Em declarações à agência Lusa a propósito do debate do estado da nação de sexta-feira, o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, sublinha que apesar de os problemas criados pela covid-19 serem novos, “nascem em cima de debilidades que a economia portuguesa tinha” e, por isso, o “desafio é duplo”, ou seja, responder a “esta crise económica e social, mas também não repetir erros do passado”.
“Eu creio que é o debate do estado da nação que lança esses caminhos agora, para o futuro, num contexto diferente daquele que nós julgaríamos que fosse há uns meses”, refere.
Para o bloquista, “os problemas que já existiam na sociedade agora são mais visíveis”.
“Já fica hoje visível que a falta de direitos de quem trabalha é um dos problemas que faz com que o vírus percorra ainda as ruas do nosso país. A precariedade social, laboral, habitacional é o caminho que o vírus utiliza para neste momento continuar a infetar pessoas”, avisa.
“Foi extraordinário o que o Serviço Nacional de Saúde fez, o que a escola pública fez também ao longo destes últimos meses, mas não esconde a falta de investimento que houve durante muitos anos. Se foi extraordinário – e muito se deve à capacidade dos seus profissionais, agora temos de aprender para não repetir os mesmos erros”, avisa.
Na perspetiva de Pedro Filipe Soares, “mudando o ciclo”, como considera que aconteceu claramente, “esta fase agora é de recuperação da economia e recuperação do Estado, do seu papel”.
Questionado sobre a relação com o PS na próxima sessão legislativa, o líder parlamentar do BE recorda que, logo no início da legislatura, “o PS fez uma escolha e isso não mudou muito desde outubro passado até agora”.
“Nós não estamos no mesmo ponto político, não estamos no mesmo ponto de análise teórica geral porque já tivemos uma validação prática de muitas das escolhas. Veremos é o que é que se faz com essa aprendizagem e nessa matéria o Orçamento do Estado para 2021 será definidor”, destaca.
A escolha do PS, de acordo com Pedro Filipe Soares, “foi gerir à peça cada uma das discussões no parlamento e de certa forma até desvalorizar o trabalho parlamentar”.
“Essas duas notas mantêm-se ao longo deste ano. Uma novidade mais recente é a disponibilidade do PSD para essa dança. Há aqui uma ação mais conjunta, algo que não existia no início da sessão legislativa”, aponta.
Para concluir esta análise, na ótica do deputado do BE, falta perceber como vai ser o Orçamento do Estado para 2021.
“Um Orçamento do Estado que vai ter que responder à crise económica e social, ao investimento dos serviços públicos, aos direitos de quem trabalha e nessas escolhas concretas é que PS dirá se quer ter, de facto, um diálogo à esquerda ou se quer fazer diferente e continuar, ainda que informalmente, num caminho de aproximação ao PSD e do PSD de aproximação ao PS”, avisa.
Apesar do primeiro-ministro, António Costa, ter “jurado amor aos partidos à esquerda”, segundo Pedro Filipe Soares “mais do que retórica, é na prática que se terá de fazer a análise desse processo”.
“Há aqui escolhas que criam a dúvida se nós não estaremos perante lições não devidamente assimiladas por parte do Governo neste momento. Essa é a dúvida em cima da mesa”, afirma.
O debate do estado da nação, com que a Assembleia da República encerra o ano parlamentar desde 1993, estava marcado para quarta-feira, mas a pedido do primeiro-ministro, António Costa, devido ao prolongamento do Conselho Europeu, foi adiado dois dias, realizando-se na sexta-feira de manhã.
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