O Papa Francisco fez esta quinta-feira, 15, uma viva denúncia das políticas populistas, considerando que não passam de uma forma de “paternalismo político”, que poderia ser traduzido no slogan “tudo para o povo, nada com o povo”. Contrapôs-lhes “uma política de fraternidade, enraizada na vida das pessoas” e pediu que as dioceses do mundo inteiro trabalhem com os movimentos populares.
Numa mensagem a partir de Roma, o Papa interveio numa conferência promovida pelo Centro para a Teologia e a Comunidade, em Londres, e organizada por um conjunto de organizações católicas de base, de diferentes continentes, interessadas em refletir sobre o recente livro do Papa, intitulado Sonhemos Juntos (editado em Portugal pela Planeta, 2021).
A política apontada pelo Papa “abre novos caminhos para que as pessoas se organizem e se expressem” e visa “encontrar os meios de garantir a todas as pessoas uma vida digna de ser chamada humana, uma vida capaz de cultivar a virtude e forjar novos laços”.
“É uma política não apenas para as pessoas, mas com as pessoas, enraizadas nas suas comunidades e nos seus valores”. Isto porque “quando as pessoas são postas de lado, não lhes é negado apenas o bem-estar material, mas também a dignidade de agir, de serem protagonistas do próprio destino e da própria história, de expressarem-se com os seus valores e cultura, a sua criatividade e fecundidade”.
Do ponto de vista da Igreja, não se pode separar a promoção da justiça social deste “reconhecimento da cultura e dos valores das pessoas”, onde se incluem “os valores espirituais que são a fonte do seu sentido e dignidade”. Esta dimensão pode ser partilhada por todas as pessoas e suas organizações. Porém, sublinhou Francisco, “nas comunidades cristãs, esses valores nascem do encontro com Jesus Cristo, que busca incansavelmente os que se sentem perdidos e desanimados, aqueles que lutam para chegar ao dia seguinte, para lhes levar o rosto e a presença de Deus, para ser “Deus connosco”.
A mensagem escrita, ainda que curta, confere uma atenção especial à responsabilidade pastoral da Igreja e começa por reforçar um desejo que vem já expresso no livro Sonhemos Juntos: que todas as dioceses do mundo tenham uma colaboração permanente com os movimentos populares.
Nessa proximidade com as pessoas e com os movimentos populares, diz a mensagem, o papel das instituições religiosas, “não é impor o que quer que seja, mas caminhar com o povo, lembrando-lhe o rosto de Deus que caminha sempre à nossa frente”.
E recordando uma imagem que já utilizou noutras circunstâncias o Papa é ainda mais claro. “O verdadeiro pastor de um povo, o pastor religioso, é aquele que procura caminhar à frente, no meio e atrás do povo: à frente, para indicar-lhe algo do caminho a seguir; no meio dele, para sentir com o povo e não errar; e atrás, para auxiliar os que se atrasam, permitindo que o povo, com faro próprio para essas coisas, encontre também para si os caminhos certos”.
Papa o Papa, é nesta convivência que se pode encontrar o “Cristo ressuscitado, ferido, nas nossas comunidades mais pobres”, pois “foi aqui que nasceu a Igreja, nas margens da Cruz. Se a Igreja renegar os pobres, deixa de ser a Igreja de Jesus; ela recai na velha tentação de se tornar uma elite moral ou intelectual – uma nova forma de pelagianismo, ou um tipo de vida essénia”.
Tal como com a Igreja, “uma política que vira as costas aos pobres nunca poderá promover o bem comum. Uma política que dá as costas às periferias nunca poderá compreender o centro e confundirá o futuro com uma auto-projeção, como se estivesse a ver-se num espelho”, nota ainda a mensagem do Papa.
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