"Com dificuldades", resume à AFP Barbara Perry, professora de assuntos públicos na Universidade da Virgínia. Para a especialista na Presidência americana, os democratas "estão a tatear" e são forçados a "jogar na defensiva" perante a fúria do bilionário de 78 anos.

Durante os 100 primeiros dias do seu primeiro mandato, em 2017, "reinaram o caos puro e a desorganização", pois não esperava ganhar, segundo Barbara Perry. Mas desta vez, Donald Trump voltou ao poder com um plano cuidadosamente elaborado pelos seus aliados ao longo dos últimos quatro anos.

Decretos a todo vapor, reviravoltas no comércio internacional, desmantelamento de grandes setores do Estado federal sob a liderança do seu aliado bilionário, Elon Musk... Este início do segundo mandato "não tem precedentes" na história americana, garante Barbara Perry.

Os democratas, minoritários nas duas casas do Congresso, enfrentam, ao contrário, uma série de problemas.

Nomeadamente a ausência de uma liderança clara ou de uma "mensagem coordenada ou unificada a apresentar aos americanos, além de 'Trump está errado'", afirma a professora.

"Precisamos de esperança"

A indecisão provoca consternação entre muitos eleitores, que gostariam de ver uma oposição mais enérgica a Donald Trump.

A raiva atingiu o ápice em meados de março, quando o líder dos democratas no Senado, Chuck Schumer, cedeu num confronto direto com os republicanos e acabou a votar a favor de um texto que evitava a paralisação orçamental.

Um recuo interpretado por muitos como falta de combatividade, o que gerou apelos para que o senador septuagenário de Nova Iorque se aposentasse.

"Precisamos de esperança", declarou recentemente à AFP Alex Powell, que participou num comício em Los Angeles do senador de esquerda Bernie Sanders. "Estou muito decepcionada com a resposta dos democratas, quero mais ação da parte deles, mais indignação", acrescentou a professora de 28 anos.

Formas de contestação que não vêm necessariamente do Partido Democrata, mas de associações, por exemplo, que estão a mover ações judiciais contra as medidas do governo.

As reuniões públicas de parlamentares republicanos nas suas circunscrições, tradicionalmente consensuais, tornaram-se um dos principais palcos da ira popular contra Donald Trump.

Várias manifestações aconteceram nas últimas semanas em todo o país, principalmente contra os cortes nos gastos públicos previstos pelo presidente.

Uma resposta das ruas, "esporádica e descentralizada" por enquanto, observa Barbara Perry.

2026

Assim, no meio do marasmo democrata, algumas figuras da esquerda tentam manter-se à tona.

O senador independente Bernie Sanders, ícone da esquerda, iniciou uma volta para "combater a oligarquia".

Cada comício do socialista octogenário atrai milhares de simpatizantes, e foi acompanhado pela deputada nova-iorquina Alexandria Ocasio-Cortez, outra figura do movimento progressista.

No Congresso, o democrata Cory Booker bateu, no início de abril, o recorde do discurso mais longo no Senado, protestando por mais de 25 horas ininterruptas contra a política de Donald Trump.

A sua maratona oratória, embora amplamente simbólica, atraiu milhões de visualizações nas redes sociais.

Um sinal de esperança: a esquerda venceu uma eleição para o Suprema Tribunal de Wisconsin (norte), apesar da intervenção de Elon Musk, que havia distribuído milhões de dólares aos eleitores.

Embora "ainda não esteja claro que tipo de mensagens ou táticas permitiriam ao Partido Democrata melhorar as suas hipóteses nas eleições de meio de mandato em novembro de 2026", é importante que esses representantes "testem" várias, avalia Flavio Hickel, professor de ciências políticas no Washington College.

"Algumas não darão em nada, e outras serão fracassos completos, mas o sucesso não vai simplesmente cair no seu colo", acrescenta.

Para um certo número de representantes democratas, as ações são uma boa forma de ganhar notoriedade, a três anos de uma campanha presidencial para a qual ainda não surgiu nenhum candidato evidente no partido.