
“O Papa Francisco foi único, ele passou o verdadeiro ensinamento de Jesus de amor ao próximo e esperamos que o sucessor continue esse legado que nos deixou”, afirmou à Lusa o brasileiro William Rodrigo, 39 anos.
Vestido com as cores do Brasil e uma bandeira LGBQIAP+ (lésbicas, gays, bissexuais, trans, queer, interssexuais, assexuais e pansexuais), à saída da Basílica de São Pedro onde rezou, William Rodrigo assume-se como um católico que gostaria de voltar a ser praticante.
“Demorou um pouco, mas conseguimos ver o Papa”, disse, sorrindo, o ativista do estado de Santa Catarina, que vive em Roma há sete anos.
“Estou com a bandeira ‘pride’ porque o Papa Francisco foi um Papa que abraçou a causa, que rompeu barreiras e acolheu a nossa comunidade”, explicou o ativista.
O Papa Francisco insistiu sempre no acolhimento de “todos, todos, todos”, uma frase dita em Lisboa, durante a Jornada Mundial da Juventude, e, por diversas vezes, reuniu-se com movimentos LGBT.
Em dezembro de 2023 foi publicada a declaração "Fiducia Supplicans" (Suplicando a Confiança), pela Doutrina da Fé, que aborda as chamadas "relações irregulares", vínculos monogâmicos de pessoas que não casaram pela Igreja.
Os padres passaram a ter permissão de realizar bênçãos a casais do mesmo sexo, mas também casais do sexo oposto que ainda não são casados, sem que isso signifique que as relações passem a ser abençoadas.
Esta decisão foi criticada por conservadores e por progressistas, gerando uma das polémicas que mostram a atualização do Vaticano, sem colocar em causa a doutrina.
Dentro da Cúria, os mais conservadores alinharam-se com o cardeal eleitor norte-americano Raymond Burke, um cardeal norte-americano crítico da abertura do Vaticano e defensor de um regime mais rigoroso no que respeita às relações homossexuais ou divorciados.
Para Marco Pecce, um outro ativista LGBT, Francisco mostrou uma “grande abertura mental, que acabou com os tabus e o discurso contra o movimento”.
“Era uma pessoa muito boa que falava a linguagem das pessoas e procurava compreender todos”, disse, mostrando-se receoso em relação ao futuro, como sucede com alguns movimentos progressistas na Igreja católica.
Agora, “esperamos que esse acolhimento que o Papa Francisco nos deu continue com o novo Papa, porque Deus é amor”, resumiu William Rodrigo.
O corpo de Francisco foi exposto para ser velado na quarta-feira e as exéquias irão terminar com despedidas solenes no sábado, com a transferência para a Basílica de Santa Maria Maior, onde será realizada a cerimónia de sepultamento, como havia sido pedido pelo Papa, com uma única inscrição: “Franciscus”.
O Papa Francisco morreu na segunda-feira aos 88 anos, de acidente vascular cerebral (AVC), após 12 anos de pontificado.
Nascido em Buenos Aires, a 17 de dezembro de 1936, Francisco foi o primeiro jesuíta e primeiro latino-americano a chegar à liderança da Igreja Católica.
A sua última aparição pública foi no domingo de Páscoa, no Vaticano, na véspera de morrer. O papa Francisco esteve internado durante 38 dias devido a uma pneumonia bilateral, tendo tido alta em 23 de março.
*Por Paulo Agostinho, da agência Lusa
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