Duas semanas depois do encerramento, o trabalho da equipa técnica da biblioteca é intenso. Até ao início das obras, previsto para dezembro, toda a documentação terá de ser empacotada.
Esse trabalho já começou e uma sala no rés-do-chão serve de amostra daquilo em que se irão transformar em breve os vários espaços desta biblioteca.
Naquela pequena sala, centenas de caixas vão sendo acomodadas em pilha. Algumas com dezenas de livros no seu interior, outras com periódicos que contam as diversas notícias destes e de outros tempos.
Cada caixa contém um bilhete de identidade, que assegura quais são os documentos ali acomodados e que vão partir para custódia, onde permanecerão até à conclusão das obras.
Nesta biblioteca a perder de vista, residem cerca de um milhão de documentos, o equivalente a cerca de 20 quilómetros.
O terceiro e último piso do edifício, que desde 1842 alberga a biblioteca, abriga o depósito de monografias. O segundo, monografias e o livro antigo. O primeiro a biblioteca sonora e o rés-do-chão os periódicos.
Cada sala é aparentemente idêntica à primeira e a quase todas, mas cada documento é único e insubstituível.
Pelos corredores da biblioteca, centenas de estantes vão sendo verificadas: “Indisponível verificado”, lê-se num papel afixado pela equipa técnica e que indica que os livros estão revistos e prontos a seguir viagem.
Pequenos papéis – uns vermelhos e outros brancos – vão, no entanto, destoando no meio dos livros. “São fantasmas”, explicam à Lusa as técnicas da biblioteca e cada um representa um livro em circulação, consulta ou empréstimo.
Apesar de organizadas segundo com o novo sistema de marcação, algumas estantes ainda guardam livros com a marcação antiga. Com a esfera armilar na lombada, a maioria destas páginas conta histórias de navegação.
Se os 12.000 metros de monografias estão organizados por período temporal, com as mais antigas nas estantes interiores e as recentes nas laterais, os 3.500 metros de livro antigo são maioritariamente organizados por peso, com as últimas prateleiras de cada estante a acomodar os mais pesados.
No primeiro piso, são, no entanto, cassetes e não livros que preenchem as estantes, fruto de um projeto iniciado há 50 anos: a biblioteca sonora.
Destinada a pessoas cegas ou com dificuldade em folhear livros, nesta biblioteca existem 5.800 livros em cassetes e 2.100 livros digitalizados.
Pelas escadarias do edifício vão repousando, em caixas, alguns livros. Em breve partirão para a Biblioteca Almeida Garrett, como muitos que já foram e tantos outros que estarão por ir.
No total, vão ser transferidos 70.000 documentos para a biblioteca situada nos jardins do Palácio de Cristal, tendo por base critérios de procura e de áreas temáticas.
No rés-do-chão da biblioteca, residem 7.500 metros de periódicos.
Milhares de jornais, boletins, revistas e anuários, cujo material frágil não foi feito para durar, são guardados e tratados com os maiores dos cuidados em cinco salas. Vão do século XVII à atualidade, sendo o mais antigo a “Gazeta da Restauração”, que remonta a 1641.
Esse exemplar não está, no entanto, guardado nestas estantes, mas na Casa Forte, espaço que acomoda cerca de 70.000 preciosos tesouros, desde manuscritos da época medieval, como os Santa Cruz de Coimbra ou o Roteiro da Primeira Viagem de Vasco da Gama à Índia, a incunábulos, impressos e cartografia.
Durante as obras, os tesouros da Casa Forte vão sair da biblioteca, “mas não das mãos da câmara”, que irá salvaguardar estes documentos num dos espaços do município, contou à Lusa Sílvia Faria, chefe da divisão municipal de bibliotecas.
Ainda que ao cuidado da autarquia, estes documentos implicam o cumprimento de parâmetros específicos de humidade relativa, temperatura e segurança. A temperatura deverá variar entre os 18 e 21 graus e a humidade entre 45 a 50%.
Estes parâmetros terão de se manter na nova casa forte da renovada biblioteca, que será um espaço epóxico.
“É um trabalho intenso e exige uma grande capacidade técnica”, destacou Sílvia Faria.
Sem capacidade para dar resposta a todo o trabalho que será necessário até dezembro, a equipa da biblioteca está neste momento a fazer um empacotamento prévio dos documentos.
Numa fase posterior, vai acompanhar as empresas responsáveis pelo transporte e a custódia.
Ciente de que esta é uma missão “muito exigente”, Sílvia Faria espera que a equipa consiga cumpri-la na mudança, mas também no regresso à reabilitada biblioteca, até porque, um livro fora do sitio é um livro perdido.
*Por Sofia Cortez (texto) e José Coelho (foto), da agência Lusa
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