
1. Calhau com dois olhos
Estúpido, acéfalo. Aplica-se para desqualificar completamente alguém, comparando-o com um calhau, uma pedra, que é desprovida de inteligência. O animismo com dois olhos aumenta, sem dúvida, o efeito pretendido, pois a verdade é que o facto de acrescentar a visão a um mineral não lhe confere qualquer vantagem. É como se visse as coisas, mas não percebesse nada.
2. Cara de cu à paisana
Feio, antipático. Expressão utilizada para referir alguém, conhecido ou desconhecido, de quem não se gosta. A associação é feita de duas maneiras: primeiro a referência ao rosto, nada agradável, que mais parece um traseiro; e depois o facto de andar dissimulado, à paisana, numa alusão implícita às autoridades policiais, que também são vistas por muita gente com desconfiança.
3. Cu d’arroba
Anafado, que tem nádegas muito volumosas em relação ao resto do corpo. Aqui, o tripeiro andou sempre muito à frente. Antes da moda do traseiro‑camião, ao estilo Kardashian, era inestético e motivo de gozo o facto de alguém ter as nádegas avantajadas. A alcunha mais vulgar era a de cu d’arroba, ou seja, como que a dizer que só o traseiro pesava 15 quilos (uma arroba).
4. Lambão
Guloso. Egoísta. Ora aqui temos um termo que no Porto ganha especial sentido, sendo, de resto, uma das palavras mais tripeiras. Se, por um lado, o lambão é aquele que se lambuza quando come (comilão, lambareiro), por estes lados aplica-se igualmente ao indivíduo que quer tudo só para si, que não quer repartir com ninguém. Isto pode acontecer na culinária, num jogo de futebol, enfim, em qualquer situação.
5. Lambe-cricas
Homem muito fraco, a quem falta virilidade e que anda sempre à volta das senhoras, mas para procurar companhia, e não sexo, o que era extremamente reprovável em termos sociais! Tido em fraca conta pelos homens ditos “a sério”. Aponta para a incapacidade de ter uma relação sexual como “debe de ser”. Quando muito, alude ao sexo oral. Do grego krikos, anel, a crica é, por associação visual, o órgão sexual feminino. No Porto, também se chama lambe-cricas a um cão de pequeno porte.
6. Lavajão
Porco, sem asseio. Diz-se do que come qualquer coisa e qualquer tipo de mistura. O prato de um lavajão é inqualificável, bem como o espaço que o rodeia, onde reina a lavajice. Come sem aprumo, sem quaisquer critérios e literalmente tudo e por qualquer ordem. Virá de lavagem, que era a comida (constituída por restos, alguns já em estado de putrefação) que se dava aos porcos. Também existe a expressão boca de lavagem, que descreve alguém desbocado ou intriguista.
7. Manguela
Preguiçoso, calão, malandro. O que não gosta de trabalhar. Possivelmente, provirá do gitano mangar, de raiz sânscrita, que significa pedir, mendigar e, num outro sentido, iludir, enganar, mantendo um ar sério, características que cabem direitinho no nosso manguela. O verbo será responsável pela criação dos neologismos manguelar, manguelice e, claro, manguela.
8. Morcão
Lorpa, estúpido. Pessoa lenta, lerda de ideias. Insulto que pretende comparar o visado com o bicho larvar da fruta, na medida em que é desprovido de inteligência. Morcón é também um enchido de carne magra, da região espanhola da Extremadura, feito com intestino grosso de porco.
9. Nhonhinha
Atado, palerma. Pessoa pouco desenrascada. Abreviatura de panhonha, lorpa, ou possível corruptela de choninha, por efeito exagerado de onomatopeia em nh, que pretende ironizar a forma nada eloquente de falar de um nhonhinha – alguém de poucas convicções, apalermado e nada firme nas suas opiniões e atitudes.
10. Trambalazana
Ou trombalazana, trambalazanas, trombalazanas. Desajeitado, homem apalermado, alto e corpulento, mas de uma forma desengonçada. A palavra refere também um individuo mal-encarado, rude, sendo sinónimo do popular trombudo. A explicação poderá estar na medicina popular, pois o termo, em certas regiões do Norte, designa também um ataque súbito, uma doença repentina e que pode deixar marcas.
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