A série "The Chosen", com Jonathan Roumie no papel de Jesus Cristo, é produzida fora dos grandes estúdios de Hollywood e tornou-se um sucesso global, com mais de 580 milhões de visualizações em 197 países e traduzida em 600 idiomas.

O próprio percurso de Roumie é quase cinematográfico. Em 2015, era apenas mais um ator católico em dificuldades em Los Angeles. Após uma oração em que entregou o seu destino a Deus, foi convidado por Dallas Jenkins para protagonizar "The Chosen", um projeto que pretendia contar a vida de Cristo com realismo, emoção e uma abordagem narrativa em formato de série.

Com um orçamento inicial de 10 milhões de dólares, a primeira temporada foi filmada no Texas e em Cafarnaum, Israel, e desde então a produção tem crescido exponencialmente. A quinta temporada, intitulada "Last Supper" ["A Última Ceia"], estreou nos cinemas este mês e contou com um orçamento de 48 milhões de dólares.

Uma série "muito bem recebida" em Portugal

Em Portugal, a série tem sido promovida pelo padre jesuíta Paulo Duarte, principalmente através das redes sociais. O convite chegou-lhe por parte do movimento "The Chosen" internacional, através de "uma agência de comunicação católica".

"Acharam que eu seria uma pessoa para, pelo menos nesta fase de introdução, apresentar este projeto no país, tendo em conta que tenho algum dinamismo e alguma presença nas redes", explica ao SAPO24.

"Eu já conhecia a série até antes de ser promotor, gosto da série, e acharam que seria uma oportunidade também de fazer uma ponte e de mostrá-la num campo mais diversificado", acrescenta.

Promovida em Portugal desde novembro de 2024, a série "The Chosen" tem sido "muito bem recebida". "Já ia sendo mais ou menos conhecida, mas agora é de uma forma mais oficial, com as páginas oficiais, e tem sido mais amplamente divulgada".

Contudo, para já não existem dados oficiais quanto a espectadores no país — mas as páginas nas redes sociais têm vindo a crescer em número de seguidores, o que é um bom indicador. No Instagram, são mais de 4 mil e, no Facebook, já ultrapassa os 8 mil.

Além disso, o que está a acontecer nos cinemas, com o "lançamento dos dois episódios da quinta temporada", também é revelador: as salas têm estado "cheias, quase esgotadas".

Para o promotor de "The Chosen", uma série desta dimensão mostra "a importância de dar a conhecer quem é Jesus e os seus discípulos", até para quem não acredita em Deus.

"Os crentes podem identificar-se. Cada episódio, ou cada temporada, vai mostrando passagens do Evangelho e até, uma outra vez, de outros livros bíblicos, sobretudo os inícios dos episódios, que dão uma outra visibilidade ao Evangelho. Portanto, ajuda a viver a fé, até mesmo a própria oração", nota.

Para os não crentes, é também uma forma de conhecerem Jesus, "até com algum humor, com uma visão não tanto idealizada ou, passo a expressão, beata". "De repente, [surge] um Jesus que é real, que conversa com os discípulos, como assim aconteceu, mas que é exemplificado de uma forma muito bonita".

O que justifica o sucesso?

Para Dallas Jenkins, o criador da série, de 49 anos, que co-escreve e dirige todos os episódios, o mérito vem da raiz. "É a história mais famosa e bem sucedida da História, por isso não posso ficar com os louros".

"Mas talvez tenhamos feito um bom trabalho ao recordar ao espectador, cristão praticante ou não, a sua humanidade e relevância", diz, citado pelo The Guardian.

Além disso, o carisma de Jonathan Roumie também é um marco importante. "Eu vi o que toda a gente está a ver", recorda. "Enquanto a maioria das representações anteriores eram de Jesus hippie ou de Jesus formal com uma auréola à volta da cabeça, Jonathan consegue fazer a piedade e a autoridade ao mesmo tempo que faz o humor e a intimidade".

Para o padre Paulo Duarte, o facto de Jonathan Rumi assumir "ser católico e o quanto reza" e o quanto se prepara "não só como ator no sentido profissional, mas também no sentido espiritual", ajuda a que a sua interpretação seja bem recebida.

E há outro indicador importante: "é a primeira vez que temos uma série tão desenvolvida", já que geralmente surgem apenas filmes sobre a vida de Jesus e não algo tão extenso como é "The Chosen".

"Uma série com muitos episódios dá para desenvolver a personagem de Jesus de uma forma muito mais forte. E o Jonathan Rumi reza, entra muito no texto — e não só ele, mas quase todos os atores", acrescenta.

Com a quinta temporada a estrear, os olhos estão já postos na seguinte. Na sexta, que vai contar a história da crucificação, espera-se um enorme impacto, também pelo ponto atingido pela narrativa.

Depois de tudo acabar, o que se prevê que acontece apenas com uma sétima temporada, "The Chosen" não vai ficar por aqui: há também spin-offs em preparação, incluindo uma série infantil de animação, uma minissérie e até um reality show.

Uma série gratuita e uma produtora que começou por censurar filmes "pouco cristãos"

A série "The Chosen" é disponibilizada gratuitamente através da sua própria aplicação. E tal só é possível porque a Angel Studios, produtora responsável por "The Chosen" e criada pelos irmãos Harmon, membros da Igreja Mórmon, aposta num modelo de financiamento por crowdfunding.

Originalmente lançada como VidAngel, em 2014, o objetivo inicial desta produtora era censurar o conteúdo de Hollywood para espectadores cristãos, filtrando cenas consideradas ofensivas, principalmente quando incluíam violência, profanação ou nudez.

Em 2016, vários estúdios moveram ações judiciais por violação de direitos de autor e, em 2021, a empresa mudou de nome para Angel Studios e começou a criar o seu próprio conteúdo.

Com essa missão em vista, a produtora reparou na curta-metragem "The Two Thieves", de Jenkins e com a participação de Roumie, que conta a história da morte de Jesus na perspetiva dos ladrões crucificados ao seu lado. Depois, Jenkins explicou os seus planos para "The Chosen" e a produtora sugeriu-lhe que aumentasse o orçamento através da extensa rede de apoiantes cristãos do estúdio. O método funcionou — e quem contribuiu recebeu dividendos pelos seus investimentos e até teve a regalia de poder aparecer como figurante na série.

As primeiras quatro temporadas foram totalmente financiadas desta forma. Agora, o dinheiro chega através de doações a uma organização sem fins lucrativos e "vai diretamente para a produção da próxima temporada".

Com este sucesso, a Angel Studios pretende construir uma espécie de streaming de conteúdos gratuitos e baseados na fé — como é o caso do filme de animação "O Rei dos Reis", também já disponível nos cinemas portugueses, e que conta a história de como o  escritor Charles Dickens cativou o seu filho através da história de Jesus Cristo.