Foram observadas um total de 33 espécies diferentes de aves, com 17 registadas durante os estudos iniciais e 31 durante os estudos operacionais, foram avistadas cinco espécies de mamíferos marinhos, com o golfinho comum a ser o mais frequentemente observado, mas também orcas, e baleia-anã. Para além destes mamíferos, ainda se observou tubarão-frade”.
Em “termos de pontos de monitorização, foi observado um aumento na abundância de fitoplâncton, polvos, golfinhos comuns, peixes com maior biomassa, espécies sensíveis a campos eletromagnéticos e aves”.
“O projeto WindFloat Atlantic parece estar a funcionar tanto como um abrigo quanto uma zona de alimentação, principalmente para peixes e polvos. Espécies exóticas foram detetadas agarradas às paredes das secções submergidas das plataformas. Estas fazem parte das comunidades bentónicas que normalmente crescem em substratos sólidos, o que inclui por exemplo mexilhões, estrelas-do-mar, algas e muitos outros animais e vida marinha”, adianta.
Segundo dos estudos “espécies comuns de aves, como o alcatraz e gaivotas grandes, enfrentam o risco de colisão com as turbinas eólicas”, o que “não se aplica às poucas espécies em perigo na área circundante, visto que voam demasiado baixo e, portanto, nunca estão em risco de voar contra as pás das turbinas”.
A Ocean Winds refere que “além da Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) desenvolvida para o WindFloat Atlantic na sua fase de desenvolvimento, foram feitos vários estudos ambientais obrigatórios exigidos pela sua licença”.
“Nestes, estão incluídos programas de monitorização com várias campanhas durante vários anos antes da construção (2018) durante a construção (2019 e 2020) e durante o período de operação (desde 2020)”, adianta o documento.
Os programas "incluem arqueologia, socio-economia, qualidade da água, mamíferos marinhos, e o impacto do ruído antropogénico nestes, aves, morcegos, e vida marinha que coloniza as paredes das plataformas submersas, sem excluir os do cabo de exportação da Rede Elétrica Nacional (REN) e da distribuição da E-redes”.
“Para além destes, a Ocean Winds está atualmente a realizar estudos contínuos para desenvolver uma análise integrada da biodiversidade dentro do parque eólico ‘offshore’ e sobre as descrições relacionadas com o apoio às atividades pesqueiras”.
Este estudo começou em 2023, está prestes a concluir o seu segundo ano e "inclui uma análise de todos os estudos obrigatórios realizados até agora, além de campanhas adicionais focadas em compreender melhor a vida marinha, peixes, invertebrados e plâncton”.
O WindFloat foi ligado à rede elétrica em dezembro de 2019 e alcançou a operação comercial plena em setembro de 2020.
Até março de 2025, o projeto havia registado uma produção acumulada total de 345 Gigawatts por hora (GWh), fornecendo eletricidade anualmente a cerca de 25.000 lares em Viana do Castelo, enquanto evitava mais de 33.000 toneladas de emissões de dióxido de carbono (CO₂).
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