“Um jogo de honra”, tradução do original “Tommys honor” é, à primeira vista, um filme sobre golfe e sobre a história do nascimento do golfe moderno.
Bonito e espetacular para uns, um tédio para outros, transpor o jogo dos 18 buracos para o ecrã, se assim limitado fosse o enredo, interessaria talvez só aos apaixonados na longa e variada história do jogo das caminhadas e tacadas pelos verdes campos.
Mas o filme de Jason Connery, filho de Sean Connery, baseado na história verídica de Tommy Morris, o primeiro profissional de golfe da história, é muito mais que isso.
Passado em St. Andrews, na Escócia, durante a era vitoriana, a narrativa começa em 1866 quando Tommy Morris, um jovem de 15 anos, vai para um campo de golfe com o pai, Tom Morris.
O velho Tom (“Old Tom”) é então responsável pelo campo de golfe Royal & Ancient Golf Club of St. Andrews, onde estabeleceu a volta convencional de 18 buracos. É o melhor fabricante de tacos e bolas da cidade e das suas mãos saíram, igualmente, os desenhos de campos como Prestwick e Muirfield. Por fim, foi vencedor, por três vezes, do The Open Championship (British Open), fundado por ele em 1860, sendo o mais velho jogador a vencer o troféu, com 46 anos.
Os feitos do mais velho dos Morris são igualados por Tommy (“Young Tom”) que ficou para a história ao vencer por três vezes consecutivas, no século XIX, o The Open Championship, o mais antigo dos quatro principais torneios de golfe do mundo” (os quatro do Grand Slam).
Para os amantes e praticantes, mergulhar nos primórdios da modalidade e ver o contributo dados pelos Morris, duas lendas do golfe, seria, por si só, motivo mais que suficiente para entrar nas salas de cinema.
Uma leitura social do jogo de gentleman’s
Mas o filme é acima de tudo uma biografia de pai-filho, dois caddies e campeões escoceses de golfe, cujas conquistas em campo moldaram o jogo tal qual é hoje jogado.
Relatando o complexo relacionamento entre ambos, apesar da história (verídica) dos pais do moderno golfe ser baseada no desporto, este serve apenas de cenário. O tema tem a ver com família, relação sociais, ou antes, uma espécie de luta de classes ao longo de 18 buracos, um desafio à hierarquia social estabelecida, amor, sofrimento, perdas, drama e, por último, honra.
Em cada geração (e muitas profissões) o pai passa o testemunho ao filho. É nesta dinâmica intemporal e geracional que reside a alma de “Um jogo de honra”.
Partilhando a paixão pelos tacos e bolas, pai e filho desviam-se na leitura das regras de classe social que estão implícitas. O filme mostra que o jovem Tommy e o seu talento natural desafiam a hierarquia social que há muito definia o jogo – com a aristocracia local a açambarcar vitórias -, entrando em choque com o progenitor, de postura e comportamento mais tradicional e que aceitava, sem questionar, o lugar a que lhe estava reservado na história.
O filme cai no retrato chauvinista do “clubhouse” que é satirizado, especialmente quando o pequeno Tommy conhece o amor da sua vida, uma empregada de mesa, alguém inferior, ainda assim, na fileira social.
Filmado inteiramente na Escócia durante o outono de 2015, numas paisagens que não estão muito longe de uma brochura turística das Highlands, a beleza selvagem é repetidamente obscurecida por homens pomposos, de fartos bigodes, proeminentes barrigas e preconceitos de classe a transbordar, deixando cair, por vezes, o estatuto de “gentleman’s”.
Para dar algum “sal” as personagens femininas – mãe e mulher do “young” Tommy – estão ligadas umbilicalmente ao drama que mete mortes à mistura. Em especial esta última, Meg, a empregada de mesa que viria a viver com o profissional de golfe.
Em resumo, o filme não será um “hole in one”. Mas ao longo de 112 minutos poderemos considerar que fizemos um bom “par” e saímos com o nosso handicap inalterado.
“Uma questão de honra” estreia a 13 de julho, numa parceria entre a Federação Portuguesa de Golfe e a NOS.
Título: Tommy’s Honour
Diretor: Jason Connery.
Atores: Peter Mullan, Jack Lowden, Ophelia Lovibond, Sam Neill, Therese Bradley.
Duração: 112 minutos
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