"Somos cerca de 30 funcionárias e a maior parte está subcontratada para a empresa Know Food, que há dois anos ganhou o concurso para abastecer as cantinas das escolas de São João da Madeira, mas não está a cumprir com uma série de coisas", contou à Lusa uma das cozinheiras afetadas pela situação.
A funcionária contou que "os salários nunca são pagos em data certa e hoje já é dia 18, mas 95% do pessoal - que inclui cozinheiras, empregadas de refeitório e tarefeiras - ainda não recebeu o mês de junho".
Segundo a cozinheira, em março acabaram os contratos anteriores e só em junho é que foram assinados os novos, “já não através da empresa de trabalho temporário anterior” mas “em nome individual da pessoa que cá vinha como representante da Know Food".
Seguros de acidentes de trabalho também estarão em falha e quanto à situação alimentar, a cozinheira garantiu que "carne e peixe não faltam, mas os vegetais são sempre um problema".
As ementas semanais anunciam sopas com um ingrediente principal "e a escola não recebe esse produto, a sobremesa tem que ser fruta, mas não há e serve-se gelatina, leite-creme ou bolos".
"As saladas devem ter três ingredientes e, se antes falhava um, a câmara não perdoava nada. Agora temos que fazer canja por não termos vegetais para a sopa e está tudo bem", acrescentou.
Quanto ao pão, é distribuído pela empresa Trigo Loiro, que, contactada pela Lusa, indicou que o produto poderá já não ser servido esta quinta-feira.
"Somos pessoas sérias e não tomamos uma atitude destas de ânimo leve, mas, se não nos pagarem o que está em falta hoje até ao fim do dia, amanhã [quinta-feira] não há entrega de pão", declarou Miguel Calisto, proprietário da firma.
Contactada pela Lusa, a Know Food - fundada pelo presidente da Câmara Municipal de Felgueiras, Nuno Fonseca, e atualmente detida pelo seu irmão, Sérgio Fonseca - informou que os salários em atraso são apenas os relativos a "pessoal que acabou o contrato", já que "estão a ser calculadas as caducidades e depois os valores serão liquidados".
Sérgio Fonseca esclareceu que os novos contratos laborais estão a ser assinados "com uma empresa do grupo" e, no que se refere a dívidas, referiu que os atrasos nos pagamentos devidos à Know Food, por clientes que representam o Estado, fazem com que “muitas vezes” não seja possível cumprir os prazos acordados com os fornecedores.
“Mas a nossa relação comercial com os fornecedores de São João da Madeira é de anos e sempre se cumpriu com as responsabilidades, apesar dos contratempos a que somos alheios", assinalou.
Quanto a falhas de bens alimentícios, o administrador da empresa garantiu não ter “qualquer referência” a essa situação e assegurou que “nunca ficou por servir nenhuma refeição”.
“Pelo contrário, existem registos diários da quantidade de alimentos confecionados e não consumidos, sendo o desperdício considerável", acrescentou.
Questionada pela Lusa, a Câmara de São João da Madeira informou que vem acompanhando a situação das funcionárias com remunerações em atraso e tem "exigido o respeito pelas regras laborais e pelo direito ao salário".
Já no que se refere à alimentação, disse que a nutricionista que fiscaliza o serviço não registou "falta de qualidade nem de quantidade nas refeições servidas nas cantinas", mas adiantou que "a câmara confrontou a Know Food com aspetos que têm que ser corrigidos e que podem levar à instauração de penalidades, como é o caso de alterações pontuais nas ementas previamente definidas".
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