O ciclo, que decorre desde 2013, é dedicado à “relação do cinema com a música”, explicou o diretor artístico da Casa da Música, António Jorge Pacheco, debruçando-se ora sobre bandas sonoras existentes, ora sobre filmes mudos, aí apresentando criações contemporâneas.
“Este ano, há uma aposta clara em obras encomendadas décadas depois de o filme ter sido produzido. É uma aposta forte -- as encomendas --, de trazer ao público obras inéditas em Portugal. [O ciclo] tem quatro espetáculos, três deles cine-concertos”, acrescentou.
O Invicta Música Filmes arranca no sábado com a Digitópia, coletivo residente da Casa, a musicar “A Viagem à Lua”, de 1902, do realizador francês Georges Meliès, pioneiro do cinema, com interpretação de Jorge Queijo, Óscar Rodrigues e Paulo Neto, pelas 16:00.
Duas horas depois, segue-se “J’accuse”, pela Orquestra Sinfónica do Porto, que vai ser dirigida por Christian Schumann, na estreia em Portugal da música que Philippe Schoeller compôs, por altura das celebrações do centenário da I Guerra Mundial.
A obra, primeiro estreada em 1919, representa o olhar de Abel Gance sobre as trincheiras do primeiro grande conflito à escala mundial, “colocando o enredo amoroso” nesse contexto.
No domingo, pelas 12:00, há um “concerto para famílias, dos avós aos netos”, como destacou António Jorge Pacheco, com a Banda Sinfónica Portuguesa, sob a batuta de Andrea Loss, a interpretar várias obras famosas do cinema.
Arranca com “Star Wars”, do norte-americano John Williams, e passa por Nino Rota, Ennio Morricone ou Michael Kamen, antes de regressar ao compositor da música que acompanha a saga “Guerra das Estrelas” para o tema de “Parque Jurássico”.
O último cine-concerto decorre no dia 18 de fevereiro, terça-feira, na Sala Suggia, que recebe a estreia mundial de uma encomenda da Casa da Música e da Philarmonie do Luxemburgo a Igor C. Silva, "Jovem Compositor em Residência da Casa da Música em 2012".
A peça, interpretada pelo Remix Ensemble e pelo próprio compositor, a par da eletrónica da Digitópia, seguirá no final do ano para o Luxemburgo e é apresentada, aqui, pela primeira vez, acompanhando o filme do jornalista Reinaldo Ferreira, que assinava os seus textos como Repórter X.
"A minha primeira abordagem foi começar a perceber em como é que vou criar interesse num filme em que metade do filme são diálogos [cartões de texto com as falas]. (...) Tive de arranjar uma forma interessante de pontuar os diálogos, e o que fiz foi analisar a rítmica do que é filme, legenda e mudanças de câmara”, explicou Igor C. Silva.
O compositor destacou ainda que partiu de uma noção “barata”, o de trazer para o filme um trabalho de sonoplastia, para utilizar, por exemplo, o som de uma porta a bater como “um instrumento musical” que traz “uma harmonia que se torna um acorde para o ‘ensemble’”.
A história de "O táxi n.º 9297", que deu origem ao filme, inspira-se na morte da atriz portuguesa Maria Alves, em 1926, estrangulada dentro de um táxi, atribuindo a autoria do crime ao empresário e antigo amante, com a conivência do motorista do táxi n.º 9297. As investigações policiais posteriores confirmaram a hipótese de Reinaldo Ferreira.
O filme, que conciliou os elogios do público e da crítica, à época, foi rodado em 1927, nos antigos estúdios Invicta Film, no Porto, e foi lançado em DVD pela Cinemateca Portuguesa, em 2018, numa edição que também inclui "Rita ou Rito?…", curta-metragem dirigida na mesma altura (1927), por Reinaldo Ferreira. As cópias foram restauradas pela Cinemateca. Nesta edição em DVD, os dois filmes têm acompanhamento ao piano do pianista Filipe Raposo. O DVD inclui ainda o ensaio documental "Os Motivos de Reinaldo Ferreira", de Ricardo Vieira Lisboa.
"O táxi n.º 9297", o livro, teve nova edição no ano passado, pela Relógio d'Água.
Reinaldo Ferreira, que assinou muitos dos textos jornalísticos como 'Repórter X', utilizou este pseudónimo para criar uma produtora de cinema pela qual escreveu e realizou quatro filmes.
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