São as chamadas aldeias prioritárias, onde este verão está em curso o programa “Aldeias seguras, populações seguras”, da Proteção Civil, em que em cada localidade um “oficial de segurança” está encarregado de mobilizar e encaminhar a população para local seguro.
Há cinco anos, começou em Picões um dos maiores incêndios do distrito de Bragança, que se propagou por quatro concelhos.
O que valeu é que o vento desviou as chamas da direção da aldeia, como recordou à Lusa o presidente da junta, Carlos Pousada.
“Aqui é o termo”, enfatizou, apontando para a estrada que termina nesta aldeia do concelho de Alfândega da Fé, onde vivem cerca de 80 pessoas permanentemente.
Para chegar ao nó da estrada IC5 (Itinerário Complementar Número 5), que leva onde é preciso, é preciso fazer cerca de 14 quilómetros, mas o propósito do programa que hoje foi simulado na aldeia é precisamente evitar que, em caso de incêndio, as pessoas se aventurem na fuga.
“Numa situação real, é melhor deslocarem-se para aqui do que fugirem pela estrada, porque nós vimos o que aconteceu o ano passado”, alertou Acúrcio Souteiro, referindo-se aos incêndios que assolaram o país, em 2017, crente de que “se as pessoas tivessem ficado na aldeia, num local mais seguro, talvez não tivesse morrido tanta gente como morreu”.
Acúrcio assume agora, em Picões, o papel de “oficial de segurança” e, tal como fez no simulacro que decorreu hoje, cabe-lhe, quando avisado pela proteção civil da aproximação do fogo, tocar o sino a rebate e juntar a população no largo da aldeia: o refúgio.
Depois da contagem e de reunidas as condições para transportar aqueles com pouca ou nenhuma mobilidade, os habitantes são encaminhados para o refúgio, no Centro Paroquial.
Acúrcio aceitou o papel porque gosta de ajudar e encaixa no perfil: conhece todas as pessoas, os caminhos da zona e pode até ajudar os operacionais que estão no terreno no combate às chamas.
Com o simulacro de hoje, pretendeu-se mostrar a todas as pessoas a importância de saberem exatamente o local para onde se devem dirigir e permanecer em segurança.
Aos operacionais “dá um conforto muito grande saber que as populações estão concentradas num local seguro, sem a necessidade de andar a verificar porta-a-porta se estão na habitação, porque essa passa a ser a tarefa do oficial de segurança", como vincou Noel Afonso, comandante do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Bragança.
No simulacro de hoje, todos seguiram as instruções, até Artur Souteiro, que ia andando e dizendo: “se houver fogo, é acudirmo-nos uns aos outros, não é virmos para aqui”, ou outra habitante que estava à espera que a máquina acabasse de lavar a roupa para ir lá ter.
Outro habitante, António Morais, acredita que, quando for a sério “todos vão cumprir”.
Já a jovem Joana Pereira, que visita frequentemente a aldeia do pai, realçou a importância destas ações “principalmente para transmitir alguma segurança aos idosos, visto que é bastante difícil convencê-los, a maior parte das vezes, a saírem das próprias habitações”.
Também o pároco da aldeia, José António Machado, tem feito o aviso e a sensibilização nas eucaristias e acredita que os habitantes “estão preparados para seguirem as orientações de quem direito”.
Entre as desvantagens do isolamento, Picões conta, pelo menos, com uma operadora de rede móvel e Internet, a garantir as comunicações.
Ao longo da estreita estrada que serpenteia até à aldeia, é visível o trabalho de limpeza da longa extensão florestais, em que se avista parte da albufeira do Sabor, já nos concelhos de Mogadouro e Torre de Moncorvo, com os quais pega, mas para onde não tem passagem em alcatrão.
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