“O Triplo CD junta aos dois álbuns – um em estúdio, com folclore italiano, e outro ao vivo – a gravações inéditas [feitas] ao vivo em Itália, nessa altura, por volta de 1973″, disse à agência Lusa Frederico Santiago, coordenador da edição discográfica crítica da fadista.
“Ainda durante este ano sairá uma edição comemorativa dos 50 anos de um dos melhores álbuns da Amália, para mim o melhor, ‘Fados 67′”, adiantou Frederico Santiago.
Referindo-se este álbum, Santiago justificou: “É um disco de ‘fado puro e duro’, que foi gravado nos anos de máximo esplendor vocal da Amália, entre 1966 e 1968″.
“Nessas sessões, com o Conjunto de Guitarras de Raul Nery, Amália gravou muito mais do que os doze fados do LP e, pela primeira vez, teremos acesso ao conjunto dessas sessões”, adiantou o investigador.
Amália Rodrigues (1920-1999) realizou diversas digressões a Itália, onde atuou pela primeira vez, na década de 1950, no Teatro Argentina, em Roma, no âmbito dos Concertos do Plano Marshall, após a II Grande Guerra.
Em Portugal existem gravações dispersas da artista em italiano, nomeadamente na edição celebrativa dos seus 50 anos de carreira, em 1989, entre as quais dos temas “Canzone per Te”, “La Farantell”, “Il Cuore di Maria”, “Amor Damme Quel Fazzoletino”, “La Tarantella” e “Il Mare é Amico Mio”, esta última uma versão italiana de “Vou dar de Beber à Dor”.
Valéria Mendez, ex-professora de Língua e Cultura italianas no Conservatório da Madeira, disse à agência Lusa que foi em Itália que se tornou ‘amaliana’ e referiu a “enorme euforia italiana” pela fadista que, na altura, ainda conhecia mal.
Valéria Mendez estudava em finais da década de 1970 na Universidade de Perúgia quando se apercebeu da “extraordinária popularidade” da artista, que “os italianos adotaram como sua”.
“A Amália Rodrigues em Itália atuava em todos os principais teatros das grandes cidades, mas também nas outras cidades e localidades, fazendo o circuito dos artistas italianos. Ela foi, absolutamente, uma exceção”.
“Eu vi a Amália atuar no adro de uma igreja em Viareggio, na região da Toscana, com um enorme público, e era algo que só faziam os artistas italianos que estavam na berra”, sublinhou,
“A euforia pela Amália era enorme, quando a vi pela primeira vez ao vivo, no teatro Morlacchi, em Perúgia. Na primeira parte fiquei espantada com aquele entusiasmo e quase nem tomei atenção à atuação”, afirmou, acrescentando que se tornou “‘amaliana’ na segunda parte”, quando a escutou com toda a atenção.
Valéria Mendez disse que o álbum da artista “A Una Tierra Che Amo” era utilizado como material didático na cadeira de Literatura Italiana em diferentes universidades transalpinas, e citou o catedrático Armando Biselli, autor, entre outras obras, de “Il Rischio dell’Essere (poesia come suggerimento)”.
A professora referiu ainda o facto de Amália ter gravado em língua italiana e em quatro dialetos transalpinos, destacando a gravação de “Canto delle Lavandaie del Vomero”, que é “apontada como a primeira canção italiana, como é entendida nos cânones atuais”.
O álbum “A Una Tierra Che Amo” foi produzido pelo etnomusicólogo Franco Fontana, que apresentou Amália Rodrigues nas “Segundas-feiras da Música Popular”, no Teatro Sistina, em Roma, “sempre com um enorme êxito”.
A docente realçou “o importante papel” da criadora de “Povo que Lavas no Rio”, “na introdução da música brasileira em Itália”. A fadista “indicou vários artistas brasileiros, Roberto Carlos, Maria Bethânia, Caetano Veloso e Chico Buarque, pois conhecíamos muito bem, e faziam as primeiras partes de alguuns dos seus espetáculos”.
Valéria Mendez destacou a interpretação de temas de Amália por artistas italianos, nomeadamente Franco Simone e Milva, e parcerias que fez com nomes como Roberto Murolo, com quem gravou duetos, e Maria Carta.
“A popularidade de Amália era tão grande que a atriz Loreta Goggi ironizava em ‘sketches’ televisivos com o enorme êxito que ela tinha em Itália e imitava-a com muita graça”, referiu.
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