"Estas bolsas de estudo são muito importantes. Muitas pessoas na comunidade portuguesa pensam que os alunos ingressam na construção porque não querem estudar. Não é verdade. Muitos não continuam os estudos porque financeiramente não lhes é possível", afirmou Tânia Barbosa, presidente da Associação Portuguesa da Universidade de Toronto.
A UTPA, como é conhecida a organização, organizou esta sexta-feira à noite o seu 36.º jantar de gala com entrega de bolsas de estudo, num evento que juntou várias dezenas de alunos luso-canadianos.
O processo de atribuição de bolsas de estudo tem início em setembro de cada ano com a "procura de patrocinadores" dentro do setor empresarial e associativo da comunidade portuguesa.
Em março, a associação inicia a fase de inscrições, sendo as bolsas entregues no mês de maio, durante o jantar de gala.
Esta é uma ferramenta fundamental e que faz "uma enorme diferença" na vida académica dos estudantes, sublinhou Leandro Simões Pongeluppe, de 31 anos, um estudante brasileiro de S. Paulo, neto de portugueses, e vencedor de uma bolsa de estudo.
"Esta bolsa, não só para mim, mas para os outros estudantes, faz uma enorme diferença. Sabemos que é muito oneroso despender de recursos para conseguir atingir graus superiores de educação. É fundamental ter este apoio", destacou o estudante do Departamento de Gestão Estratégica da Universidade de Toronto.
Proveniente de Leiria, Ana Alves, de 22 anos, a frequentar o primeiro ano da licenciatura de Arqueologia e Linguística, diz que sem este tipo de apoio "teria de encontrar outra forma de pagamento" ou até mesmo "regressar a Portugal".
"Eu vim para o Canadá com uma condição e encontrei outra completamente diferente em termos financeiros. Necessitava mesmo de uma ajuda para continuar os estudos. Doutra forma não o conseguiria", frisou.
A contabilista Irene Faria é uma das patrocinadoras deste incentivo, "uma tradição na sua família que teve início há mais de 30 anos".
"Há mais de 30 anos, o meu irmão (Rui) e cunhada (Luísa) faleceram e na altura a comunidade decidiu criar uma bolsa de estudo com os seus nomes. Temos continuado com a tradição, em que o critério é que o recipiente da bolsa tem que ser de origem portuguesa. Com o nosso filho a estudar na universidade foi uma boa oportunidade para apoiarmos", explicou a empresária.
A professora auxiliar no departamento de espanhol e português da Universidade de Toronto Anabela Rato lamentou a necessidade de os estudantes "terem um trabalho em part-time" e destacou a "importância das bolsas de estudo".
"As propinas são elevadas. Muitos dos nossos alunos de uma forma geral têm que trabalhar também para poderem ajudar as famílias em muitos dos casos. Temos muitos alunos que conciliam o trabalho com os estudos e isso não é fácil. O ideal seria que o estudante tenha o tempo inteiro completamente para os estudos", realçou.
Dados estatísticos escolares antigos revelaram que "muitos dos jovens portugueses não concluíam o ensino secundário, mas "é algo que mudou" na opinião da deputada federal Julie Dzerowicz.
"Todos os anos venho a este evento. Há alguns anos, estatísticas mencionavam que muitos dos portugueses não concluíam o ensino secundário. A comunidade então uniu-se, o que me deixa orgulhosa, e decidiu mudar algo", sublinhou a política.
A deputada eleita pelo distrito eleitoral da Davenport notou ainda a preocupação dos dirigentes da UTPA, ainda estudantes, a entregarem bolsas de estudo a "alunos mais novos do que eles", para que estes "consigam prosseguir os estudos e tenham uma melhor educação".
A UTPA, além das 11 bolsas de estudo distribuídas na sexta-feira à noite, vai ainda entregar hoje à noite, mais duas, durante da Gala da Aliança dos Clubes e Associações Portuguesas do Ontário (ACAPO), num total de 7.100 dólares canadianos (4.710 euros).
Segundo dados do Governo canadiano, residem no país mais de 480 mil portugueses e lusodescendentes.
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