A 14 de março, Marielle, de 38 anos, foi morta à saída de uma favela do Rio, com quatro tiros na cabeça, com balas da Polícia Militar, cujos excessos ela diariamente denunciava desde que o Presidente, Michel Temer, ordenou, há cerca de um mês, uma intervenção do Exército, que tem matado muitos civis, por serem das favelas, negros e pobres, fazendo a população sair à rua em protestos no país.
“Não acabou! Tem que acabar! Eu quero o fim da Polícia Militar!”, “Fora Temer!”, “Golpistas, fascistas - não passarão!”, “Racistas, machistas - não passarão!” e “Importam vidas pretas!” foram algumas das palavras de ordem repetidas pela multidão concentrada junto à estátua de Camões, onde o Coletivo Andorinha – Frente Democrática Brasileira de Lisboa, um dos movimentos que convocaram o protesto, afixou um enorme retrato desenhado de Marielle Franco.
Em baixo, lia-se “Marielle presente”, um mote da manifestação, ao qual os participantes respondiam “Hoje e sempre!", e depois também “Anderson presente! Hoje e sempre!” (Anderson era o nome do homem que conduzia a viatura onde Marielle seguia e que foi também assassinado).
Para Ana Caroline Santos, do Coletivo Andorinha, a importância desta concentração é que haja “uma solidariedade internacional perante o que acontece no Brasil, [porque] o assassínio de duas pessoas, sendo uma delas uma mulher negra, política, defensora dos direitos humanos, é algo que mostra para o mundo o que, de facto, está acontecendo no Brasil”.
“Os assassínios de Marielle e de Anderson são oriundos da violência que acontece hoje no Brasil, mas foram assassínios diferenciados: Marielle foi silenciada, assim como milhares e milhares de mulheres e homens, pessoas que lutam desde 2016 contra a derrocada da democracia no Brasil”, sublinhou.
Segundo a ativista, “conjugaram-se várias opressões: de raça, de classe, de género e da falta de democracia”.
A intervenção militar no Rio de Janeiro “demonstrou que são vários os cenários” possíveis daqui para a frente no Brasil “e que, inclusive, um deles é não haver eleição presidencial em 2018”, comentou Ana Caroline Santos.
“Temos várias coisas a acontecer e a conjuntura muda muito rápido no Brasil, mas isto demonstrou, com certeza, a necessidade de se discutir a participação política para além de eleições”, acrescentou a ativista, expressando o desejo de que “esta e outras manifestações que estão a realizar-se” contribuam “para um cenário de mudança”, num país dividido entre quem “está a ir para a rua para exigir democracia” e “quem acha que quem defende Direitos Humanos é quem defende os bandidos”.
Entre os presentes, vários empunhavam cartazes em que se liam frases como “Quem mandou matar Anderson e Marielle?”, “Execução sem disfarce”, “Marielle executada por ser negra e combativa”, “Contra a intervenção federal no Rio de Janeiro” e “Lisboa louva Marielle”, e alguns emocionavam-se à menção do nome da feminista brasileira, ela própria originária de uma favela, a Maré.
Houve muitos discursos ao megafone, não só de figuras políticas, como as deputadas socialista Isabel Moreira e comunista Rita Rato e da bloquista Joana Mortágua, como de figuras da cultura, como as atrizes Maria João Luís e Marina Albuquerque, e de imigrantes brasileiros em Portugal, cujo denominador comum foi a necessidade de transformar “o luto em luta".
“Tentaram enterrá-la, mas mal sabiam que Marielle era semente”, disse um dos cidadãos brasileiros que discursaram.
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