O repto foi lançado por diversas organizações sindicais e comissões de comemoração do 25 de Abril um pouco por todo o país, como forma de celebrar o 46.º aniversário da "Revolução dos Cravos", em tempos de pandemia covid-19, sem sair de casa.
Da cerca de uma dúzia de curiosos às janelas e varandas dos prédios contíguos ao edifício do PCP, na Avenida da Boavista, apenas duas residentes entoavam o tema composto e interpretado por Zeca Afonso: uma a ler um panfleto, com a letra da canção, distribuído em várias zonas do Porto e outra de punho em riste, sem recurso a cábulas.
À porta do apartamento onde cantou sozinha a "Grândola", Marília Ribeiro, reformada de 70 anos, disse à Lusa que esta foi "a forma possível de celebrar Abril".
"Nem sabia se iria estar mais alguém a cantar, mas se tivesse de ser, cantava sozinha", afirmou, revelando ainda que não tem a certeza de que "os valores de Abril sejam para durar".
Marília Ribeiro celebra a Revolução de 1974 "todos os anos, na Avenida dos Aliados", e tem reservas quanto ao regresso dos valores de Abril numa sociedade pós-covid-19.
"Espero que sim, que esses valores se tornem mais fortes, mas tenho as minhas dúvidas", confessou.
Já as varandas da sede do PCP estiveram preenchidas por militantes de cravo em punho e a cantar aquele que foi o tema escolhido pelo Movimento das Forças Armadas como segunda senha de sinalização para a "Revolução dos Cravos" de 1974.
Em torno de uma faixa vertical que percorria todo o edifício com a efígie de um cravo e o lema "25 de Abril Sempre", os cerca de 20 militantes cantaram a "Grândola" às 15:00 em ponto.
Para Diana Ferreira, deputada do PCP pelo Porto, a celebração do 25 de Abril é hoje "mais importante", sobretudo pelos "trabalhadores que ficam sem qualquer tipo de proteção social e rendimentos, pelo recurso abusivo pelas empresas ao 'lay-off', pela imposição de férias aos trabalhadores, ou pelo atropelo aos direitos laborais que são absolutamente inaceitáveis, muito menos a pretexto da covid-19".
"No combate à pandemia, nem um direito a menos", asseverou a deputada, para concluir que "os direitos não estão de quarentena".
Depois de soarem a "Grândola Vila Morena", e interrompidos por cânticos de "25 de Abril Sempre, Fascismo Nunca Mais", os altifalantes da sede do PCP debitaram o hino nacional, a que praticamente todos os curiosos das habitações vizinhas acompanharam em uníssono.
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