Antes do segundo debate nacional sobre o Sistema Nacional de Saúde (SNS) e as carreiras médicas, realizado hoje pela Ordem dos Médicos, no Porto, o responsável sindical deixou várias críticas ao Ministério liderado por Adalberto Campos Fernandes, quando questionado sobre a falta de investimento na área.
“É uma questão de decisão política, não é um problema económico nem financeiro. Não estão interessados no investimento na saúde, porque desviam o dinheiro para os bancos, para outros interesses e para os próprios grupos económicos. O orçamento da saúde desde há 15 anos para cá aumentou imenso o orçamento para o setor privado. Os grupos económicos do setor privado estão em grande. O ministério da saúde está aliado aos grupos económicos”, acusou.
João Proença admitiu estar “a pensar em várias formas de luta que não vão passar por greves, porque isso só prejudica a atividade médica e assistencial”, acrescentando que vão “começar a fazer resistência a determinado tipo de coisas, como a passagem de receitas por via eletrónica” e também reuniões com comissões de utentes.
“Ao fim de um mês e meio de greves, [o Ministério] não só não iniciou as negociações, como não temos nenhum problema resolvido, nomeadamente os concursos. E se não colocarem médicos nos hospitais e centros de saúde, a assistência médica é má. Isto reflete-se nas urgências que estão cheias de gente porque os cuidados primários de saúde e as consultas nos hospitais, não respondem às pessoas”, atirou.
À entrada para o mesmo debate estavam também presentes o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, assim como a dirigente nacional do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Helena Ramalho, que também falaram com os jornalistas.
O bastonário relativizou a questão de não haver dinheiro, ao dizer que acha haver “falta de investimento ou financiamento adequado ao serviço público”, que leva a situações como a da denunciada hoje, sobre a falta de um radiologista no Hospital de S. João, no Porto, durante a noite, exemplificou.
“É urgente que o Governo crie as condições concorrenciais necessárias para poder fixar os jovens em Portugal, porque se continuarmos a perder jovens da forma que temos perdido, vamos perder a capacidade de inovação e de acompanhar o desenvolvimento da nova medicina que acontece a uma velocidade muito rápida”, afirmou sobre a diferença de condições no SNS e no setor privado.
Mostrou também concordância com a desistência das greves, mas sublinhou que “não é um baixar de braços”, optando por “outras formas de demonstrar desagrado”, tais como “estabelecer regras de boas práticas, ao fazer o que siginifica uma boa relação médico-doente”, aumentando os tempos dos doentes durante as consultas, que neste momento “são ridículos”.
“Neste momento, [a relação médico-doente] está claramente afetada, não só pela pressão das administrações das unidades de saúde, mas também por aquilo que é a ditadura informática e que vai limitando escutar o doente. Temos de definir, e penso que vai ser definido no mês de julho, aquilo que são os tempos padrão das consultas médicas”, avançou.
Helena Ramalho insistiu na “celeridade dos concursos, para contrariar o êxito dos médicos que têm vindo a verificar-se nas privadas”, alertando que são precisos médicos “suficientes para trabalhar bem e em segurança” e também para “queixas recorrentes e realidades de deficiências graves dos recursos humanos”, nomeando casos da telemedicina em hospitais centrais.
“Queremos que os formados fiquem no SNS, é por isso que somos persistentes porque queremos que fiquem connosco e não se desviem para o serviço privado porque precisamos deles. São seguramente necessários, quando chegarem a ser o suficiente nós saberemos. Mas estamos longe disso”, respondeu, depois de não saber precisar quantas contratações seriam necessárias.
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