
Cerca de 50% dos casos de anemia podem ser explicados pelo défice de ferro. Este défice pode ser causado por uma ingestão alimentar inadequada de ferro, por uma diminuição na absorção do ferro, pela perda crónica de sangue, ou por condições que aumentem as necessidades em ferro, como por exemplo a gravidez. A deficiência de ferro vai desde o estado de depleção de ferro sem anemia, até à anemia ferropénica. Contudo, podem surgir sinais e sintomas muito pouco específicos numa fase precoce da depleção das reservas de ferro, mesmo sem anemia. Entre os sinais e sintomas mais comuns destacam-se o cabelo seco e danificado, as mucosas descoradas ou pálidas, o cansaço e a falta de ar.
As mulheres em idade fértil e as grávidas constituem um grupo de risco. Nas mulheres grávidas ocorrem alterações fisiológicas importantes que justificam um aumento das necessidades em ferro, nomeadamente o aumento do número dos glóbulos vermelhos e a grande expansão do volume de sangue materno, o desenvolvimento da placenta, o crescimento do feto, o desenvolvimento do sistema nervoso central do feto, e as perdas de sangue que ocorrem durante o parto. Estima-se que a prevalência de ferropénia nas mulheres grávidas em Portugal seja de 62,7% (assumindo um valor de ferritina inferior a 30 ng/mL). Na gravidez, a ferropénia encontra-se associada ao aumento da frequência de abortos, atraso no crescimento do feto, parto pré-termo, e pode levar a lesões no sistema nervoso central, baixo peso ao nascer, e a uma menor tolerância a perdas hemáticas durante o parto. As grávidas que estão em maior risco, são as adolescentes, as vegetarianas, as multíparas, as com história de anemia prévia ou hemorragia recente.
Por isso mesmo, o diagnóstico precoce da ferropénia é fundamental para prevenir as complicações e instituir o tratamento adequado o mais atempadamente possível. O rastreio da ferropénia pode ser feito através do doseamento da ferritina no sangue, que constitui o parâmetro mais útil para avaliar os depósitos de ferro no nosso organismo. Contudo, não existe um consenso ao nível internacional e nacional sobre o valor de corte de ferritina mais adequado. Em Portugal, a Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal propõe o rastreio da anemia na gravidez através do doseamento da ferritina na pré-conceção e/ou no 1º trimestre, entre as 24-28 semanas de gestação e no 3º trimestre. Se o valor de ferritina for inferior a 30 ng/mL, independentemente de haver anemia, recomenda-se a suplementação com 60 mg de ferro elementar diariamente. Paralelamente deve reforçar-se o consumo de alimentos ricos em ferro. O ferro está presente nos alimentos sob duas formas: o ferro heme e o ferro não heme. O ferro heme encontra-se em alimentos de origem animal, como a carne e o pescado e apresenta uma maior biodisponibilidade. O ferro não heme encontra-se em alimentos de origem vegetal como os cereais fortificados, os hortícolas de folha verde escura, os frutos e as leguminosas, com menor biodisponibilidade.
Assim, é muito importante que tenha em conta as seguintes recomendações:
1) Adote uma alimentação completa, variada e equilibrada com diferentes alimentos como a carne preferencialmente branca, o pescado, os ovos, as leguminosas e os hortícolas;
2) Promova o consumo de alimentos ricos em vitamina C (morangos, kiwi e laranja) ao almoço e ao jantar para aumentar a absorção do ferro;
3) Evite o consumo de lacticínios (leite, iogurte e queijo), chá e café às refeições principais, pois o cálcio diminui a absorção do ferro;
4) Faça a suplementação adequada de ferro, de acordo com as recomendações do seu Médico Assistente.
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