Em cinco anos, Satoshi viveu momentos de dúvida, desconsolo e resignação. No final de 2013 a pesca foi retomada, mas com outro ritmo. "A regulamentação estabelecida pelo Estado não nos proíbe tecnicamente de pescar (salvo a menos de 20 km da central); limita a distribuição. A questão é saber em que estado está o peixe da região de Fukushima", explica à AFP este responsável do sindicato de pesca de Onahama, a cerca de 50 km das instalações nucleares devastadas.
Ele e os colegas zarpam duas vezes por semana para analisar cerca de 70 espécies de peixes. Só são vendidos os que apresentam um nível de radioatividade quatro vezes menor do que a norma estabelecida pelas autoridades japonesas (100 becqueréis por quilograma). Mas por mais que os pescadores e as autoridades tentem tranquilizar a população, a procedência de "Fukushima" é associada à "radioatividade".
Na altura do desastre atómico causado por um terremoto e por um enorme tsunami, cerca de 80% dos elementos radioativos descarregados pelo reator foram arrastados para o mar, de acordo com Shaun Burnie, um perito da organização ambientalista Greenpeace. O Estado afirma que tudo está "sob controlo". Baseia-se em campanhas de medições marinhas feitas pela empresa Tepco e pela Autoridade Reguladora Nuclear, de acordo com o protocolo aprovado pela Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA).
A situação não é uniforme, alerta Burnie. "A principal preocupação é o impacto num raio de 20 km da costa, porque é onde está concentrada a maior quantidade de césio radioativo", explica o especialista a bordo do "Rainbow Warrior III", na costa de Fukushima. A organização ambiental recolhe amostras do fundo do mar numa dúzia de lugares ao largo da costa nordeste. Esse material é analisado por dois laboratórios independentes, no Japão e em França. "Tentamos compreender o que acontece aqui, neste meio costeiro muito próximo. É certo que os pescadores já não vêm até aqui, mas o ambiente e as suas vidas foram afetados", afirma Burnie.
Peixe mais controlado
A Greeenpeace usa um submarino de controlo remoto equipado com instrumentos que vão criar mapas tridimensionais da distribuição de radioatividade em Fukushima Daiichi. "Algumas das áreas altamente contaminadas são muito pequenas, talvez um metro quadrado, mas outras medem centenas de metros de comprimento", detalha, acrescentando que isso explica porque certas espécies marinhas estão mais expostas à radiação. "Esta é uma informação muito importante para os pescadores, porque há áreas de segurança onde se pode pescar e vender peixe com segurança, enquanto em outras não. A nossa busca permite localizar o problema", acrescenta Jan Vande Putte, também da Greenpeace, ao embarcar no pesqueiro que faz a coleta das amostras.
O outro problema é a água. O acidente "continua a gerar dejetos nucleares, todos os dias é despejada no mar água muito contaminada. Constitui uma ameaça a longo prazo para o meio ambiente", alerta Burnie. No entanto, Burnie reconhece que o programa de controlo das pescas é "um dos mais avançados do mundo". "Gostaria que as pessoas tivessem uma imagem melhor do peixe de Fukushima, que um dia pensem que a nossa análise rigorosa transforma estes produtos nos mais seguros no mercado", conclui Nakano, com um sorriso.
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