A discussão começou no parlamento — em torno da apresentação de uma proposta de devolução de património às ex-colónias — chegou às redes sociais e espoletou a polémica. André Ventura sugeriu no Facebook que a deputada devia ser "devolvida" ao país de origem. Já Francisco Rodrigues dos Santos, recém eleito líder do CDS, depois de uma audiência com Marcelo, comentou a relação entre a deputada do Livre e o partido com a frase “no CDS não existem Joacines". O partido de esquerda, por sua vez, vês nestas afirmações da direita “contínuos ataques de caráter e referências de índole racista". As reações sucedem-se e, desta feita, também Adolfo Mesquita Nunes deixou um comentário nas redes sociais.
"André Ventura sugere deportar uma deputada à conta de uma proposta discutível e há quem, nos comentários ao meu post anterior, veja na sugestão dessa deportação a verdadeira direita e, o que é pior, nela veja a direita dos valores do CDS. Acham-se muito corajosos e chamam-me de cobarde, como agora é moda. Pois a esses, os da coragem na ponta da língua, só tenho a dizer o seguinte: não quero saber se acham que são de direita ou se acham que são cristãos ou se acham que tudo vale desde que seja para malhar na esquerda, porque cada um acha-se o que quiser, mas há uma coisa de que eu jamais prescindirei, que é do princípio da dignidade da pessoa, princípio estruturante da matriz judaico-cristã e a raiz da igualdade entre os Homens. Cobardes são os que prescindem de princípios estruturantes sempre que a esquerda os enerva, e só porque a esquerda os enerva", pode ler-se na publicação.
De referir que Adolfo Mesquita Nunes apoiava João Almeida para a liderança do CDS — entretanto derrotado por Francisco Rodrigues dos Santos. Durante o congresso do passado fim-de-semana, o ex-secretário de Estado do Turismo deixou claro que não gostou do que ouviu sobre si, expressões como “direita envergonhada” ou “direita do champanhe” deixaram-no desconfortável. "Onde está a tolerância?", perguntou, minutos antes de falar ao SAPO24. Nesta conversa disse que via na candidatura de Francisco Rodrigues dos Santos "ideias que considero mais velhas do que as minhas".
Já consagrado como líder do partido, Francisco Rodrigues dos Santos — que quer afirmar o CDS como o partido da direita — fez um apelo à união, dizendo no "CDS todos fazem falta" e "ninguém está a mais". Mais: defendeu que o partido "se deve reconciliar com todo o seu passado" pois não tem "arrependimentos permanentes com a história". A tomada de posição de Adolfo Mesquita Nunes hoje, porém, está longe de refletir um partido unido.
Adolfo Mesquita Nunes não foi, porém, o único a referir-se às declarações polémicas de Rodrigues dos Santos e de André Ventura sobre Joacine. A própria deputada do Livre lembrou nas redes sociais que "não é deportada, é deputada".
André Ventura escreveu no Facebook o seguinte: "eu proponho que a própria deputada Joacine seja devolvida ao seu país de origem. Seria muito mais tranquilo para todos… inclusivamente para o seu partido! Mas sobretudo para Portugal”, acrescentou, numa alusão à proposta do Livre para que o património das ex-colónias, presente em museus de Portugal, possa ser devolvido aos países de origem.
Já Rodrigues dos Santos disse que “no CDS não existem Joacines, existe um grupo de pessoas que partilham dos mesmos valores, estão sintonizados na mensagem que querem passar para o país”, assinalou, referindo-se à crise interna entre a deputada Joacine Katar Moreira e os órgãos do partido.
A direção do Livre, em comunicado, saiu em defesa da sua deputada única: “As divergências políticas não podem dar lugar nunca a manifestações discriminatórias, ainda mais por representantes eleitos para a Assembleia da República e por responsáveis políticos e partidários, num Estado de direito democrático assente no pluralismo de expressão, no respeito e garantia de liberdades fundamentais”.
O Livre sublinhou assim que “está e estará sempre na linha da frente no combate a todas as discriminações, repudiando as declarações sexistas e deselegantes de Francisco Rodrigues dos Santos e as palavras deploráveis e racistas de André Ventura, deputado da extrema-direita portuguesa”.
Também o líder do grupo parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, reagiu à polémica através de uma publicação na sua conta oficial da rede social 'Twitter', na qual acusa André Ventura de ter manifestado uma "expressão de racismo e falta de noção democrática". "Este ato exige de todos uma frontal condenação, é isso que proporemos ao presidente da Assembleia da República e a todos os parlamentares", anunciou.
A presidente do Departamento das Mulheres Socialistas acusou também o deputado do Chega, André Ventura, de "racismo" e de "sexismo", violando os princípios fundamentais da Constituição. Uma posição veiculada por Elza Pais, também através do Facebook. "Já chega. O comentário de André Ventura à Joacine [Katar-Moreira] propondo que seja devolvida ao seu país de origem é inadmissível num Estado de Direito democrático por violar os princípios fundamentais da Constituição e da democracia", considerou. Segundo Elza Pais, André Ventura fez "um comentário racista e sexista que não se pode tolerar". "É um atentado à dignidade de todas e de todos nós, à dignidade da pessoa humana. Absolutamente intolerável", escreveu.
Comentários