A bastonária da Ordem dos Enfermeiros (OE) denunciou hoje a situação na comissão parlamentar de Saúde, considerando gravíssimo que o hospital pretenda depositar nos enfermeiros essa responsabilidade.
“Não é aos enfermeiros que compete, e é um risco enorme, mandar embora um doente que objetivamente tem uma queixa. Uma pessoa triada com verde e azul [as cores de menor prioridade na triagem das urgências] não significa que a sua situação, passado umas horas ou um dia, não tenha piorado. Não podem enviar as pessoas embora do serviço de urgência sem resposta, porque não compete aos enfermeiros”, indicou Ana Rita Cavaco em declarações à agência Lusa no final do encontro com os deputados.
Para a bastonária da OE, nem os médicos provavelmente quererão assumir isso por motivos de segurança.
“Entendemos que as pessoas que vão ao serviço de urgência fazem-no com um problema para resolver, porque não têm resposta em outro sítio. Portugal não tem um sistema centrado nos cuidados de saúde primários. A solução não passa por mandar as pessoas embora [da urgência hospitalar], passa por organizar melhor os centros de saúde e dar resposta nos cuidados de saúde primários”, defendeu Ana Rita Cavaco.
A Ordem dos Enfermeiros tomou conhecimento da situação em dezembro, tendo enviado um ofício sobre o assunto à ministra da Saúde e indicando aos enfermeiros que não podem fazer esse envio dos doentes que recebem pulseira azul ou verde para fora do hospital.
“Os enfermeiros estão a recusar e o conselho de administração está a pressioná-los”, indicou.
Segundo disse aos deputados a bastonária, esta é uma das questões a que a ministra da Saúde ainda não deu qualquer resposta à Ordem.
Outro exemplo de ausência de soluções por parte do Ministério da Saúde, segundo a bastonária, tem a ver com a agilização dos sistemas informáticos.
Ana Rita Cavaco relatou aos deputados que a OE apresentou ao secretário de Estado uma nova solução que permitirá aos enfermeiros estarem “menos tempo agarrados ao computador”.
“Desenvolvemos um sistema, que apresentámos, que reduz o número de ‘cliques’ e de passos nos sistemas. Mas esse sistema precisa de uma linha de financiamento dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS). Gostaríamos que isto andasse”, indicou.
Em declarações à Lusa no final da audição, a bastonária explicou ainda que o sistema desenvolvido e apresentado pela Ordem fez ainda a revisão da linguagem dos registos informáticos, que estava desatualizada, e vai permitir extrair indicadores sobre os cuidados de enfermagem.
Atualmente, o sistema de registos “é cego” e faz com que os profissionais de enfermagem que estão, por exemplo, a atender uma criança tenham de passar pelas etapas da mulher ou do idoso antes de chegarem onde precisam, o que consome tempo.
Segundo a Ordem, o novo sistema permite ao enfermeiro ir diretamente à área onde pretende registar, além de possibilitar que o registo seja feito apenas num local, que depois comunica com todos os outros sistemas.
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