“O silêncio não é uma opção”, lê-se numa publicação na conta oficial do presidente da emissora pública de Espanha na rede social X, antigo Twitter, que é acompanhada por um vídeo com uma mensagem em inglês e espanhol, sobre um fundo preto: “perante os direitos humanos, o silêncio não é uma opção. Paz e justiça para a Palestina".
A mesma mensagem foi transmitida pela TVI, pouco antes do início do 69.º Festival Eurovisão da Canção, a decorrer em Basileia, na Suíça, e que conta com Israel entre os países em competição.
A mesma mensagem foi também publicada hoje na conta oficial da RTVE na rede social X, momentos antes do início da final do concurso, a decorrer desde as 20h00 de Lisboa na St. Jakobshalle, em Basileia, e com transmissão em direto para países de todo o mundo.
A União Europeia da Radiodifusão (UER), que organiza o Festival Eurovisão da Canção, advertiu a RTVE de que será multada caso na transmissão da final de hoje se repitam os comentários sobre os mortos resultantes da ofensiva israelita em Gaza.
Numa carta, dirigida à chefe da delegação espanhola, Ana María Bordas, a UER recorda à RTVE que as regras da Eurovisão “proíbem declarações políticas que podem comprometer a neutralidade do concurso”.
“O número de vítimas não tem lugar num programa de entretenimento apolítico, cujo lema ‘Unidos pela música’ encarna o nosso compromisso com a unidade”, lê-se na missiva, à qual o jornal El Pais teve acesso.
Na quinta-feira, antes da atuação da representante israelita, Yuval Raphael, na segunda semifinal, os comentadores espanhóis Tony Aguilar e Julia Varela recordaram, durante a emissão no canal La2, que a RTVE pediu formalmente à organização do festival para que fosse aberto um debate sobre a continuidade do país no concurso, no meio da ofensiva israelita na Palestina.
Além disso, citaram as “mais de 50 mil” mortes de palestinianos – já são mais de 53 mil – que a atual ofensiva causou desde o início, em outubro de 2023, incluindo mais de 15 mil crianças, de acordo com as Nações Unidas.
Os conselhos de redação da RTVE manifestaram a sua preocupação com a “ameaça” da UER, num comunicado publicado na rede social X, e defenderam o direito dos comentadores a trabalharem com “liberdade e responsabilidade”.
“Condenamos qualquer tentativa de ingerência e defendemos o compromisso da RTVE com a informação verídica, especialmente face a acontecimentos de relevância internacional”, lê-se na publicação.
Esta edição da Eurovisão está a ficar marcada pelo conflito israelo-palestiniano, à semelhança do que aconteceu em 2024.
Manifestantes pró-Palestina e a polícia entraram hoje em confronto em Basileia, durante uma manifestação que juntou várias centenas de pessoas contra a participação de Israel no concurso.
De acordo com a Agência France Presse (AFP), os confrontos tiveram início pouco antes de a representante de Israel, Yuval Raphael, ter atuado na St. Jakobshalle.
Empunhando bandeiras palestinianas, os manifestantes seguiam atrás de uma grande faixa onde se lia “Unidos pela Palestina” e um trocadilho com a palavra Eurovisão, “Liberta a tua visão”, com um coração no lugar da letra v, descreve a AFP.
Os manifestantes queimaram uma bandeira de Israel e uma outra dos Estados Unidos da América e num dos vários cartazes empunhados pelos manifestantes pode ler-se “Cantar enquanto Gaza arde”.
Na quarta-feira, cerca de 200 manifestantes fizeram uma marcha silenciosa pelas ruas de Basileia.
No dia seguinte, durante a tarde, horas antes da segunda semifinal, durante o ensaio oficial, seis pessoas foram expulsas da St. Jakobshalle por interromperem, com vaias e assobios, a atuação da representante israelita.
Segundo a agência EFE, à noite, a segunda semifinal decorreu sem incidentes, com algumas vaias quase inaudíveis no início da atuação da representante israelita.
Hoje à noite, na emissão televisiva foram audíveis vaias no início da atuação de Yuval Raphael.
A presença de Israel no concurso este ano foi contestada por artistas que já participaram no concurso e pela televisão pública espanhola.
Mais de 70 músicos, entre os quais Salvador Sobral, António Calvário, Fernando Tordo, Lena D’Água e Paulo de Carvalho, apelaram à União Europeia de Radiodifusão (UER), para que excluísse a participação de Israel.
Numa carta aberta, os subscritores justificam o apelo com o facto de considerarem a televisão israelita KAN “cúmplice do genocídio contra os palestinianos em Gaza”.
A carta, publicada conjuntamente pela organização não-governamental Artists For Palestine e pelo movimento Boycott, Divestment, Sanctions (Boicote, Desinvestimento e Sanções, em português, BDS), é assinada por cantores, compositores, músicos, bailarinos e membros de coro de vários países.
Na Finlândia foram lançadas petições no final de março, pedindo à televisão pública finlandesa Yle que pressionasse a UER para excluir Israel da edição de 2025, por causa da guerra em Gaza.
As autoridades de Gaza elevaram hoje para quase 53.300 o número de mortos resultante da ofensiva militar israelita contra o enclave, desde o seu início, após os ataques levados a cabo a 07 de outubro de 2023 pelo Hamas e outros grupos palestinianos, que causaram cerca de 1.200 mortos e perto de 250 raptados, segundo o balanço oficial fornecido pelas autoridades israelitas.
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