Esta é a segunda vez que Itamar Vieira Júnior recebe o Prémio Jabuti, depois de o ter alcançado em 2021 com o romance “Torto Arado”, vencedor do Prémio LeYa, em 2018, obra igualmente distinguida com o Prémio Oceanos, em 2020, e, este ano, com o prémio da fundação francesa Montluc Resistance et Liberté, que reconhece obras sobre temáticas de resistência e liberdade.

A atribuição do prémio Jabuti de romance “consagra definitivamente Itamar Vieira Júnior como um dos autores mais relevantes da atual literatura brasileira”, escreve a editora portuguesa do autor, a Dom Quixote do grupo Leya, numa reação ao prémio.

“Salvar o Fogo” foi publicado em abril do ano passado, em Portugal, e conta a história de Moisés e da sua irmã Luzia, que assume a figura materna após a morte da mãe, estabelecendo-se entre ambos "uma relação tocante e comovente", que "tem como cenário o Brasil rural e profundo, o mesmo, de resto, do seu anterior romance”, refere a Dom Quixote.

Para o jornal O Estado de São Paulo, Vieira Júnior, em "Salvar o Fogo", mostra com mestria como as personagens enfrentam "as maiores injustiças", entre a orfandade de Moisés e a marginalização de Luzia, "estigmatizada pela população por seus supostos poderes sobrenaturais". Luzia acaba por se entregar a "um profundo sentido religioso" com impacto na extrema rigidez da educação de Moisés.

Natural de Salvador, capital do Estado brasileiro da Baía, Itamar Vieira Júnior é geógrafo, doutorado em Estudos Étnicos e Africanos.

Além de “Torto Arado, traduzido em 28 países - e que em Portugal já vendeu um milhão de exemplares -, o escritor publicou também o livro de contos “Doramar ou a Odisseia – Histórias” (2022), que antecedeu "Salvar o Fogo”, já publicado em nove países.

Para o próximo ano, segundo o Grupo Leya, está prevista a edição em Portugal de “Chupim”, o primeiro livro infantil do escritor.

A 66.ª edição do Jabuti distinguiu ainda, na área do conto, "O Ninho", de Bethânia Pires Amaro; na Crónica, "Sempre Paris: Crônica de uma Cidade, Seus Escritores e Artistas", de Rosa Freire D'Aguiar; "Como pedra", de Luckas Iohanathan, na Banda Desenhada; "Cabo de guerra", de Ilan Brenman e Guilherme Karsten, na Literatura Infantil; "Apytama: Floresta de histórias", de Kaká Werá, na Juvenil; e "Cabeça de galinha no chão de cimento", de Ricardo Domeneck, na Poesia. Na ficção de Entretenimento, o prémio foi para "O crime do bom nazista", de Samir Machado de Machado.

Em primeira obra de Poesia foi premiado "Breve ato de descascar laranjas", de Bianca Monteiro Garcia e, de Romance, "Os náufragos", de Patrícia Larini.

Nas áreas de Não Ficção foram distinguidos os livros "Baviera Tropical", de Betina Anton, na categoria de Biografia e Reportagem, uma investigação sobre a trajetória de Josef Mengele, "o mais infame dos médicos nazis", no Brasil; "A verdade vos libertará", de Gabriela Biló, Medo e Delírio e Pedro Inoue, em Artes; "O mutirão das árvores: queremos sombra e água fresca", de Claudio de Moura Castro, em Economia Criativa, e "Consumo Verde", de Ricardo Esturaro, em Negócios; "O Sentido da Vida", de Contardo Calligaris, foi premiado em Saúde e Bem Estar; e "Como ser um educador antirracista", de Bárbara Carine, em Educação.

No eixo de produção editorial, os Jabuti premiaram a ilustração de Guilherme Karsten em "Cabo de guerra", o projeto gráfico de "Bará", de Felipe Chodin, para a editora Act, e a tradução de João Carlos B. Gonçalves para o texto sânscrito do século XII "Canto para Govinda".

Os Jabuti homenagearam ainda a escritora Marina Colasanti, 87 anos, como Personalidade Literária de 2024, pela "sua contribuição para a literatura, com livros que tratam de temas universais de maneira simples e poética, conquistando leitores de todas as idades".

Com mais de 50 anos de carreira, a autora ítalo-brasileira soma nove prémios Jabuti.

A lista de vencedores pode ser consultada online.