O historiador de arte António Filipe Pimentel e o curador francês Benjamin Weil foram anunciados em dezembro do ano passado para liderar a mudança dos museus da Fundação Calouste Gulbenkian, que voltaram a autonomizar-se – com o regresso do Centro de Arte Moderna (CAM) -, “mantendo uma ligação, como duas partes de uma mesma instituição”.
Numa conferência de imprensa que contou com a presença de ambos, da presidente da Fundação Gulbenkian, Isabel Mota, e do administrador Guilherme d’Oliveira Martins, foi apresentada a visão atual da fundação para os seus museus e coleções de arte, no dia em que começam as obras no CAM.
Ainda relativamente aos seus espaços, a Gulbenkian indicou que, na sequência de negociações, passou a ser proprietária da parte do jardim que vai até à Rua Marquês de Fronteira, que será aberto ao público, ligando-se ao novo projeto da Câmara Municipal de Lisboa para a Praça de Espanha.
Depois das obras, os visitantes do CAM passarão a entrar pelo jardim dessa zona, indicou o curador Benjamin Weil, sobre esta remodelação do edifício, atualmente encerrado, e com reabertura prevista para 2022.
Por seu turno, António Filipe Pimentel, diretor do Museu Gulbenkian – que Isabel Mota definiu como “a joia da coroa da Gulbenkian”, por albergar a coleção de arte do fundador -, anunciou que, para outubro desse ano, está prevista a apresentação da “maior exposição alguma vez vista” em Portugal, dedicada aos faraós e à arte egípcia.
“Serão duas exposições numa só, numa perspetiva desde o século XVIII até à atualidade, e numa perspetiva contemporânea”, apontou o novo diretor, sobre esta mostra “Faraos Superstar”, que focará a “egiptomania” na antiguidade e na atualidade.
Sem querer adiantar mais pormenores sobre essa exposição, Pimentel anunciou que este ano será levada a cabo a campanha “Art Matters”, na mesma linha do apelo desencadeado pelos movimentos “Black Lives Matter” e “I Can’t Breathe”, nos Estados Unidos, no campo da cultura, com a ideia de que “é preciso respirar, que a arte serve de consolo e abre a perspetiva criativa que contribui para aumentar a resistência da Humanidade”.
A campanha, que representa também “uma nova forma de comunicar com os públicos”, irá durar todo o verão, segundo o responsável, e tem como objetivo provocar a reflexão: “Estamos em risco de perder uma geração de criadores artísticos e isso será irreparável. Precisamos de travar isso”, defendeu, sobre os efeitos nefastos que a pandemia provocou na área da cultura, ao longo de mais de um ano.
Espalhada pelas ruas de Lisboa, a campanha marcará presença nas plataformas ‘online’ da Fundação, para “sublinhar a relevância da arte e do seu poder regenerador em toda a sociedade, especialmente em momentos de crise”.
Nesta linha de suscitar a reflexão, serão realizadas palestras, para as quais há 34 convidados, 19 deles internacionais, para falar sobre o papel dos museus na educação, disse o historiador que dirigiu o Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, durante dez anos.
Por seu turno, Benjamin Weil, o novo diretor do CAM, revelou que, neste museu renovado, os visitantes vão ter a possibilidade de ter uma “experiência à medida”: “O público pode entrar e usufruir do museu consoante a sua disponibilidade de tempo, sejam dez ou vinte minutos”, descreveu, sobre a filosofia que pretende imprimir no espaço, para promover “uma experiência diária de arte, em vez de mensal ou anual”.
Criado em 1983, o CAM alberga uma coleção, oficialmente iniciada em 1956, reunindo obras de mais de 1.200 artistas, desde Amadeo de Souza-Cardoso, Almada Negreiros e Sarah Affonso, a Paula Rego e Maria Helena Vieira da Silva ou Gabriel Abrantes.
Benjamin Weil – escolhido por concurso internacional, tal como Pimentel – foi convidado para definir o rumo do novo ciclo de vida do CAM, que teve a designação de Coleção Moderna durante a direção da britânica Penelope Curtis.
“As práticas artísticas mudaram muito”, comentou Weil, defendendo que o CAM “deve ser um local onde os visitantes descobrem novas formas de arte, tendo em conta a coleção existente”.
A ideia do novo diretor – crítico de arte e antigo diretor artístico do Centro Botín, em Santander, Espanha – é que o CAM venha a constituir “uma interface entre a arte e o público”, sustentado na diversidade, e explorando “as formas artísticas mais ousadas dos anos 1980″.
Penélope Curtis, historiadora de arte, esteve na Gulbenkian ao longo de cinco anos, tendo terminado o mandato em agosto de 2020, depois de ter unido o museu e o CAM numa mesma unidade, os Museus Gulbenkian – Coleção do Fundador e Coleção Moderna, um modelo que não gerou consenso na comunidade da museologia e no público.
O Museu Calouste Gulbenkian alberga a chamada Coleção do Fundador, reunida por Calouste Sarkis Gulbenkian ao longo da sua vida (1869-1955), e o Centro de Arte Moderna a coleção de Arte Moderna e Contemporânea, que começou a ser constituída na década de 1950, com a aquisição de obras de artistas portugueses e estrangeiros contemporâneos.
A Coleção do Fundador totaliza mais de seis mil peças, desde a Antiguidade até ao início do século XX, incluindo Arte Egípcia, Arte Greco-romana, Islâmica e do Extremo Oriente, e ainda Numismática, Pintura e Artes Decorativas europeias.
A coleção do Centro de Arte Moderna reúne a maior e mais completa coleção de arte contemporânea portuguesa, bem como um importante núcleo de arte britânica do século XX.
Comentários