Os kits de emergência estão na moda e há muito que esta necessidade se tornou evidente, nomeadamente na Península Ibérica. Já em março deste ano, os jornais espanhóis noticiavam a corrida aos kits feita pelos cidadãos do país, nomeadamente depois das cheias em Valência em outubro de 2024.

Por cá, também alguns influencers começaram a falar sobre o tema e a alertar para a necessidade de fazer um kit, especialmente depois da publicação por parte da Comissão Europeia de uma estratégia para “melhorar a capacidade da Europa de prevenir e responder a ameaças emergentes”, em conjunto com os Estados-membros. Além de propor “integrar cursos sobre preparação nos currículos escolares”, Bruxelas assume também que irá realizar esforços para “encorajar o público a adotar medidas práticas, como o armazenamento de bens essenciais, para um período mínimo de 72 horas em caso de emergência”.

A mensagem da Comissão Europeia é clara: não se trata de criar medo, mas sim de promover uma cultura de prevenção. Como referiu Hadja Lahbib, comissária europeia responsável pela gestão de crises, o objetivo não é espalhar pânico, é evitar repetições de situações caóticas como as que se viveram no início da pandemia. Exemplo disso foi a famosa corrida ao papel higiénico, que também foi relatada durante o apagão.

O que deve conter um kit de emergência?

  • Água potável (pelo menos 3 litros por dia por pessoa);
  • Alimentos não perecíveis (conservas, barras energéticas, bolachas, frutos secos, arroz, massa, etc.);
  • Medicamentos básicos e material de primeiros socorros;
  • Lanterna e pilhas sobressalentes;
  • Powerbank e carregadores;
  • Rádio portátil (preferencialmente a pilhas ou de manivela);
  • Cópias de documentos importantes (cartão de cidadão, carta de condução ou passaporte);
  • Dinheiro em espécie;
  • Roupas quentes e muda de roupa;
  • Manta térmica;
  • Produtos de higiene pessoal básicos;
  • Óculos (caso use);
  • Canivete suíço, isqueiro, fósforos ou velas;
  • Um apito para chamar a atenção em caso de emergência;
  • Contactos de emergência anotados;
  • Algo para passar o tempo, como cartas ou um livro;
  • Um brinquedo para quem tem crianças, bem como produtos próprios para as mesmas (fraldas, biberons e toalhetes);
  • Ração para os animais de estimação.

Esta lista foi baseada nos vários exemplos sugerido pelas autoridades a nível europeu, nomeadamente Portugal. Estes artigos devem ser guardados numa mochila, que pode ser facilmente mantida em casa.

Por cá, a Proteção Civil também lançou as suas recomendações para um kit de emergência, já em outubro passado, à margem da apresentação da nova plataforma LXResist, na Câmara Municipal de Lisboa.

Neste caso, a autoridade aconselha a que se "verifique regularmente a validade dos diversos itens" e reforça que "ao seu kit, poderá adicionar outros elementos que considere essenciais".

Neste vídeo partilhado pela Câmara Municipal de Lisboa, é possível observar a explicação pormenorizada sobre o que deve conter um kit:

Porque deve o kit durar 72 horas?

Este é o tempo que se estima ser mais crítico numa situação de emergência. São as primeiras horas depois de um evento disruptivo — quando os serviços podem estar inoperacionais e a ajuda ainda a ser organizada — que exigem maior autonomia.

Na altura da apresentação da estratégia, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou que "as novas realidades exigem um novo nível de preparação na Europa. Os nossos cidadãos, os nossos Estados-membros e as nossas empresas devem dispor de instrumentos adequados para agir, de modo a poderem prevenir as crises e agir rapidamente em caso de catástrofes. As famílias que vivem em zonas de cheias devem saber o que fazer quando as águas sobem. Os sistemas de alerta precoce podem evitar que as regiões afetadas por incêndios florestais percam tempo precioso. A Europa está pronta para ajudar os Estados-membros e os seus parceiros de confiança dos países da vizinhança a salvar vidas e proteger os meios de subsistência".

Portugal está preparado para situações de crise?

Em entrevista à SIC, Francisco Rodrigues, presidente do OSCOT - Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo, reconhece que a sociedade portuguesa não está preparada para uma situação destas, "o que não seria expectável". Lamenta comportamentos "de desrespeito com o outro e incivilidade" e critica a falta de resoluções adotadas nos últimos anos.

Numa reflexão sobre as reações ao dia de ontem, Francisco Rodrigues alerta para a importância de ter um kit de sobrevivência, como indicado pela União Europeia.

Refere, ainda, ter receio de que, caso aconteça algo semelhante, os portugueses "comecem a açambarcar e a roubar supermercados", sem sentido de comunidade. "Temos de preparar as crianças nas escolas para um futuro que possa vir a ter situações disruptivas mais frequentes", defende.

O coronel acredita ainda que deve existir uma conversa que vise a preparação do Estado e a "construção de uma maior resiliência" para reagir a cenários semelhantes.

"Como cidadãos, temos de pensar em construir modelo de resiliência, a pouco e pouco", e não deixar que estes acasos caiam no esquecimento, termina. "Amanhã começamos a falar de eleições e já ninguém pensa nisto", lamenta.