O chefe de Estado respondeu assim às dúvidas que o primeiro-ministro expressou sobre as suas referências a "messianismos" e ao "endeusamento de políticos" na sessão solene do 25 de Abril, que levou António Costa a observar que "é muito difícil interpretar a arte moderna e nem sempre é possível interpretar os discursos modernos".
À entrada para uma conferência no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, questionado pelos jornalistas se é mais fácil interpretar os motivos manuelinos do que a arte moderna, Marcelo Rebelo de Sousa contrapôs: "Não há dúvida nenhuma. Nunca há dúvidas de interpretação de nenhum tipo de arte, no manuelino, no renascentista".
Depois, referindo-se diretamente às dúvidas expressadas pelo primeiro-ministro, o Presidente da República recorreu às palavras de um jovem que contou ter encontrado após a sessão solene de quarta-feira, quando ia nadar, e que disse ter resumido bem a sua mensagem: "Mais vale prevenir do que remediar".
"Era mais ou menos o que eu queria dizer, olhando a outras experiências à volta de Portugal, pela Europa e no mundo", afirmou.
Enquanto caminhava para a entrada do Mosteiro dos Jerónimos, o chefe de Estado ainda acrescentou: "Eu acho que basta olhar à nossa volta, na Europa, para ver o que é que há de populismos, messianismos e sebastianismos. Há muito, de Leste a Oeste".
No seu entender, este é o momento indicado para deixar este alerta, porque no próximo ano "o 25 de Abril fica a um mês de eleições, é a pior altura para prevenir, evitando ter de remediar uns anos claros mais tarde".
"Ontem [quarta-feira] decidi, como sempre que posso faço, ir nadar, e encontrei um jovem assim nos 20 e poucos anos de idade que tinha ouvido na rádio as minhas palavras" relatou.
De acordo com o Presidente, esse jovem perguntou-lhe se o que quis dizer não foi "que mais vale prevenir do que remediar" e a sua resposta foi: "Olhe, acertou".
Depois, o jovem fez "uma pergunta muito inteligente", prosseguiu, "que foi a seguinte: mas por que é que foi este ano e não no ano e que vem, se no ano que vem é que há eleições?".
"Precisamente por isso. No ano que vem o 25 de Abril fica a um mês de eleições, é a pior altura para prevenir evitando ter de remediar uns anos claros mais tarde", justificou.
Instado a esclarecer que messias é que quer prevenir, Marcelo Rebelo de Sousa, retorquiu: "Ele [o jovem] percebeu".
Na sessão solene comemorativa do 44.º aniversário do 25 de Abril, na Assembleia da República, o Presidente da República voltou a alertar para o perigo de fenómenos de "contestação inorgânica e antissistémica e de ceticismo contra os partidos".
Apelou, uma vez mais, à "capacidade de renovação do sistema político e de resposta dos sistemas sociais, de antecipação de desafios, de prevenção de erros ou omissões", mas colocou a tónica no "equilíbrio de poderes", alertando contra "messianismos de um ou de alguns, alegadamente para salvação dos outros".
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