O prémio, atribuído pela Academia Internacional de Gastronomia, destaca um livro que “resulta de um longo trabalho de investigação realizado na área da história da gastronomia”, refere uma nota da UC, hoje divulgada.
Em declarações à agência Lusa, Guida Cândido, que é também funcionária do departamento de Cultura do município da Figueira da Foz há cerca de 20 anos, embora atualmente em licença sem vencimento, manifestou-se “muito grata” pelo galardão e pelo “reconhecimento público” da sua obra, quer pelos seus pares, quer pela comunidade em geral.
“Muitas vezes, o reconhecimento é muito dado aos ‘chefs’ de cozinha e a investigação fica um bocado à margem. Mas o livro tem sido reconhecido e fico muito grata por isso”, declarou.
A investigadora, que de acordo com a nota da UC consultou “fontes antigas” para estudar “os hábitos alimentares dos últimos cinco séculos em Portugal, fazendo uma contextualização histórica de alguns pratos icónicos que se destacaram no receituário português ao longo de diferentes épocas e reinados”, argumenta que o livro que daí resultou mostra “muito mais do que a gastronomia”.
“É uma história da alimentação e dos patrimónios alimentares enquanto cultura de identidade”, argumentou Guida Cândido.
“Comer como uma Rainha – O receituário real do século XVI ao século XX” analisa cinco períodos relativos a cinco rainhas distintas – Catarina de Áustria, Maria Francisca de Saboia, Maria Ana de Áustria, D. Maria I e D. Maria Pia – e inclui 50 receitas “adaptadas aos tempos atuais”, revelou.
“Não é exatamente o que comiam à época, porque isso é impossível de recriar, os produtos alteram-se e não podemos ter a veleidade de fazer receitas exatamente iguais. São receitas de acordo com o que se publicava à época, a cozinha é dinâmica”, frisou Guida Cândido.
“O meu trabalho é tentar mostrar o que era possível fazer à época e a hierarquia da alimentação, porque comer é muito mais do que um ato de sobrevivência, é um ato social”, enfatizou.
Para além da investigação realizada, a autora também cozinha, compõe e fotografa os pratos que apresenta no livro, mesmo se garante que não é cozinheira ou ‘chef’.
“Nunca fugindo do rigor da investigação académica, quero atingir um público mais vasto. Agrada-me a estética e a fotografia sou eu que faço, porque é mais prático, a composição também e tenho gosto em cozinhar, sou eu que cozinho a maioria das receitas. E se eu consigo, toda a gente consegue, é uma cozinha que todos podemos praticar”, sublinhou Guida Cândido.
Com um percurso “relativamente curto” na investigação da história gastronómica – iniciado em 2012, na altura em que começou um mestrado em Alimentação: Fontes, Cultura e Sociedade, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC) – este é o terceiro prémio arrebatado por um livro de Guida Cândido, depois de duas anteriores distinções do seu livro “Cinco Séculos à Mesa – 50 receitas com História”, distinguido com o Best Gourmand Awards e Livro do Ano Cookbook Fair 2017.
Guida Cândido terminou o mestrado na FLUC com média final de 18,4 valores, o que lhe valeu a atribuição de uma bolsa de mérito do ensino superior.
Investigadora colaboradora do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos (CECH) da FLUC, é atualmente aluna bolseira da Fundação para a Ciência e a Tecnologia num programa de doutoramento da Universidade de Coimbra em Patrimónios Alimentares: Culturas e Identidades.
Segundo a nota da UC, o prémio atribuído pela Academia Internacional de Gastronomia vai ser entregue na quarta-feira, às 19:00, no Grémio Literário, em Lisboa, numa cerimónia presidida pelo primeiro-ministro António Costa.
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