Cerca de 40% dos resíduos que os portugueses depositam nos contentores de lixo indiferenciado corresponde a bioresíduos, principalmente restos de alimentos, que podem ser valorizados para produção de energia, ou biogás, e de composto útil para a agricultura.
"Assim não acontece a mais de 70% da fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos", de acordo com dados analisados pela Associação Sistema Terrestre Sustentável - Zero, depois de disponibilizados pela Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR).
Feitas as contas, a Zero estima que "sejam desperdiçados 100 milhões de euros por ano em matérias fertilizantes orgânicas" que poderiam ser utilizadas a baixo custo pelos agricultores, numa área em que Portugal compra mais ao estrangeiro do que aquilo que vende.
A associação ambientalista concluiu que dos 1,86 milhões de toneladas de bioresíduos presentes nos resíduos sólidos urbanos nacionais, por ano, mais de 1,3 milhões de toneladas continuam a ser encaminhados para aterros e para incineração, enquanto apenas 500 toneladas são valorizadas.
E terão sido produzidas 60 a 70 mil toneladas de composto, por ano, "números que carecem de fiabilidade porque nem toda a informação solicitada aos sistemas de gestão de resíduos urbanos (SGRU) foi disponibilizada ou foi considerada válida", acrescenta a Zero.
Segundo a associação "é desperdiçado um enorme potencial de produção de energia renovável, que poderia ser injetada na rede elétrica nacional para consumo dos portugueses e são inutilizados milhares de toneladas de nutrientes - e também matéria orgânica - que poderiam ser devolvidas aos solos".
As plantas que fazem parte da alimentação humana e animal retiram do solo nutrientes que é necessário voltar a colocar na terra, de modo a manter o seu equilíbrio e fertilidade, o que pode ser feito devolvendo os bioresíduos tratados e transformados em composto.
Entre as medidas propostas pela Zero para resolver a situação está a aposta na prevenção, sensibilizando os consumidores para um consumo responsável que previna desperdício de recursos, nomeadamente os alimentares, e a fixação de metas progressivas junto dos SGRU para a recolha seletiva porta-a-porta de orgânicos.
Criar um regime de exceção para possibilitar aos municípios promoverem a reciclagem de orgânicos com recurso a pequenas centrais de compostagem, fomentando a aplicação de composto em hortas comunitárias e em bancos de terras agrícolas municipais, e incentivar a compostagem doméstica, principalmente junto dos 45% de cidadãos que vivem em moradias, são outras possibilidades, a que acresce o incentivo ao consumo de produtos locais.
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