
“Estamos com uma campanha bastante atípica, porque, com a instabilidade meteorológica que tem pautado estes últimos meses, o ciclo vegetativo da cerejeira está atrasado. Em anos normais, já estaríamos a colher e há um atraso de quase duas semanas em termos de evolução da maturação da cereja”, informou, em declarações à agência Lusa, o sócio-gerente da Cerfundão, Filipe Costa.
Segundo o engenheiro agrónomo, a instabilidade nas condições meteorológicas, “principalmente as diferenças de temperatura”, muito baixas à noite e “flutuações muito elevadas” durante o dia, desequilibram fisiologicamente as árvores e verifica-se a queda do fruto recém-vingado.
Apesar da menor quantidade de cereja nas árvores em relação a um ano normal, a quebra não vai ser tão má como no ano passado, adiantou.
A menor capacidade produtiva dos pomares significa um impacto quantitativo, mas não qualitativo.
“Vai dar origem a um fruto de maior qualidade, com maior nível de açúcar e de maior tamanho. Parâmetros qualitativos que o consumidor aprecia mais vão ser otimizados em comparação com anos de maior produção”, explicou Filipe Costa.
Em termos globais, o responsável da Cerfunfão, que representa 25 produtores e cerca de 250 hectares de pomares de cereja, apontou para uma “quebra produtiva próxima dos 40%”, estimando o somatório das variedades todas.
O também produtor adiantou que as primeiras variedades começam a ser colhidas na próxima semana a sul da serra da Gardunha, onde as cerejeiras amadurecem mais cedo, e depois seguem-se as restantes “zonas produtivas” da Cova da Beira.
Segundo o responsável da cooperativa de fruticultores Cerfundão, as flutuações constantes de temperatura e a chuva são responsáveis por “índices elevados de fendilhamento” do fruto nas variedades precoces.
O responsável prevê que o pico da campanha deste ano aconteça a meio do mês de junho e não nas duas primeiras semanas.
Filipe Costa manifestou desejo de que as temperaturas passem a ser as habituais na primavera, que não baixem dos 10 graus e não ultrapassem os 26 a 27 graus, para não prejudicar o normal desenvolvimento da cereja.
O sócio-gerente da Cerfundão lembrou que nos dois últimos anos ocorreram fortes precipitações no decorrer da campanha e sublinhou que a instabilidade na meteorologia já se verifica de há uns cinco ou seis anos.
“Temos que nos adaptar, entre aspas, ao novo normal, e tentar encontrar soluções para mitigar estes efeitos, mas não tem sido fácil”, realçou o engenheiro, com pomares na aldeia de Alcongosta.
Um dos mecanismos adotados por cada vez mais produtores é a instalação de túneis, que abrangem pequenas parcelas dos cerejais, por representarem um investimento bastante avultado.
Filipe Costa disse que a instalação dessa solução para proteger a cereja das condições meteorológicas adversas tem um custo de 60 mil euros por hectare e aguarda que a tutela disponibilize os apoios para o efeito reivindicados pela Câmara do Fundão, no distrito de Castelo Branco.
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