Num estudo publicado na revista Matter, investigadores da Escola de Engenharia Pritzker criaram um hidrogel de noz de malva para usos médicos, que vão desde o tratamento de feridas à leitura de eletrocardiogramas.

A investigação não se baseia em rumores sobre os benefícios das nozes para a saúde, pois na China são conhecidas como remédio para a dor de garganta Pangdahai (PDH), mas sim na sua capacidade de inchar na água.

"Nunca vi um fruto numa árvore expandir-se tanto", frisou o primeiro autor, Changxu Sun, estudante de doutoramento, citado na segunda-feira pela agência Europa Press.

"Changxu olhou para o chá de ervas e viu um mundo de aplicações biomédicas sustentáveis prontas a serem construídas", sublinhou o investigador principal de Sun, professor de química da Universidade de Chicago, Bozhi Tian.

Na medicina tradicional chinesa, as nozes de malva são conhecidas como Pangdahai e são frequentemente utilizadas no chá como remédio para a dor de garganta, semelhante à adição de gengibre ou limão.

"Originalmente, é uma forma oval com cerca de um centímetro de largura. Uma vez imerso em água, expandir-se-á cerca de oito vezes em volume e 20 vezes em peso, transformando-se numa massa gelatinosa, como uma geleia", frisou Sun.

"Depois de beber a bebida, fica-se com gelatina como resíduo. As pessoas geralmente deitam-na fora", acrescentou.

Em comparação, o arroz incha cerca de três vezes o seu peso quando cozido. As sementes de chia incham até 10 vezes o seu peso quando adicionadas à água.

Sun e Tian viram potencial nas sobras gelatinosas deitadas fora com o chá do dia anterior.

Os hidrogéis são substâncias viscosas à base de água conhecidas pelas suas múltiplas aplicações na área da saúde. Tão suaves e resistentes à água como o próprio tecido humano, os hidrogéis são utilizados no tratamento de feridas, combatendo infeções e estimulando a cicatrização muito mais do que um penso pode fazer.

Para transformar as nozes em dispositivos médicos, estas são primeiro trituradas num liquidificador e depois passadas por uma centrífuga para extrair o máximo possível do hidrocoloide polissacarídeo macio e expansivo, ao mesmo tempo que são removidas as ligninas estruturais duras que dão às nozes as suas cascas.

A solução hidrocoloide é então liofilizada, removendo toda a água para criar uma estrutura seca de polissacarídeo puro de noz de malva.

"Se hidratarmos novamente, transformam-se num gel", apontou Sun.

A equipa começou a testar o seu hidrogel de noz de malva para uma variedade de utilizações médicas, desde o tratamento de feridas até à biomonitorização.

"Verificámos que demonstrou um desempenho e qualidades superiores em comparação com os patches de ECG comerciais. E depois também o aplicámos à superfície do tecido in vivo, demonstrando uma grande gravação de biossinais", vincou Sun.

Sun espera que o novo hidrogel de origem natural forneça uma nova fonte de recursos médicos potentes, mas mais baratos, em todo o mundo, mas particularmente nas nações do Sudeste Asiático onde a malva cresce.