O anúncio do Kremlin afasta a perspectiva de um cessar imediato dos combates, mais de três anos após a invasão da Ucrânia pela Rússia, e com o presidente americano Donald Trump a insistir num acordo entre Kiev e Moscovo o mais rápido possível.

Em março, a Casa Branca anunciou que tinham começado as negociações para a interrupção dos ataques contra as infraestruturas energéticas. Mas um mês depois, a Rússia considera a trégua finalizada.

"De facto, o mês expirou", declarou o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov, em entrevista à AFP.

"Até ao momento, não houve outras instruções do comandante chefe supremo, o presidente Putin", acrescentou, confirmando o fim da frágil pausa.

Os detalhes do acordo nunca foram claros: nem quando começou a ser aplicado, nem por quanto tempo seria prolongado ou em quais condições.

Além disso, desde então, a Rússia e a Ucrânia trocaram acusações diárias sobre a violação do acordo.

Antes do anúncio da trégua nos ataques contra instalações de energia, Donald Trump propôs um cessar-fogo incondicional e completo, que Kiev aceitou, mas que Putin rejeitou.

Será mesmo uma trégua verdadeira?

Nesta sexta-feira, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, revelou a impaciência de Washington, após uma reunião na véspera entre autoridades americanas, europeias e ucranianas em Paris.

"Temos que determinar nos próximos dias se (uma trégua) é verdadeira", declarou.

Marco Rubio ameaçou "passar para outra coisa" se os Estados Unidos determinarem que a paz "não é possível", o que contrasta com as palavras do presidente Donald Trump, que prometeu na sua campanha eleitoral acabar com a guerra na Ucrânia em 24 horas.

"Os Estados Unidos têm outras prioridades", afirmou Marco Rubio antes de deixar a França. Acrescentou que Washington não quer que a questão ucraniana dure "semanas e meses".

Após as primeiras reuniões coletivas, que terminam sem grandes avanços, autoridades americanas, europeias e ucranianas planeiam reunir novamente na próxima semana, em Londres.

Nos últimos dois meses, Donald Trump aproximou-se de forma radical e inesperada da Rússia, utilizando repetidamente a retórica do Kremlin, em particular sobre as origens do conflito, o que levou Kiev a temer a retirada do apoio militar americano.

Os europeus, por sua vez, foram afastados até ao momento das negociações impulsionadas por Washington.

Com Macron à frente, alguns trabalham na criação de um futuro contingente de paz europeu na Ucrânia quando um eventual cessar-fogo for alcançado. Uma opção que cria divisão entre os aliados de Kiev e é uma linha vermelha para Moscovo.

Marco Rubio ligou para o chefe da diplomacia russa, Sergey Lavrov, para transmitir a "mesma mensagem" apresentada aos europeus e ucranianos. "A paz é possível se todas as partes se comprometerem a chegar a um acordo", destacou.

Novos ataques russos

Na Ucrânia, os ataques russos prosseguem. Uma pessoa morreu e pelo menos 98 ficaram feridas, incluindo seis crianças, num ataque com mísseis em Kharkiv, segundo o balanço divulgado pelo presidente da câmara Igor Terekhov.

Em Sumy, onde 35 pessoas morreram no domingo num bombardeamento russo, um novo ataque com drones deixou um morto e um ferido, informou a administração militar local.

Simultaneamente, os Estados Unidos e a Ucrânia assinaram na quinta-feira um "memorando de intenções", primeiro passo para concluir um acordo sobre a exploração de recursos naturais e minerais estratégicos da Ucrânia.

O memorando, publicado nesta sexta-feira por Kiev, especifica que o primeiro-ministro ucraniano, Denis Shmigal, viajará na próxima semana para Washington para negociar e afirma que Estados Unidos e Ucrânia contemplam concluir as negociações até 26 de abril.