“Votei para ficar na União Europeia (UE), mas não vou votar nesta eleição, estou desiludido com a política”, desabafa à Lusa Graham Read, reformado britânico a viver há três anos e meio no Algarve.
A reportagem da Lusa encontrou-o ao balcão de um típico ‘pub’ britânico, quer na decoração, nas conversas e até nos clientes, que poderia ser algures na Inglaterra, mas que fica na aldeia de Santa Bárbara de Nexe, a pouco quilómetros da capital algarvia.
O expatriado alimenta a esperança de que a eleição “seja neutra”, sem grandes resultados para ambos os lados, levando Boris Johnson a voltar a colocar o acordo com a UE no Parlamento, para que seja reprovado, obrigando a um segundo referendo que, acredita, será “a favor de ficar na Europa”.
Nem as sondagens, que dão uma margem de vitória ao atual primeiro-ministro – defensor da saída, o demovem, revelando confiança numa subida do Partido Trabalhista com “o aproximar do dia das eleições”.
A mesma confiança é demonstrada por um trio de conterrâneos, mas na vitória dos ‘Tories’, como é identificado o antigo partido de tendência conservadora do Reino Unido e muitas vezes usado para denominar o Partido Conservador, liderado por Boris Johnson.
É na outra ponta do balcão que a Lusa encontra três apoiantes Conservadores, unânimes na censura ao líder Trabalhista. “Definitivamente, Corbyn não!”, afirmam, quase em uníssono.
Dos três amigos que escolheram o Algarve para passar a reforma, apenas dois assumem que vão votar a 12 de dezembro – um porque regressa ao norte de Londres esta semana e o outro por via postal.
George, Tony e Alfredo afirmam que grande parte da população se sente “aterrorizada” com a ideia de o Partido Trabalhista ganhar as eleições, acreditando que será péssimo para a economia britânica e para as suas poupanças, já que pretende “renacionalizar as grandes empresas”.
Nesse sentido, defendem que os conservadores têm de conseguir a maioria e “levar o ‘Brexit’ adiante”, para saírem da União Europeia e poderem voltar a controlar a imigração, as pescas, deixando de “estar presos” às leis europeias.
Assumindo concordância com a ideia de um Mercado Comum, realidade existente à altura da entrada britânica no projeto europeu, o trio discorda do atual caminho de uma visão “federal europeia”, que pretende levar a um “governo e a um exército Europeu”, reclamam.
À porta do ‘pub’ encontra-se um quarteto de britânicos onde a divisão é bem mais visível. “Aqui a divisão é 50/50, como no Reino Unido” afirma à Lusa Steve, a viver em Portugal há 30 anos, acrescentando que “seria uma estupidez sair”.
Apenas dois garantem votar nas eleições gerais, mas, independente do resultado, nenhum pensa voltar a Inglaterra e há quem afirme que não fará muita diferença se o “sim” ganhar.
“Apensas será preciso mais papelada, como acontece com os americanos, por exemplo”, argumenta Jim, que se mudou definitivamente para Portugal no mês passado.
Posição contrária assume Douglas, escocês residente há cinco anos no Algarve, defensor de uma “não saída”, que a acontecer poderá criar uma divisão ainda maior na ilha britânica.
“Se saírem da União Europeia, a Escócia fará de novo um referendo e passará a ser independente para se manter na União Europeia”, conclui.
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