
O presidente republicano Donald Trump, convencido de que os EUA estão a ser vítima de uma invasão de estrangeiros, transformou a luta contra a migração irregular numa das suas prioridades.
"Agentes do Departamento de Segurança Interna apresentaram-se primeiro na nossa sede de Dupont (...) Eles não tinham um mandado ou qualquer tipo de documentação, por isso foram recusados", disse à AFP Natasha Neely, vice-presidente dos restaurantes Pupatella, que possui várias unidades em Washington e arredores.
Na mesma tarde, apareceram na pizzaria em Capitol Hill, perto do Congresso, mas desta vez tinham um "aviso de inspeção", acrescentou.
De 6 a 9 de maio, as autoridades americanas "detiveram 189 imigrantes sem documentos e emitiram avisos de inspeção para 187 empresas locais durante uma operação intensificada de controlo migratório, visando estrangeiros criminosos que atuam em Washington e arredores", diz um comunicado da ICE, a agência de controlo da imigração, divulgado na semana passada.
"As inspeções não são nada incomuns", diz Natasha Neely, que não sabe por que o seu restaurante, onde "todos têm documentos", foi alvo.
"As solicitações geralmente são feitas por e-mail" e são puramente "administrativas", explica.
"Espinha dorsal"
Além da indústria alimentícia, a mão de obra estrangeira desempenha um papel fundamental em outros setores económicos, como agricultura, serviços ou construção.
"Os imigrantes, os sem documentos, são uma parte fundamental da nossa indústria. São a espinha dorsal (...) parte da nossa família e continuaremos a aceitá-los", disse Shawn Townsend, presidente da Associação de Restaurantes de Washington (RAMW, na sigla em inglês).
Mesmo antes da posse de Trump em janeiro, a RAMW "sabia que (os trabalhadores em situação irregular) seriam uma prioridade para o novo governo", acrescenta.
Por este motivo, a associação organizou workshops sobre os documentos que os patrões devem apresentar para certificar que uma pessoa está autorizada a trabalhar nos EUA.
O proprietário de um restaurante na capital, que recebeu a visita de agentes do Departamento de Segurança Interna há duas semanas, está preocupado.
"Não posso dar-lhes alguns documentos que vieram buscar. Verei quais serão as consequências. Talvez me multem ou me mandem para a cadeia. Não sei", diz, sob condição de anonimato.
"Sabemos que essas pessoas (o governo americano) não vão parar", afirmou.
Escassez de mão de obra
De acordo com um estudo do escritório de advocacia trabalhista Littler Mendelson PC, 58% dos patrões entrevistados temem que as políticas anti-imigração de Trump criem escassez de mão de obra.
Os setores mais preocupados são os de manufatura, hotelaria e alimentação.
Muitos funcionários do proprietário de um restaurante em Washington, que falou sob anonimato, não vão trabalhar por medo de serem detidos.
"Acho que provavelmente estamos a caminhar para uma escassez de mão de obra... os restaurantes terão muitas dificuldades", estima.
Shawn Townsend concorda. "O clima político em que nos encontramos, juntamente com os desafios económicos enfrentados por algumas das nossas pequenas empresas, está a contribuir para os níveis de ansiedade dos trabalhadores", afirma
Não houve prisões nas pizzarias da Pupatella, mas a rusga policial causou impacto.
"Sejamos honestos, se alguém aparece no local com um uniforme das autoridades, armas e coletes à prova de balas, (...) é inquietante", disse Natasha Neely, cujos funcionários já se prepararam para outra possível visita.
"Certificámo-nos de que todos os gerentes estejam cientes dos direitos do restaurante e de cada membro da equipa", conclui.
Comentários