Bruguera disse à agência de notícias espanhola Efe que quando saiu de casa surgiram agentes da polícia que a levaram de carro para um parque para falar com um agente da Segurança do Estado que vigiava há alguns dias a sua casa.
“Desta vez ele disse-me que não posso sair de casa, e quando lhe perguntei porquê, não me explicou e respondeu: ‘até que decidamos'”, disse Bruguera, membro do grupo que se intitula 27N, em referência à data de 27 de novembro, dia de uma manifestação do coletivo pelo fim da censura e repressão.
Nesse dia, mais de 300 artistas e intelectuais reuniram-se pacificamente em frente ao Ministério da Cultura para exigir a liberdade de expressão e criação, bem como o fim do assédio policial aos criadores críticos do governo.
A artista considera-se “uma prisioneira em casa, sem qualquer explicação”.
Bruguera recordou que vive fora de Cuba mas mantém igualmente a sua residência na ilha, onde se encontra há nove meses, por causa da crise sanitária provocada pelo novo coronavírus, que não lhe tem permitido viajar.
A artista disse que o oficial com quem falou lhe disse que, se quisesse sair do país, poderiam tratar disso.
“Querem desmantelar o grupo [27N]”, acusou Bruguera, denunciando igualmente perseguições a outros membros do coletivo.
Segundo a mais conhecida artista cubana, que já expôs no museu Tate Modern, em Londres, e no Museu de Arte Moderna (MoMA) em Nova Iorque, a maioria dos 30 artistas e intelectuais que participaram na sexta-feira passada numa reunião com funcionários do Ministério da Cultura têm carros policiais ou agentes da polícia política estacionados perto das suas casas, impedindo-os de sair à rua.
A artista também alertou para a presença de agentes policiais no domingo em frente da casa onde está sediado o Instituto Internacional de Artivismo “Hannah Arendt” (Instar), no bairro de Havana Velha, denunciando que tentaram entrar no local sem autorização.
O Instar é um projeto de Tania Bruguera centrado na alfabetização cívica de vários grupos sociais da sociedade cubana, que procura refletir sobre conceitos como democracia, direitos humanos e a luta pela justiça social.
Em 27 de novembro, a histórica concentração pacífica de artistas e intelectuais frente ao Ministério da Cultura tinha culminado com um pré-acordo de diálogo com representantes do Governo.
Um grupo de 30 artistas, que incluía o ator Jorge Perugorría, o cineasta Fernando Pérez e a artista Tania Bruguera, foi recebido pelo ministro-adjunto Fernando Rojas, na sede do Ministério da Cultura, em Havana, num encontro que durou mais de quatro horas e que culminou com as partes a concordarem realizar reuniões periódicas para resolver as suas diferenças.
Tanto a manifestação pacífica diante do Ministério, como o encontro entre artistas e Governo, marcaram um precedente histórico em Cuba, país que não reconhece o direito de manifestação e onde as instituições raramente aceitam o diálogo com grupos independentes da sociedade civil.
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