O que deveria ser um convencional desfile, o terceiro do segundo dia da 49.ª edição da ModaLisboa, acabou por ser uma apresentação que juntou no mesmo espaço, por exemplo, a editora internacional da Vogue e uma das jornalistas mais importantes de moda do mundo, Suzy Menkes, e Mónica, uma jovem lisboeta que “sempre quis” conhecer a ModaLisboa e hoje decidiu assistir a um dos sete desfiles desta edição abertos ao público.
“A nossa ideia foi abrir ainda mais este espetáculo. Tirámos todos os bancos, não queríamos ninguém sentado, queríamos uma interação do público com a roupa”, explicou Alfredo Oróbio, da Awaytomars, à Lusa no final da apresentação da coleção para a primavera do próximo ano.
Os manequins ficaram de pé em cima de cubos, colocados à volta de um pequeno lago situado ao lado do Pavilhão Carlos Lopes, e o público, tal como a imprensa, ia circulando pelo espaço. Houve quem apenas observasse, quem tocasse nas peças, quem pedisse aos modelos que fizessem poses para as máquinas fotográficas e até quem tirasse ‘selfies’ durante a apresentação.
“Quando [a roupa] está na passerelle vê-se o coordenado [conjunto de peças], mas não se consegue perceber a complexidade que tem nos detalhes”, justificou Alfredo Oróbio, explicando que “a coleção inteira é em seda e as peças são feitas à mão, há um grande trabalho por detrás disso”.
Esta apresentação “tira a moda do pedestal e trá-la para qualquer pessoa”, à semelhança do processo criativo.
“É uma plataforma de cocriação aberta ao público, teoricamente qualquer pessoa pode fazer parte do processo criativo”, referiu Alfredo Oróbio, acrescentando que na criação desta coleção “participaram 718 pessoas de 56 países”.
Para a Awaytomars, a possibilidade de abrir a apresentação de hoje ao público “foi o casamento perfeito”.
Ao longo dos três dias, sete dos 23 desfiles são abertos, sendo os restantes acessíveis apenas por convite.
Para David Ferreira, que apresentou hoje a sua coleção, cuja inspiração foi “um ‘mix’ de geishas com fado”, abrir o desfile ao público causa “um impacto muito maior” e, além disso, “é uma maneira de educar sobre o que a moda é”.
O jovem designer de moda, cujas influências vêm de John Galliano, “na fase Dior”, de Alexander McQueen e de Christian Lacroix, deu o exemplo da sua família. “A minha família antes de eu ser designer pensava que [criar uma coleção] era um processo simples. Não sabia a complexidade que está à volta, o que é preciso para tudo isto acontecer”, contou.
Também Patrick de Pádua, que apresentou a coleção na sexta-feira, considerou a abertura de desfiles ao público “uma ótima ideia”. “Dá acesso a todos e pode trazer vantagens, em todos os aspetos, como potenciais compradores”, afirmou.
Opinião partilhada por Ana Duarte, da Duarte, cujo desfile decorreu na sexta-feira. “É uma iniciativa muito boa para conseguir alcançar um público que geralmente não conseguimos alcançar. Pode ser vantajoso para a marca e dá umas boas fotografias”, afirmou.
Os desfiles de David Ferreira, Patrick de Pádua e Duarte aconteceram, tal como a apresentação da Awaytomars, em volta do lago situado ao lado do Pavilhão Carlos Lopes.
Hoje, na zona ao pé do lago, a Lusa encontrou algumas pessoas que estavam na ModaLisboa pela primeira vez e outras repetentes. Todas elogiaram a iniciativa da organização.
Mónica, que esteve na apresentação de Awaytomars e no desfile de David Ferreira, confessando que “nunca tinha visto um desfile”, destacou a importância de “ver a moda nacional”, quando se “está sempre a ver as semanas da moda internacionais”.
As amigas Cristina e Mafalda já são ‘habitués’ e lembraram que “como os bilhetes são poucos, é uma forma de as pessoas virem ver”. “Este espaço é muito agradável, é de louvar e o tempo ajuda”, consideraram.
Sandra voltou hoje à ModaLisboa, ao fim de uns anos de ausência. “É moda acessível a todos, acho extremamente interessante todos poderem ver os criadores que estão na ModaLisboa”. Com ela estava a filha Maria que confessou gostar “de estar na moda e seguir as tendências”. Até hoje nunca tinha visto um desfile, o facto de esta tarde três serem abertos ao público colmatou essa falha.
A 49.ª edição da ModaLisboa decorre até domingo dentro e fora do Pavilhão Carlos Lopes.
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