Ninguém estava à espera de tamanha procura. Mas a verdade é que não foram apenas algarvios que acorreram esta manhã à loja do alfarrabista algarvio, Carlos Simões, para poder escolher livros que hoje ali foram doados. A Associação de Valorização do Património Cultural e Ambiental de Olhão (APOS), responsável pelo processo de escoamento dos livros da loja, acabou por abrir as portas meia hora mais cedo após verificar as filas de pessoas que se formavam e que chegaram a dar a volta ao quarteirão.
“Desta avalanche não estávamos à espera”, disse à Lusa o vice-presidente da APOS, António Paula Brito, admitindo a meio da manhã que as expectativas das pessoas que continuavam à espera para entrar na loja fossem “superiores à realidade”.
Sérgio Sousa, residente em Olhão, é cliente do alfarrabista Carlos Simões e aproveitou a iniciativa para procurar livros na área da psicologia e da espiritualidade. “Tendo em conta que quando cá vinha encontrava poucas pessoas, não estava à espera de tanta gente hoje”, observou.
António Martins, 72 anos, residente nos Açores, aproveitou a estadia no Algarve para procurar alguns exemplares que lhe faltam na sua biblioteca pessoal.
Maria Bragança Serrão, 56 anos, deslocou-se desde Santarém com mais três pessoas em busca de livros na área do território para a biblioteca privada que está a preparar. “Consideramos que uma casa sem livros é uma casa sem alma. Faríamos até o dobro dos quilómetros para ter esta oportunidade única”, comentou.
Nas filas percebia-se que existiam grupos de amigos. Regina Gonçalves, estudante de arqueologia a Universidade do Algarve veio com mais seis colegas e partilharam lista de temas e autores para que todos pudessem procurar em diferentes pontos do espaço. À Lusa contou que não encontraram aquilo que mais queriam mas encheram alguns sacos com livros de cultura geral para uso pessoal e até para prendas de Natal.
Carlos Simões, atualmente com 73 anos e alfarrabista há 35 teve de abandonar a loja n.86 da Rua do Alportel, em Faro, em julho de 2015 sem ter conseguido levar consigo milhares de livros. Acabou por doar o acervo à Câmara Municipal de Faro que organizou uma operação de seleção e distribuição entre a Biblioteca Municipal de Faro e a biblioteca da Universidade do Algarve.
António Paula Brito, vice-presidente da APOS, explicou à Lusa que quando a associação pegou no processo restariam no espaço cerca de 50 mil dos mais de 500 mil livros que ali tinham sido deixados em 2015.
“Desde já há 15 dias que várias associações e instituições têm vindo cá buscar livros e nestes últimos dias também cidadãos”, comentou apontando que foram contactados, por exemplo por juntas de freguesias de outros pontos do país.
O alfarrabista Carlos Simões continua a trabalhar num espaço na Praceta do Rodolfo, em Faro, num espaço que anteriormente usava como apoio para armazenar o espólio.
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