Por essas aldeias a Cruz florida sai para visitar a casa das pessoas para anunciar a ressurreição de Jesus. No Domingo de Páscoa havia acompanhado o compasso pascal. Naquele dia 21 de abril despertei ao som dos sinos de Vila de Punhe para mais um dia de Visita Pascal.

Dirigi-me para a Igreja paroquial de Alvarães para celebrar a Missa. Celebrei com a comunidade cristã com muita alegria. Ao terminar a Eucaristia e ao chegarmos à sacristia, alguém nos comunica: “Morreu o Papa Francisco”.

Tinha acabado de mencionar o nome do Papa Francisco na celebração da Missa sem imaginar que o Senhor já o tinha chamado para a sua morada de luz e de paz. Os sinos de Vila de Punhe tocavam a finados ainda sem o saberem.

Saímos da Igreja com o coração apertado após recebermos a notícia da morte do Papa. Pensava como anunciar às pessoas a Páscoa da ressurreição no exacto dia em que o Papa havia falecido. Mas fazia todo o sentido: celebrávamos a Páscoa do Senhor Jesus e a Páscoa do Papa Francisco.

Este texto não pretende ser um resumo do pontificado de Francisco. Foi um pontificado belo e marcante, caracterizado por um magistério de palavras e obras que nos desafiaram – crentes e não crentes – a abrir as portas do coração aos mais pequeninos, aos mais pobres e descartados da sociedade.

O Papa Francisco não deixou ninguém indiferente. Desde o início que quis assinalar o seu pontificado com a marca da misericórdia. Miserando atque elegendo (“olhou-o com misericórdia e o escolheu”) foram as palavras escolhidas por Jorge Mario Bergoglio para o seu brasão pontifício.

Na primeira entrevista que deu após a sua eleição como Bispo de Roma, perguntaram ao Papa como se definia. Respondeu: “Sou um pecador para quem o Senhor olhou com misericórdia” (19 de agosto de 2013). Um homem pecador que, apesar da sua fragilidade, reconhece que não pode viver sem ser sob o olhar de Deus que ama e perdoa infinitamente. Um grande desafio para combater a tendência natural do ser humano de se fechar sobre si mesmo e de presumir a sua auto-suficiência.

Por isso, desafiou a Igreja a ser um hospital de campanha, a ser uma Igreja em saída, anunciadora da misericórdia divina sobretudo àqueles que mais necessitam da luz e da esperança de Cristo. O Santo Padre queria a Igreja próxima das pessoas e foi assim que terminou a sua peregrinação: junto dos fiéis na Praça de São Pedro no Domingo de Páscoa. Por isso, as suas últimas palavras foram de gratidão ao seu assistente pessoal: “Obrigado por me ter trazido a esta praça”.

O Papa Francisco sentia-se um filho muito amado por Deus e pela Mãe do Céu. Em Fátima assegurou-nos: “Temos Mãe!” (13 de maio de 2017). Não somos órfãos. Cada ser humano não vive só. Somos filhos do mesmo Pai que nos chama à experiência da fraternidade universal, um desafio tão actual e urgente que o Papa nos deixou.

Ninguém pode ficar de fora da experiência salvadora de Cristo Jesus. Por isso, neste ano jubilar, o Papa Francisco desafiou-nos à esperança, uma forma de ser e de estar que muda e converte os corações.

Sem dúvida que ficamos mais pobres com a morte do Papa Francisco. Ficamos, contudo, mais ricos com o seu legado e com o seu testemunho que nos continuará a desafiar a romper barreiras e fronteiras, a olhar todas as pessoas com amor e misericórdia e a recordar que jamais estamos sós.

Naquela manhã do dia 21 de abril celebrei a Páscoa do Senhor e, sem o saber, a Páscoa de Francisco. Agora, desde o Céu, junto de Deus e da Virgem Maria, o Papa Francisco continua a interceder pela Igreja e pela Humanidade. Que a chama da fé e da esperança que acendeu em cada pessoa jamais se apague.