Os manifestantes, que não puderam realizar o protesto previsto para segunda-feira devido ao apagão ibérico, concentraram-se esta tarde (hora local), sob o lema “Mazón demite-te”, em frente ao Museu da Ciência em Valência, onde jantavam os participantes no congresso do Partido Popular Europeu (PPE).

Durante o protesto foram entoados ‘slogans’ como: “Não são mortes, são assassínios”, “Partido Popular, partido criminoso”, “Queremos justiça”, “Mazón culpado por omissão, PP europeu por colaboração”.

Parentes das vítimas da catástrofe, na qual morreram mais de 220 pessoas, exibiram uma faixa onde se lia: “Os nossos familiares morreram por causa da sua incompetência. Assassinos”.

A presidente de uma das associações de vítimas de 29 de outubro presentes no protesto, Rosa Álvarez, criticou Mazón por ter solicitado na segunda-feira uma emergência de nível 3 devido a um apagão, e não o ter feito em 29 de outubro, quando não havia eletricidade, água ou comida, mas existiam “pessoas mortas em casa sem as conseguir tirar de lá”.

Rosa Álvarez insistiu que os seus familiares não morreram devido a um fenómeno atmosférico, mas “por negligência e falta de previsão”.

No protesto, foi exibida uma grande imagem de Mazón, vestido como um preso e com o número 228 (número de mortos nas cheias) no chapéu e mãos manchadas de vermelho.

O protesto incluiu ainda um grande cartaz com a hora a que o alerta foi enviado no dia do desastre (20:11) e a mensagem: “Nem esquecimento nem perdão”.

Na manifestação, foi apresentado o “Acordo Social Valenciano”, apoiado por associações de vítimas, comités locais de emergência e reconstrução, sindicatos e movimentos sociais.

O texto sublinha que “o primeiro acordo é expulsar Mazón”, mas também pede mudanças na área das migrações, na habitação, no feminismo, na educação e no ambiente.

As manifestações têm sido convocadas por uma plataforma de duas centenas de associações e outras entidades e têm tido como lema “Mazón, dimisión”, (“Mazón, demissão”), referindo-se ao presidente do governo regional, Carlos Mazón, do Partido Popular (PP, direita).

Mazón e o governo regional são sobretudo criticados desde 29 de outubro pelos alertas tardios à população em relação ao temporal, apesar de os serviços meteorológicos espanhóis terem emitido um aviso vermelho horas antes das chuvas e das cheias.

O primeiro relatório da investigação judicial, aberta para apurar eventuais responsabilidades políticas, indicou que a maioria das vítimas morreu antes de ter sido enviado o alerta da proteção civil para os telemóveis.

As manifestações anteriores mobilizaram centenas de milhares de pessoas: 130 mil em 09 de novembro, 100 mil em 30 de novembro, 80 mil em 29 de dezembro, 25 mil em 01 de fevereiro, 30 mil em 01 de março e 25 mil em 29 de março.

Uma nova manifestação foi convocada para segunda-feira, num dos locais onde decorre o congresso do PPE, com a presença da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

No entanto, o protesto ficou adiado para hoje devido ao apagão que atingiu a Península Ibérica e regiões do sul de França.