A exposição é inaugurada no sábado, às 17:00, e é organizada por dois artistas que estiveram ligados a dois períodos distintos do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, Cristina Mateus, nos anos 1990, e Nuno Sousa Vieira, que tem trabalhado atualmente com a instituição, disse à agência Lusa o diretor do CAPC, Carlos Antunes.

Os dois artistas acabaram por pegar em três peças do arquivo e da coleção do CAPC e "convocaram um conjunto de 15 artistas, todos eles muito jovens, para pensarem num Círculo de Artes Plásticas que se adivinha para os próximos 60 anos", explanou.

Para Carlos Antunes, esta abordagem permite "pensar o Círculo de Artes Plásticas como uma continuidade e não como uma permanente exaltação do passado, que é o que as instituições tendem a fazer quando têm um grande peso da história".

"Não podemos viver à sombra da história. Temos que fazer coisas como se tivéssemos acabado de nascer ontem", frisou.

A exposição, intitulada "No dia seguinte está o agora", poderá ainda ser aumentada e transformada, tendo aberto candidaturas para que outros artistas proponham intervenções para aquela mostra, que poderão ser feitas após a inauguração, no sábado.

A exposição vai estar patente até 02 de fevereiro.

A comemoração dos 60 anos do CAPC termina em novembro de 2019, com o arranque da 3.ª edição da bienal Anozero, que tem como curador o brasileiro Agnaldo Farias.

Pelo meio, entre outras iniciativas, a instituição vai promover um colóquio sobre o CAPC e criar um projeto coletivo em que vai ter 61 propostas de artistas para as gerações futuras, e que serão guardadas numa cápsula do tempo, apenas aberta daqui a outros 60 anos.

Em 60 anos, a renovação do Círculo de Artes Plásticas a partir da bienal de Coimbra

Em 1958, um conjunto de quatro estudantes da Universidade de Coimbra decidiu criar o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC), na sequência de uma exposição da Queima das Fitas, em maio daquele ano.

Sem Faculdade de Belas Artes na cidade, os estudantes procuravam ocupar esse espaço em falta, criando aquilo que na altura seria "um ateliê coletivo" e convidando professores e artistas, contou à agência Lusa Emílio Rui Vilar, um dos quatro estudantes fundadores da instituição.

Para Emílio Rui Vilar, o CAPC era também um espaço que apresentava "alguma componente de rebeldia política, num em tempo em que as limitações eram muitas, por causa da censura".

Na altura, já havia uma grande atenção à arte contemporânea, mas Emílio Rui Vilar não tinha ideia de que a iniciativa de uns estudantes pudesse "durar 60 anos".

No entanto, a perspetiva de futuro "era sempre de um grande entusiasmo naquilo que fazíamos". "Creio que o Círculo de Artes Plásticas nasceu com os ingredientes certos e a verdade é que durou", frisou.

Para o atual diretor do CAPC, Carlos Antunes, a instituição sofreu várias alterações ao longo de 60 anos de atividade.

"Começou por ser um ateliê coletivo de uma classe de estudantes esclarecida e culta. A partir dos anos 70, surgem professores como Ângelo de Sousa e Alberto Carneiro, que cria uma transformação e permite fazer as coisas mais extraordinárias. Transforma-se completamente uma associação de pintores de cavalete, num espaço cada vez mais de exposição", salienta.

Carlos Antunes nota ainda que foi na direção da década de 1990, que o CAPC acabou por frisar a sua identidade como um espaço de exposição, que se mantém desde então, tendo hoje dois lugares, no Jardim da Sereia e junto às Escadas Monumentais.

Ao longo do tempo, criou-se também uma coleção, "que não é muito grande, mas que marca um tempo e permite leituras da história da arte contemporânea" em Portugal, frisa à Lusa, considerando que é na nos anos 1990 que a coleção do CAPC é mais forte.

Para Carlos Antunes, para uma instituição que tem o peso da história, a bienal, que arrancou em 2015, foi uma oportunidade para o CAPC "se revitalizar".

"Havia a escala local do CAPC, que dificilmente se conseguiria alterar e não quero alterar essa dimensão, mas tem de haver um outro momento de maior escala, que chegue a mais público e que dê à cidade uma dimensão e visibilidade que ela não tinha", salienta.

Nesse sentido, a bienal Anozero, que em 2019 vai para a sua 3.ª edição, permite a Coimbra "ganhar um lugar de centralidade" na arte contemporânea, sustenta.

De dois espaços com "250 metros quadrados", o CAPC trabalha agora, na bienal, com o Convento de Santa Clara-a-Nova, um espaço de "15 mil metros quadrados", que passou a ter uma parte afeta ao funcionamento da Anozero.