Não foi assim há tanto tempo que olhávamos para uma refeição num restaurante como apenas mais um plano vulgar para passarmos tempo de qualidade com aqueles de quem mais gostamos. Escolhíamos uma data em que todas as pessoas envolvidas estivessem disponíveis, debatíamos sobre o tipo de cozinha que nos apetecia e, finalmente, chegávamos a acordo sobre um restaurante do qual todos gostassem.

As últimas semanas alteraram essa realidade e o que antes não passava de uma banalidade, tornou-se algo que ansiamos poder fazer novamente sem pensar duas vezes. O impacto da Covid-19 estendeu-se um pouco por toda a economia portuguesa, sendo o setor da restauração, a par do alojamento, um daqueles onde mais se têm feito sentir os efeitos negativos do isolamento social exigido, para juntos podermos ultrapassar esta pandemia.

Momentos de espera para escolher um prato do menu foram substituídos por idas cirúrgicas e cuidadosas aos supermercado, ao passo que encontros de amigos em cafés e bares foram substituídos por videochamadas no Skype, no Whatsapp, no Zoom e noutras plataformas que temos ao nosso dispor.

Em Portugal, segundo o Diretório de Empresas do Jornal de Notícias, existem perto de 25 mil restaurantes e 23 mil estabelecimentos de bebidas (bares e cafés), que terão sido, na sua maioria, obrigados a fechar os seus espaços devido ao novo coronavírus. Simultaneamente, de acordo com a AHRESP (Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal), estes locais empregavam, no final do terceiro trimestre de 2019 quase 250 mil pessoas, o que equivale a quase 5% de toda a população ativa portuguesa (dados PORDATA).

É, por isso, um problema de grande dimensão para o país e que é transversal a todas regiões, todas elas afetadas por quebras no consumo por parte dos seus cidadãos e nas receitas ligadas ao turismo. Neste contexto, existem dois fenómenos que estão a ser observados no setor da restauração, que são uma amostra do tipo de iniciativas que estão a ser tomadas por parte de empresas e consumidores, para garantir que os grupos de pessoas e de empresas que dependem desta indústria conseguem sobreviver a este período de desaceleramento económico.

O primeiro é a maior preponderância do comércio online e das plataformas de entrega de refeições, como a Uber Eats e a Glovo. Num estudo da SIBS (entidade gere os sistemas de multibancos em Portugal) sobre o impacto do novo coronavírus nos hábitos de consumo dos portugueses, foi revelado que, apesar de uma quebra generalizada, a percentagem de compras online ligadas aos setores da Cultura, ao Comércio Alimentar e à Restauração subiu de 30% no início de março para 55% no final da semana passada. Estes números demonstram que, apesar de não poderem receber clientes nos seus espaços, ainda há oportunidade de negócio para restaurantes tentarem fazer chegar as suas refeições às pessoas, adaptando-se à mudança no comportamento dos consumidores que continuam a procurar os seus serviços, mas privilegiando o distanciamento social.

O segundo fenómeno está relacionado com iniciativas como o Juntos Voltamos Já, cuja abordagem passa por investir no futuro dos estabelecimentos. Através de uma plataforma digital suportada pelo SAPO Voucher, a ideia passa por incentivar os consumidores a comprarem vouchers dos seus locais favoritos que depois poderão usar mais tarde quando estes reabrirem as suas portas.

Os vouchers existem entre os valores de 5 a 100 euros e podem ser usados pelos consumidores em refeições e bebidas nos seus restaurantes e bares prediletos, até seis meses depois do fim do Estado de Emergência ser decretado. Podem ser adquiridos em voucher.sapo.pt ou no site da iniciativa em juntosvoltamosja.pt, onde os estabelecimentos também se podem inscrever para poderem beneficiar desta “ajuda”. Estes são alguns dos restaurantes que já se juntaram à plataforma:

  • O 100 Peneiras é um acolhedor restaurante no Seixal conhecido pelos seus pratos tipicamente portugueses, intercalando pratos de carne com petiscos característicos da nossa cozinha para partilhar com quem o acompanha na refeição.
  • No Restaurante Sidraria Celta Endovélico, no Porto, as tapas são mesmo a palavra de ordem com diversos tipos de petisco entre enchidos, saladas e tábuas de queijos. E, claro, com um copo de vinho a acompanhar.
  • Por sua vez, o Gutsy, em Carcavelos, oferece uma carta diversa de hambúrgueres acompanhados de batata frita, nomeados com adjetivos que todos desejamos que se apliquem a nós desde Corajoso e Aventureiro a Audaz e Valente.

O “Juntos Voltamos Já” é uma iniciativa da AHRESP e do Turismo de Portugal, apoiada por diversas marcas, entre elas a Sagres, a Delta Cafés, a Olá, a Buondi, a Compal, a Schweppes, a Luso, a Carte D’Or, a Sical, a Go Chill, a Sumol e a Ticket Restaurant. Com este apoio, o objetivo é desafiar ainda mais marcas a seguirem o mesmo caminho e juntarem forças na disponibilização de cabazes aos pontos de venda aderentes, para minimizarem o esforço financeiro que terão de fazer na sua reabertura.

Com o período de isolamento social, é importante encontrar uma maneira de, em conjunto, poder impedir que estes negócios e as pessoas que dependem deles fiquem numa situação ainda mais complicada, pelo que são iniciativas como esta que podem ajudar a isso aconteça. Os serões nas esplanadas, os brindes à mesa e as conversas ao balcão poderão assim voltar, mais facilmente, da forma banal e vulgar que todos desejamos.